A lei da selva


Durante os anos em que frequentei a noite lisboeta, algarvia e portuense tive a sorte de nunca assistir a uma situação de violência extrema. Algumas zaragatas, alguns roubos, alguns atos de vandalismo – nada de muito grave. Mas já ouvi relatos de pessoas próximas verdadeiramente arrepiantes – como o caso de um brutamontes que espancou…


Durante os anos em que frequentei a noite lisboeta, algarvia e portuense tive a sorte de nunca assistir a uma situação de violência extrema. Algumas zaragatas, alguns roubos, alguns atos de vandalismo – nada de muito grave. Mas já ouvi relatos de pessoas próximas verdadeiramente arrepiantes – como o caso de um brutamontes que espancou um infeliz por ser de uma terra rival e, no fim, com a vítima inanimada, lhe atirou com um canteiro de cimento para cima. Quem me contou isto não soube se o homem sobreviveu ou não.

É evidente que a noite cria situações explosivas e o álcool funciona como catalisador da irracionalidade e da violência. Basta alguém ter olhado para a namorada de quem não devia ou, em situações mais bizarras, basta a embirração de um arruaceiro para o caldo estar entornado. Há quem passe a semana no ginásio a exercitar os músculos e depois queira dar-lhes algum uso ao fim de semana.

Tem por isso toda a razão o meu amigo e profundo conhecedor da noite Vítor Rainho em defender a criação de uma polícia especial para lidar com as situações que ocorrem em contexto de diversão noturna.

Mas mesmo não existindo tal unidade, não se compreende a negligência das autoridades perante o que se passa nos bares e discotecas e suas imediações. As situações graves sucedem-se e pouco parece estar a ser feito para que sejam evitadas. Há uns meses seis rapazes ficaram feridos nas Docas numa rixa entre gangues. Este fim de semana o cenário repetiu-se, dois suspeitos, ainda em fuga, esfaquearam três jovens na cara. Local: parque de estacionamento do Urban Beach, que pelos vistos ultimamente se transformou numa espécie de arena de combate a céu aberto.

Como é possível que, depois dos tristes acontecimentos que já ali se tinham passado e que foram objeto de tanto debate público (as brutais agressões por parte de seguranças daquela casa), a história se repita? É verdade que tudo isto se passa a horas pouco recomendáveis, mas as autoridades têm a obrigação de estar mais atentas. Não podemos aceitar que num setor que movimenta tantos milhões ainda vigore a lei da selva.