COMO SE SABE, os programas desportivos tomaram conta de todos os serões televisivos dos canais de informação. A TVI24, a SIC Notícias, a RTP3, a CMTV dedicam os horários nobres da noite à transmissão de infindáveis debates sobre futebol.
Uma novidade relativamente recente são as discussões à volta dos dirigentes e dos “casos” envolvendo os clubes. O Benfica tem estado especialmente na berra com os casos dos emails e e-toupeira; o Sporting esteve recentemente em enorme destaque com as diabruras de Bruno de Carvalho e o assalto a Alcochete; e o FC Porto, que deu o pontapé de saída para estas discussões à volta do futebol, com o caso Apito Dourado, permite-se hoje dar lições de moral aos adversários.
E DEPOIS são as intermináveis discussões sobre as arbitragens, com os lances discutidos à lupa (chegam a fazer–se ampliações gigantes dos bicos das botas dos jogadores!), “replicando-se” mesmo o videoárbitro, com a colaboração de árbitros reformados que analisam as decisões dos colegas. Uma loucura!
A discussão sobre o futebol propriamente dito já quase desapareceu. Só ocupa uma pequena parte dos debates televisivos. O grosso da discussão é sobre a nebulosa de gente que gira à volta do campo de jogo e sobre as arbitragens.
NESTE PANORAMA, julgo que a Liga de Futebol deveria fazer um esforço para recentrar a discussão sobre o próprio jogo. Sobre o que se passa dentro do campo. Sobre os jogadores, sobre as jogadas, sobre os golos. É nesse sentido que faço algumas sugestões. A Liga já elege o futebolista do ano e o futebolista do mês. E julgo que também o jogador revelação do ano e o do mês. Tal como acontece nas competições da UEFA.
Mas que tal a liga começar a eleger o futebolista da jornada? E o golo da jornada? E a defesa da jornada? E, já agora, o onze ideal do mês (pois o onze da jornada banalizaria o tema)? E o golo do mês? E a defesa do mês? E, no fim da época futebolística, escolher-se-iam o golo do ano, a defesa do ano, o onze do ano.
E ESTAS ELEIÇÕES deveriam ser alargadas, de modo a serem muito participadas, envolvendo jornalistas e comentadores – o que faria com que fossem objeto de debate nos programas desportivos. Mostrar-se-iam os golos, as defesas, as performances dos jogadores – e tudo isso seria debatido e analisado.
Já não digo abrir as votações ao público pois, aí, o fator clubismo adulteraria as coisas. Os adeptos dos grandes clubes interviriam maciçamente, falseando os resultados.
De qualquer modo, o envolvimento de muita gente nestas diversas eleições levaria a centrar mais a atenção dentro do campo, no jogo e nos seus protagonistas, roubando espaço aos cansativos debates sobre casos e mais casos – que exacerbam os ânimos, estimulam o conflito e, no limite, levam à morte do futebol, ao desviarem as atenções do jogo.