1. No gabinete do ministro Pedro Marques há razões para festejar. A estratégia do governo para as infraestruturas públicas em geral e para a ferrovia em particular não é nada menos que épica. Se, em Monchique – com dezenas de casas destruídas, populações em fuga ou retiradas à força de suas casas e a maior área ardida da Europa até ao momento -, o governo se achou no direito de reclamar um “sucesso”, uma supressãozinha de comboios aqui, uma falta de manutenção acolá, uma linha férrea nacional à beira do colapso ou uma CP completamente abandonada à sua sorte valem à ação de Pedro Marques, no mínimo, o epíteto de “êxito retumbante” – para pedir emprestado o vocábulo aos marketeiros socialistas. Tenho a certeza de que, por esse país fora, os portugueses que andam de comboio sentem bem na pele o sucesso da política do governo.
Há uns dias, um jornal escrevia que na Linha de Cascais, por exemplo, há infiltrações nas zonas dos passageiros ou que qualquer pessoa (assim tenha vontade) pode aceder ao maquinista porque até as fechaduras das cabinas de condução estão estragadas – isto para não falar de problemas de manutenção mais graves do material circulante e das falhas de horários e supressões sistemáticas com que os passageiros são brindados habitualmente.
Com tantos e tão assinaláveis feitos, Pedro Marques continua firme no seu rumo político. Resolve pouco, decide nada. E não é só no caso de Cascais: é um problema nacional.
Como já aqui se discutiu, a Linha de Cascais tinha um investimento preparado e pronto a arrancar. Por obsessão ideológica e sob as más influências do PC e do BE, o governo decidiu desfazer tudo o que estava feito. Esperámos três anos por uma alternativa. Que nunca chegou. E temo que nunca venha a chegar. A Linha de Cascais é um exemplo, entre dezenas, de um país feito refém das motivações ideológicas do governo de coligação das esquerdas. Isso é visível na morte da ferrovia de norte a sul, no mau estado da rodovia nacional, no colapso da saúde, na falta de tudo na justiça.
Para sermos justos, Pedro Marques não está sozinho. É mais um daquela espécie de representantes políticos que, em todos os partidos, tiram força à política executiva, degradam a autoridade do governo que supostamente servem e quebram os laços de confiança entre eleitores e instituições representativas. Gente que não faz História nem tão pouco fará parte dela. Empatas.
Portugal está cheio disto. No poder e na oposição.
2. Voltando à Linha de Cascais, e porque, no que depender da câmara, os cascalenses não ficarão sem transporte público coletivo de passageiros para Lisboa, estamos a fazer a nossa parte. Enquanto os empatas cruzam os braços perante a inevitabilidade da falência da linha de comboio, aqui trabalha-se para se encontrarem soluções que vão ao encontro das necessidades das pessoas. Dentro da nossa política de base local, a solucionar em Cascais problemas nacionais, estamos a dar passos muito concretos na captação de investidores para a linha. Há interessados e em breve podem formalizar-se propostas de grupos com capacidade técnica e poder de fogo financeiro para alavancarem a reforma desta importante infraestrutura ferroviária.
Tal como já acontece com o modelo de transporte público rodoviário no concelho, temos a garantia por parte destes investidores de que o modelo para a Linha de Cascais passará por dois eixos: melhoria da qualidade do serviço e baixa dos preços praticados, como estava, aliás, acordado no modelo anterior, proposto pelo governo de Pedro Passos Coelho. Os leitores mais céticos desconfiarão. Mas para esses deixo apenas uma ideia: se uma linha decadente e menos orientada para as necessidades dos passageiros do que para as do seu operador consegue ser uma das mais rentáveis da CP, imaginem o potencial de crescimento depois de feito o investimento que a torne mais segura, mais rápida, mais sustentável e verdadeiramente mais solução de mobilidade para as famílias. Tenho poucas dúvidas de que, perante uma oferta deste género, muitos cidadãos pensarão duas vezes antes de se aventurarem com o carro na A5 – para onde, valha a verdade, quase todos são empurrados por falta de alternativas -, onde viajam entre intervalos de congestionamento até ao entupimento final na entrada da capital.
3. Há gente que tem uma lata maior do que a dívida pública portuguesa. É o caso do dr. Louçã, homem com profícua obra na academia mas que, na vida política, se limitou a deixar Catarina Martins como legado. Poucochinho. O oráculo revolucionário, transformado em quadro do Banco de Portugal por António Costa, avisa-nos que vem aí “um novo colapso financeiro” no qual entraremos “em condições muito mais degradadas do que as que tínhamos em 2007-2008.” É preciso descaramento: então Francisco Louçã não é um dos pais da atual solução governativa? E não é Louçã um dos seus faróis políticos e ideológicos?
Qual Varoufakis, já faltou mais para o vermos na capa da “Paris Match” agarrado a uma flûte de champanhe francês.
4. Por falar em Louçã e Varoufakis, é injusto o ataque ao ministro Centeno pelas declarações sobre a saída da troika da Grécia. O governo Syriza, a tal janela de esperança para a Europa de que António Costa falava há uns anos, levou 11 anos a tirar a Grécia da bancarrota. O governo de Pedro Passos Coelho demorou três, baixando o défice socialista de mais de 11% para 3%. Retirou o país da falência socialista, mas não teve direito a elogios dos socialistas. Antes pelo contrário.
5. E já agora: onde anda o PSD, o seu líder e os seus vice-presidentes? Emigraram, já deitaram definitivamente a toalha ao tapete e apenas criticam e fazem oposição aos anteriores dirigentes do PSD? É que, em política, os empatas tendem a sobreviver, mas os seus representados perdem e sofrem.
Escreve à quarta-feira