Desculpem mas vamos cortar mais comboios


Era para levar a sério o pedido de desculpas do ministro das Infraestruturas no Parlamento quando reconheceu as dificuldades de quem usa transportes?


Menos comboios e bancos que saltam para se poder encaixar ainda mais pessoas. Era para levar a sério o pedido de desculpas do ministro das Infraestruturas no Parlamento quando reconheceu as dificuldades de quem usa transportes? Se era, bastou entrar a semana para surgirem anúncios contraditórios.

A CP revelou que entre 23 de junho e 7 de setembro haverá apenas dois comboios por hora na Linha de Sintra entre Rossio e Mira-Sintra/Meleças, em vez dos quatro atuais, porque entretanto começam as férias da escola. Até poderia fazer sentido se as atuais ligações chegassem e sobrassem ou se se seguisse, num próximo plenário, o anúncio do alargamento das férias de verão para dois meses e meio para todos os trabalhadores. Assim, parece apenas não haver vontade de resolver o problema. Não é preciso muito para constatar que existe, tal como são reais os atrasos e supressões e como é desgastante ter de viajar em pé ou esperar meia hora por um comboio quando se vive com o tempo contado.

Na Fertagus e no metro, a ideia pode ter todo o fundamento técnico, mas não revela grande sensibilidade: o plano passa por tirar bancos para que caibam mais pessoas nas carruagens. No metro, onde havia quatro lugares passa a haver espaço para carrinhos de bebé e outros volumes. Ou mais dez pessoas, o que em termos práticos dá aí umas 20 bem encostadas. São viagens curtas, desvalorizou numa entrevista recente o secretário de Estado Adjunto e da Mobilidade, interpelando a jornalista: “Já experimentou fazer uma viagem de metro em Londres? O tempo que demora e vai tudo sardinha em lata… As pessoas não andam de pé no autocarro? São viagens curtas, com durações até meia hora”. Depois de esperar pelo comboio em Sintra, quem sabe depois de deixar umas composições passar para se ir menos sardinha em lata, ainda ter de ir espremido no metro, largar o carrinho de bebé num canto e cruzar a multidão para ter direito a lugar sentado, qualquer viagem, por mais curta que seja em teoria, se torna um calvário. Em Londres terá sempre outra graça, sobretudo para quem é de fora e está em passeio. Mas também em Londres tem havido notícias de que os passageiros no metro estão a diminuir e agora está a ser implementado um controverso sistema de vigilância por wi-fi para gerir melhor o congestionamento. Reduzir os preços dos passes foi uma medida positiva, mas cada vez mais parece que se tentou construir a casa pelo teto em plena corrida eleitoral. Será preciso mais para fazer descolar de vez a mobilidade coletiva: quem vai render-se aos transportes públicos assim? O pior é se acaba por ser uma oportunidade perdida.