Titulares de cargos públicos só vão poder receber prendas até 150 euros

Titulares de cargos públicos só vão poder receber prendas até 150 euros


Os partidos estão todos de acordo quanto ao teto máximo menos o PSD, que quer todas as ofertas registadas


A comissão parlamentar para o Reforço da Transparência no Exercício de Funções Públicas já chegou a um consenso mínimo de que as prendas dadas a titulares de cargos políticos acima de 150 euros devem ser registadas e entregues à instituição que representam.

Ainda não houve uma votação sobre o tema, mas há “um consenso de que é para integrar” na legislação, diz o deputado socialista Pedro Delgado Alves.

“Há consensos em relação a algumas perspetivas”, admitiu também o deputado do PCP Jorge Machado, apontando um dos pontos em aberto e que, hoje, pode não ficar fechado na reunião da comissão: o que fazer com as chamadas bagatelas como, por exemplo, as canetas que um titular de cargo público recebe numa visita?

A deputada do CDS Vânia Dias da Silva sintetiza o debate que se vai fazendo lentamente na comissão: “Que haja um valor mínimo até ao qual não tem de se mencionar ou depositar e um valor máximo a partir do qual tem de se mencionar e depositar. Cento e cinquenta euros são o ponto de partida”. 

Neste ponto, só o PSD parece ficar isolado na discussão. “Na nossa perspetiva não deve haver um valor definido para que o titular de cargo público possa ficar com o bem. O importante é ficar registado e poder ser sindicado”, explicou ao i o deputado social-democrata Álvaro Batista. 

Na reflexão feita nas últimas semanas, os deputados concluíram que é preciso estabelecer valores mínimos que não exigem registo. “A partir dos 20, 25 euros é registável e a partir dos 150 euros é registável e entregue à instituição”, esclarece Vânia Dias da Silva sobre o momento em que ficou o debate na comissão.

Quer isso dizer que uma oferta no valor de 20 euros a um político ou titular de cargo público não precisa de ser registada? Aparentemente, ainda não existe uma solução final e o PSD, por exemplo, considera que a maioria das ofertas devem ser registadas para escrutínio público. A título pessoal, Álvaro Batista acrescenta que “20 euros já é uma coisa que tem valor”. Para o deputado, o alcance de bagatela ou o valor insignificante sem registo oficial está ao nível da “caneta da cooperativa  [oferecida numa visita] e que vale 50 cêntimos”.

 

Chefes de gabinete na lista

Entretanto, a comissão já aprovou, com os votos do PS e do PSD, o alargamento da obrigatoriedade da entrega de declarações de rendimentos no Tribunal Constitucional aos chefes de gabinete, mas deixou de fora a restante equipa de nomeados, entre assessores e adjuntos. Para Pedro Delgado Alves, “os chefes de gabinete são os únicos que, no limite, podem ter algumas competências delegadas”; por isso, os demais responsáveis, nomeados para um gabinete, ficaram de fora. Contudo, já existe a prática de os assessores fazerem uma declaração de “inexistência de incompatibilidades”, como lembra ao i o parlamentar socialista.

Hoje, os deputados devem discutir alguns detalhes do que deve ficar registado na declaração de rendimentos, além de avaliarem incompatibilidades e impedimentos dos titulares de cargos políticos e públicos.

A comissão iniciou funções em abril de 2016 e, por isso, foi a única que não foi suspensa durante o debate do Orçamento do Estado para 2019. A meta é obter resultados até março, mas para o PCP “é arriscado” garantir que haja conclusões até lá.