E se Mélenchon se chamasse Marine Le Pen?


Não é, pois, de estranhar que Bolsonaro vá cilindrar o homem do PT, depois de este ter demonstrado que é farinha do mesmo saco de Temer e companhia


Os populismos são sempre encarados de modo diferente consoante se fale de direita ou de esquerda. Bolsonaro, criatura pela qual tenho o maior desprezo, atendendo a algumas das coisas que defende, não é diferente dos populistas de esquerda, por muito que doa a muita gente. Se o que se passou em França esta semana tivesse sido protagonizado por Marine Le Pen, o que se teria dito? Que era uma fascista que nem as polícias e os magistrados respeita, mas como foi Jean-Luc Mélenchon que agrediu agentes da autoridade, entre polícias e procurador da Justiça, pouco se ouve falar do assunto.

Mas vamos à história. O antigo candidato à presidência francesa está a ser acusado de criar empregos fictícios com dinheiros de Bruxelas. As autoridades encarregadas de investigar o caso procuraram recolher documentos que provem a marosca e foi então que entrou em cena, filmando ele próprio o acontecimento para as redes sociais, Mélenchon, o radical de esquerda do movimento França Insubmissa. Gritando “a República sou eu”, o ex-candidato ao Eliseu empurrou polícias, um dos quais foi mesmo derrubado, e tentou por todos os meios impedir o procurador de fazer o seu trabalho. Volto a repetir: se a história envolvesse Marine Le Pen, quantas capas não teriam sido feitas? Mas como é um radical de esquerda, muitos assobiam para o ar, como se a história não tivesse existido.

Enquanto existirem dois pesos e duas medidas para retratar a mesma realidade, é natural que os tais radicais de direita ganhem espaço de manobra. Não é, pois, de estranhar que Bolsonaro vá cilindrar o homem do PT, depois de este ter demonstrado que é farinha do mesmo saco de Temer e companhia. Sem referências, as pessoas abrigam-se onde se sentem mais seguras. E muitas delas acham que generais na rua significa segurança. O que, como sabemos, é tão estúpido como fingir que à esquerda não há filósofos encartados ou de pacotilha que querem o poder à força. É bom que fujamos de ambos.