O presidente da Associação Lisbonense de Proprietários (ALP) acusa Ricardo Robles de querer promover a atividade de alojamento local no seu polémico prédio em Alfama. Ao i, Menezes Leitão diz que “só isso é que explica a utilização de um prédio que está dividido em apartamentos entre 20 a 40 metros quadrados”. O responsável vai mais longe, garantindo que “ninguém está a pensar em fazer um contrato de longa duração num apartamento com uma tipologia tão pequena”.
“Tudo isto foi pensado desde o início, pois o prédio foi convertido para promover o alojamento local”, acusa Menezes Leitão. Uma decisão que, no entender do presidente da ALP, representa um direito de qualquer proprietário, mas inaceitável para um vereador que defende o controlo do alojamento local e critica a especulação imobiliária. “Não aceitamos que alguém que esteja a fazer isso depois venha para a praça pública criticar lei que ele próprio utilizou”, refere ao i.
A verdade é que o prédio em Alfama do vereador do Bloco de Esquerda e da irmã, comprado por 347 mil euros e posto à venda por 5,7 milhões era descrito no anúncio da Christie’s como o investimento ideal para “short term rental”, ou seja, alojamento local.
No mesmo anúncio, que foi entretanto retirado da internet, era também promovida a “oportunidade única em área turística no coração de Lisboa”.
O edifício com 728 metros quadrados conta com 11 apartamentos – todas as frações têm “cozinha equipada, vidro duplos, ar condicionado e piso em madeira tábua corrida” – e três lojas.
Mas as acusações não ficam por aqui. Menezes Leitão diz ainda que quer que o vereador explique como é que fez um contrato de oito anos a inquilinos já idosos. “Se eles são idosos, com base na lei Cristas, têm direito a um contrato definitivo. Como é que este contrato passou para oito anos? Isso é completamente ilegal”, refere ainda o presidente Associação Lisbonense de Proprietários.
Menezes Leitão apontou ainda o dedo ao facto de o vereador ter despejado os inquilinos do restaurante (ver texto ao lado).
Preços de mercado Também para o responsável é criticável a decisão de Ricardo Robles de pôr um outro imóvel – na Rua do Conde de Redondo, onde o vereador bloquista vivia até há pouco tempo – no mercado de arrendamento por 1300 euros. “Ter os imóveis no mercado de arrendamento é muito positivo e, nessa situação, deve-se pedir os valores de mercado. Agora não venham dizer que os outros não podem pôr os seus imóveis ao preço de mercado quando eles o fazem. É de uma total incredibilidade. Se defende arrendamentos controlados então que aplique isso aos seus imóveis e não implemente aquilo que tanto criticou”, disse ao i.
Recorde-se que, este fim de semana, o “Observador” revelou há um anúncio do portal imobiliário Casa Sapo relativo a essa casa de Robles onde se lê “Arrenda-se”. O valor de 1300 euros foi confirmado pelo próprio ao jornal online.
“É uma total hipocrisia do vereador e do partido que o apoia – que nem sequer foi capaz de retirar o seu apoio. E ele nem sequer foi capaz de se demitir. O que se está a verificar é que o vereador está a praticar as coisas que tem vindo a condenar”, salienta Menezes Leitão, que dá como exemplo, o que se viveu durante a campanha eleitoral, quando Ricardo Robles criticou uma proposta de Assunção Cristas que consistia em aproveitar os terrenos da Feira Popular para construir, com privados, pelo menos mil fogos, de T0 a T4, para arrendamento com custos controlados – as rendas iriam até aos 1.350 euros. “No fundo, o que se passa é que este vereador usou a lei de Assunção Cristas que, no nosso entender, é uma lei justa porque permite a reabilitação e fez críticas violentas contra essa lei quando ele próprio beneficiou dela. O Bloco de Esquerda faz política com base em pura hipocrisia. Isto mostra o quanto é inconsequente a posição deste partido em matéria de habitação”, diz ao i.
Perante todas estas situações, o presidente da Associação Lisbonense de Proprietários afirmar que o Bloco deve retirar todas as propostas que apresentou no Parlamento para o mercado de arrendamento. “Ficou mais do que demonstrado que eles aproveitam esta lei para os seus negócios pessoais e, ao mesmo tempo, criticam os outros que a aplicam. É totalmente contraditório e inaceitável numa política séria e honesta. O partido perdeu toda a credibilidade para defender aquilo que tem vindo a defender. Não é aceitável que haja um partido que está na praça pública a criticar uma lei justa e que veio tentar resolver uma situação dramática para a maioria dos senhorios e depois usa a lei nesse âmbito. Perderam toda a legitimidade em avançar com propostas para o mercado do alojamento”, conclui.