Cada vez mais existem alertas sobre os riscos do uso do plástico e a forma como o mesmo está a arruinar o meio ambiente. Seja nos brinquedos das crianças, seja nos alimentos embalados que compramos, o plástico está sempre presente.
Mas não precisa de ser assim: existem alternativas e o i mostra-lhe todo um conjunto de novos produtos e atitudes mais ecológicas, de forma a assumir uma postura mais ‘verde’ no dia-a-dia.
O plástico, que demora 400 anos a decompor-se, está presente em praticamente todas as atividades do nosso quotidiano, sendo que as embalagens são responsáveis por 40% da nossa utilização, enquanto os bens de uso doméstico e de consumo correspondem a 22,5%, seguem-se os automóveis com 9%, equipamentos eletrónicos e elétricos com 6%, e 3% na agricultura, segundo dados apresentados pela Associação Portuguesa do Ambiente (Ver vídeo no final).
Os números preocupantes, no entanto, não ficam por aqui. Mais de 90% desses plásticos não são reciclados, refere a National Geographic. Desta forma, é uma decisão urgente encontrar alternativas para este material, na medida em que o mundo como o conhecemos está a ser consumido pela poluição que produzimos a níveis abissais.
721 milhões de garrafas de plástico, 259 milhões de copos de café descartáveis, mil milhões de palhinhas, 40 milhões de embalagens descartáveis e 10 mil milhões de beatas de cigarros, são os valores de produtos plásticos e descartáveis que os portugueses consomem anualmente, revela um estudo de 2017 da Seas At Risk, apresentado pela National Geographic. E a produção destes materiais está constantemente a aumentar, sendo que entre os anos de 2016 e 2017, subiu 5,6%, segundo a mesma pesquisa. Os dados dão conta de uma espiral de poluição que tende a não parar, cabe por isso a cada consumidor agir para que o processo se inverta.
“Quantos esfregões descartáveis já não poupei?”
Mind the Trash foi “a primeira loja online de desperdício zero em Portugal” e Catarina Matos, que fundou a empresa em 2017, falou com o i sobre a moda dos produtos ‘verdes’, um mercado em crescimento.
“Eu noto que as pessoas estão mais conscientes, apesar de ainda haver muito trabalho a fazer. Há os que realmente não ligam, porque já têm os hábitos tão intrínsecos que lhes custa muito fazer a mudança”, afirmou a responsável, sublinhado que os media têm um papel fundamental na partilha de informação sobre o tema, consciencializando a população “para a problemática do consumo desenfreado e do desperdício”.
Catarina Matos contou que os produtos mais procurados são o champô sólido, as palhinhas e as pastas de dentes.
Por outro lado, a fundadora da Mind the Trash reconhece que estes bens mais amigos do ambiente são também mais caros, o que limita o consumo destes produtos. “Recebemos muito feedback de clientes a dizerem que os produtos são caros”, admitiu, sublinhando, no entanto, que um dos focos das lojas ecológicas passa por criar produtos a longo prazo. “Nós, hoje em dia, centramo-nos muito na questão dos produtos muito baratos, mas com pouca qualidade e que precisamos de estar constantemente a comprar. É o consumo desenfreado. E é isso que estamos a tentar combater”, afirmou.
“Uma escova para a loiça custa 9,5 euros na nossa página e a minha já tem quase dois anos. Utilizo, ponho-a na máquina de lavar, volto a usar e está sempre pronta para utilizar. É nestas questões que depois penso: quantos esfregões descartáveis já não poupei?”, conta, desmistificando a ideia de que o descartável sai sempre mais barato.
Catarina Matos sugeriu ainda outros pequenos comportamentos que podemos adotar e que fazem uma grande diferença no dia-a-dia, como por exemplo “optar por uma garrafa de água reutilizável”, “usar guardanapos de pano em vez de guardanapos de papel, porque estes vêm embrulhados em plástico”, ou usar sabonete em vez de gel de banho.
Uma forma “mais rápida e mais conveniente de fazer compras ecológicas”
Diogo Lourenço, responsável pela comunicação da loja online ecológica Planetiers, concorda com a opinião de Catarina Matos, na medida em que considera que a população “acaba por cair no consumo” desnecessário, pois o “essencial” para uma vida mais atenta à sustentabilidade passa por “começar a pensar duas vezes antes de comprar, e fazer de entre as várias opções a melhor escolha”, afirmou ao i.
As pessoas, na opinião do responsável, devem “seguir a política dos cinco r’s”: Recusar, Reduzir, Reutilizar, Reparar e Reciclar, refere Diogo Lourenço, questionando se realmente precisam dos produtos e se conseguem reduzir o seu consumo.
Para Diogo Lourenço, “a resposta não passa pelo consumo, mas sim por aproveitar tudo o que já temos em casa. É uma questão de mentalidade”. E deu o seu próprio exemplo: “Vou comprar fruta todas as semanas e vejo se tenho algum saco em casa que possa fazer o papel do saco de plástico, por exemplo. Ou se, dando uma festa, será que preciso mesmo de comprar descartáveis, será que não posso usar aquilo que já tenho em casa?”.
A loja ecológica Planetiers tem como objetivo “tirar todas as possíveis barreiras a uma pessoa que queira começar a fazer uma mudança para comportamentos mais ecológicos”, explicou, acrescentando que o principal objetivo da empresa é o de criar uma maneira “mais rápida e mais conveniente de fazer compras ecológicas”.
Apesar de reconhecer que a atual procura de produtos ecológicos tenha começado como uma moda – graças aos media e aos influencers nas redes sociais – Diogo Lourenço acredita que “as pessoas acabaram por abrir um bocadinho a consciência”, não se traduzindo apenas em “modas esporádicas”.
De entre os mais de mil produtos que a loja tem, as “garrafas reutilizáveis, os copos menstruais e os sacos para fruta” são os produtos mais procurados, além das escovas de dentes de bambu, que são tendência atual, e produtos associados à saúde natural, como os champôs sólidos e a cosmética natural.
“Não somos contra o plástico, somos contra o plástico de utilização única”
Criada em 2009, a partir de uma necessidade pessoal, a Pegada Verde é outra loja online que tem como objetivo “apresentar produtos e soluções, que nas rotinas do dia-a-dia nos façam reutilizar em vez de utilizar o descartável”, afirmou ao i Sofia Catarino, uma das fundadoras do projeto.
“Há 12 anos, eu e o Sérgio vivíamos em Nova Iorque. Apesar de todo o entusiasmo de viver numa cidade como Nova Iorque, lidámos com uma realidade com muito lixo criado, diariamente. Nós saíamos de casa todas as manhãs e tínhamos uma muralha de sacos do lixo à porta”, refere.
Em 2009, havia menos informação disponível sobre produtos ecológicos reutilizáveis, e Sofia Catarino sentiu isso mesmo na pele, quando experimentou pela primeira vez um copo menstrual. “Não tinha absolutamente ninguém que me dissesse que já tinha experimentado ou usado, não tinha referências”, “comprei, usei e fiz a experiência sozinha”. Ao descobrir que resultava, surgiu a ideia, “porque não trazermos isto para Portugal?”, tendo surgido assim o projeto.
Apesar de, como Diogo Lourenço, admitir que esta mudança também é uma moda, Sofia Catarino afirmou que “as pessoas estão muito mais informadas, fazem as suas pesquisas, sabem exatamente o que querem e o que não querem, há uma preocupação não só com o produto em si, mas de onde vem e como é feito”.
“De repente, toda a gente despertou, houve um acordar generalizado, mas ainda não chegou a toda a gente”, referiu. E, apesar da loja não ser antiplástico, considera essencial a mudança de hábitos das pessoas. “Na Pegada Verde não somos contra o plástico. Foi uma inovação muito importante e continua a ser muito importante. Mas somos contra o plástico de utilização única, que usamos 20 segundos e vai durar 100, 200, 300 anos, isso não faz sentido”, contou.
“O nosso leque de oferta é muito nesse sentido. Temos garrafas reutilizáveis, em vez das garrafas de plástico, temos copos para o café em vez dos copos descartáveis. Tudo o que é fácil de usar, bonito e dá gosto de usar, por ser um produto de design”.
As tendências atuais são os cosméticos sólidos e a gama de cuidados de higiene. Escovas de bambu e palhinhas de inox são outros objetos que têm sido bastante procurados. Apesar de existirem produtos efetivamente mais caros, Sofia Catarino frisou que já existem “preços para todas as bolsas”.
Um pacote de “água que mata a fome e não o ambiente”
Ao contrário de uma mudança brusca de comportamentos, Sofia Catarino defende que “cada um deve fazer o que está ao seu alcance e com o qual se sinta confortável. Ninguém quer fazer as coisas sendo um sacrifício”. A mudança para uma vida mais ecológica e sustentável passa por realizar “pequenos gestos que podem ter um grande impacto na nossa vida e na de quem nos rodeia”.
Um desses pequenos gestos pode passar pela troca da garrafa de água de plástico que geralmente compramos. A embalagem ecológica, feita em cartão, criada pela marca Earth Water não só mata a sede de forma menos prejudicial ao ambiente, como ajudar a matar fome no mundo.
Esta espécie de pacotes de água, feitos com embalagens Tetra Pak, à venda nos supermercados da cadeia Aldi, está disponível em dois tamanhos, os de 50 cl custam 49 cêntimos e os de 1L são 69 cêntimos.
Todo o valor das vendas deste produto reverte para o Programa Alimentar Mundial das Nações Unidas, organização que tem o objetivo de combater a fome no mundo, ajudando mais de 90 milhões de pessoas em 83 países.
Mas um futuro mais ‘verde’ não pode depender apenas de modas, é necessário que a consciência coletiva, já em mudança, continue a evoluir para uma maior utilização de alternativas ao plástico. Basta acabar com as suas ‘relações’ antigas, que só promovem maus hábitos, e começar uma nova, ainda que seja devagarinho: Uma escova de dentes ou uma palhinha de bambu de cada vez.
* editado por Joana Andrade