O azul-turquesa das águas do Egeu contrasta com o cenário desolador em terra: seria um sítio idílico para se passar umas belas férias se não estivesse tudo negro e queimado. A estância balnear de Mati, às portas de Atenas, deixou pura e simplesmente de existir por causa de violentos fogos que lavraram esta semana. Pelo caminho, as chamas reclamaram dezenas de vidas, tal como por cá em Pedrógão Grande e Castanheira de Pêra no ano passado.
Mas, como em Pedrógão, os relatos são ainda muito mais tocantes do que as imagens. Há histórias absolutamente dramáticas de pessoas que saltaram de penhascos para fugir ao fogo ou de outras que morreram a poucos metros da água.
Segundo os especialistas, as alterações climáticas vieram para ficar e vão fazer com que fenómenos extremos deste tipo se repitam no Sul da Europa nos próximos anos. Baixa humidade, temperaturas altas, ventos fortes e grandes áreas de floresta vão combinar-se para criar condições propícias a fogos gigantescos. Quando a estes ingredientes se junta mão humana criminosa para atear a ignição, como tantas vezes acontece, então está preparado um cocktail verdadeiramente explosivo.
Em paralelo, é inevitável concluir que estes fogos na Grécia – e a respetiva perda de vidas humanas – vêm até certo ponto “ilibar” o governo, a ministra Constança Urbano de Sousa, a Proteção Civil e os bombeiros pelas tragédias do ano passado. Talvez tenham sido cometidos erros, mas ninguém estava preparado para enfrentar situações destas. Nem podia estar.
E há um novo dado: aquele que víamos como o mais benigno dos seres vivos – as árvores – pode vir a tornar-se um inimigo mortal do homem. Quem viva em zonas muito arborizadas terá poucas razões para dormir descansado nas noites mais quentes. Onde quer que haja grandes manchas verdes, há perigo. E em Portugal temos mais de três milhões de hectares de floresta. Se continuarem a ser ignorados como têm sido, constituem uma ameaça gigantesca.