Uma cena burlesca


O facto de se ter agarrado a um papel que não significava nada, como um náufrago que se agarra a um pedacito de madeira julgando poder salvar-se, diz muito sobre o estado mental de Bruno de Carvalho.


Na sexta-feira passada, Bruno de Carvalho apresentou-se no Estádio de Alvalade com um papel na mão, dizendo ter uma decisão do tribunal que invalidava a assembleia geral que o destituíra, reclamando que lhe devolvessem a presidência. Os que lhe haviam usurpado o poder deviam deixar as instalações do clube e entregarem-lhe o lugar.

A situação era insólita. Qualquer indivíduo normal, perante uma decisão judicial que o repunha como presidente de uma instituição da qual tivesse sido deposto, falaria com o seu advogado, este falava com o advogado da parte contrária, e estabeleceriam uma forma de proceder (ou não) ao cumprimento da lei.

Quem se lembraria de aparecer de papel na mão a reclamar o poder?

 

Pior do que isso, porém, é que o papel que Bruno de Carvalho levava na mão não era nada do que ele dizia ser. Tratava-se do registo uma providência cautelar que ele entregara com vista a recuperar a presidência do clube. O tribunal ainda não se pronunciara!

O episódio assumia, assim, aspectos burlescos. Bruno de Carvalho sabia ou não o significado daquele papel? Se sabia, custa a entender como se dispôs a protagonizar uma cena que acabaria inevitavelmente com a sua humilhação pública. Se não sabia, como se pôs a caminho de Alvalade com um documento de que desconhecia o alcance?

Custa muito a perceber.

 

Mesmo que o tribunal lhe tivesse devolvido o poder, Bruno de Carvalho devia ter consciência de que já não dispõe de condições para voltar à presidência. O Sporting já está noutra. Sousa Cintra está a colar os cacos, conseguiu o regresso de alguns jogadores, mostra serenidade e bom senso naquilo que faz e diz – pelo que nenhum verdadeiro sportinguista desejaria neste momento o regresso de Bruno de Carvalho.

Nem os seus apoiantes quereriam!

Quando o clube parece em vias de reentrar nos carris, depois de se libertar de um ambiente de loucura que levou adeptos a agredirem jogadores, que fez com que o nome do clube fosse falado de manhã à noite nas TVs pelas piores razões, que assistiu à maior confusão interna de que há memória, com órgãos paralelos a reclamarem o poder, quem desejaria o regresso do homem que o conduziu ao caos?

Quando o Sporting está à beira de alcançar a paz interna, quem quereria o regresso da guerra civil?

 

O facto de se ter agarrado a um papel que não significava nada, como um náufrago que se agarra a um pedacito de madeira julgando poder salvar-se, diz muito sobre o estado mental de Bruno de Carvalho.

É hoje um homem desfeito. Afogou-se no poder que construiu, mostrando total impreparação para o exercer. O poder enlouqueceu-o. Já não pensa, só se agita como um espantalho que perdeu tudo e não suporta olhar para as mãos vazias.