Sensibilidade e bom senso


Fosse noutro tempo e outro primeiro-ministro a classificar uma greve de selvagem e ilegal e cairia o Carmo, a Trindade e tudo à volta


A verdadeira pérola da nossa democracia, o Bloco de Esquerda, e a sua inefável líder, Catarina Martins, vão prosseguindo no caminho do poder, passo a passo, com segurança, treinando já o discurso governamental.

Comentando o braço-de-ferro entre enfermeiros e o governo de António Costa, Catarina Martins afirmou com voz doce: “O que é necessário é o bom senso de ambas as partes”, acrescentando que “o Ministério da Saúde já fez algumas cedências e até deu avanços no reconhecimento do grau de especialista.” E lançou mesmo uma crítica aos grevistas: “Ter um caderno reivindicativo que vai crescendo à medida que as negociações são feitas torna difícil encontrar um caminho para o Sistema Nacional de Saúde.” Clara e concisa.

Já quanto ao PCP, um silêncio ensurdecedor.

As muletas do governo PS abanam, de vez em quando, mas mantêm-se firmes. Em nome do bom senso, claro.

Fosse noutro tempo e outro primeiro-ministro a classificar uma greve de selvagem e ilegal e cairia o Carmo, a Trindade e tudo à volta.

Quanto também ao facto de este governo ter enfrentado já mais greves do que o amaldiçoado governo de Passos Coelho, comentários para quê?

Ainda no capítulo da saúde, com a urgência pediátrica do Hospital Garcia de Orta a correr o risco de fechar à noite, por falta de médicos, o presidente da administração do hospital lá invocou o bom senso de todos, nomeadamente dos utentes, que devem previamente analisar o tipo de urgência e recorrer aos centros de saúde, em casos menos graves.

Terá sido também o bom senso a levar o governo a adiar, mais uma vez, a obra de construção do IC35, que deveria ligar Penafiel a Entre-os-Rios, substituindo uma estrada nacional onde, em 18 anos, já ocorreram 500 acidentes que causaram 700 vítimas, entre mortos e feridos. Prometido em 2001, garantido para 2008, é agora atirado para 2030! As populações que esperem só mais 11 anos.

E é por tudo isto, certamente, que o ministro das Finanças se vangloria por mais um défice recorde: 0,6% do PIB!

“Portugal está de parabéns!”, afirmou Centeno.

Em nome do bom senso, todos nós deveríamos responder em coro: “Parabéns, Portugal!”

 

Jornalista