EUA. O muro de Trump ainda não foi construído mas já divide os americanos

EUA. O muro de Trump ainda não foi construído mas já divide os americanos


Trump continua decidido a construir um muro na fronteira com o México. O choque com os congressistas democratas não lhe permite obter os fundos que considera necessários e pode até levar a uma nova paralisação parcial do governo federal


“Alguém acredita mesmo que não vou construir o MURO? Fiz mais nos meus primeiros dois anos que qualquer presidente!”, escreveu este domingo no Twitter o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A proposta de construir um muro na fronteira com o México foi central na campanha eleitoral do atual presidente, que continua irredutível na sua posição. Ao ponto de ter levado ao mais longo encerramento parcial do governo federal norte-americano na História, durante 35 dias, deixando mais de 800 mil funcionários sem salários e vários serviços públicos inoperacionais.

Apesar do recuo de Trump esta sexta–feira, tendo assinado medidas para o financiamento a agências estatais durante três semanas, não há solução à vista para o impasse. Tudo indica que o encerramento parcial do governo federal continuará dia 15 de fevereiro.

Os congressistas democratas continuam a recusar conceder os 5,7 mil milhões de dólares que Trump pede para o seu muro. Nancy Pelosi, líder dos democratas no Congresso, qualifica a construção do muro de “imoral”. Considera que não é uma medida eficaz para proteção das fronteiras, apenas uma “barreira entre a realidade e os eleitores [de Trump]”.

Trump respondeu à líder dos congressistas democratas referindo no Twitter: “Se Nancy Pelosi considera que os muros são ‘imorais’, porque não está ela a pedir que se removam todos os muros existentes entre os EUA e o México, até os mais recentes, construídos em San Diego a seu pedido [dos democratas]?”

Muitos dentro do próprio partido do presidente reconhecem a dificuldade de romper o impasse. “Há a possibilidade de estarmos no mesmo caldo daqui a três semanas”, admitiu o senador republicano Kevin Cramer. 

Já o senador democrata Dick Durbin, que faz parte do comité bipartidário encarregado de estabelecer um acordo nas próximas três semanas, abriu as portas ao compromisso quanto ao aumento dos fundos para barreiras fronteiriças – mas só se os republicanos aprovarem uma solução permanente para os chamados Dreamers, filhos de imigrantes ilegais que chegaram muito novos aos EUA. Os Dreamers eram protegidos anteriormente pelo programa DACA, que foi rescindido por Trump em 2017, e enfrentam a possibilidade de deportação do país onde cresceram.

“Se o presidente ou a sua linha dura resolverem a situação com mais compaixão, penso que isso ultrapassaria os problemas que temos com barreiras”, considerou o senador democrata Joe Manchin. No entanto, John Thune, o whip republicano do Senado (responsável pela garantia do quórum nas votações), diz que essa “é uma discussão a longo prazo” e que demorará mais tempo que as três semanas de negociação.

Face às dificuldades, Trump tem sugerido frequentemente a possibilidade de declarar estado de emergência – que, caso fosse instaurado, permitiria ao presidente aprovar financiamentos sem passar pela Câmara dos Representantes. No entanto, até legisladores republicanos dizem que o processo seria bloqueado pelo poder judicial. O senador republicano Marco Rubio afirmou à NBC: “[Trump] ficaria à mercê de um tribunal distrital algures, e depois de um tribunal de segunda instância. Poderia, de facto, não ser considerado um pedido sustentado, se analisarmos algumas outras decisões.”

Com cada vez menos opções, o presidente dos EUA vê-se perante crescente inquietação e crítica dentro do seu partido. Muitos republicanos mostram-se reticentes quanto a um novo encerramento parcial. O líder dos republicanos no Senado, Mitch McConnell, já disse favorecer “algum tipo de discussão bipartidária”. Marco Rubio garantiu à CNN que o encerramento do governo federal não é “uma boa moeda de troca”. O senador republicano diz que se trata de uma estratégia que geralmente não favorece “o agressor”.

De facto, parece que a estratégia para pressionar os democratas se virou contra Trump. Uma sondagem conjunta da NBC e do “Wall Street Journal” regista um aumento de 7% no descontentamento dos eleitores. Além disso, 50% dos americanos culpam Trump pelo encerramento do governo, com apenas 37% a colocar a responsabilidade nos congressistas democratas. 

A oposição a Trump tem passado a ideia de que esta pausa no encerramento foi uma derrota negocial da administração norte-americana. O líder dos senadores democratas. Chuck Schumer, espera que Trump e o seu partido tenham “aprendido a lição” sobre os perigos políticos desse encerramento. Schumer garante que os democratas e Trump têm “muitas áreas” de consenso no que toca à segurança fronteiriça, mas não sobre um muro.