O melhor e o pior do futebol


O jogo em si é, de facto, sublime. Mas uma parte substancial do que anda à volta desse jogo é execrável


“O futebol não é uma questão de vida ou de morte. É muito mais importante que isso…”

Bill Shankly

 

Há exatamente quatro anos, decorria o campeonato do mundo de futebol disputado no Brasil, de má memória para nós, portugueses, escrevi, aqui no i, esta crónica:

“Ludopédio significa jogo com os pés.

O termo futebol associou-lhe a bola.

E aqui está, minhas senhoras e meus senhores, o maior espetáculo do mundo. Calcula-se que existam 300 milhões de praticantes federados em todo o planeta. Em Portugal são cerca de 150 mil.

O futebol é hoje muito mais do que um jogo. É uma poderosa indústria que movimenta muitos milhões.

O jogo é sublime. O envolvimento é total quando se gosta de futebol, como é o meu caso.

No dia em que vamos estar a torcer pela seleção, vale a pena refletir sobre a razão desta verdadeira ‘união nacional’.

Para que se sinta o futebol, há que tomar partido. Deixar a razão à porta do estádio e puxar pelo coração. Sermos ‘nós’ contra ‘eles’. E, assim, já estamos a jogar, mesmo que não saibamos dar um pontapé na bola.

Podemos todos ser treinadores. Dar palpites e táticas. Arrasar as opções do verdadeiro treinador num minuto e colocá-lo nos píncaros no minuto seguinte.

Podemos ser contraditórios, totalmente parciais, gritar e até insultar.

Quando saímos do estádio, felizes ou zangados, regressamos ao mundo real.

Voltamos a ser racionais, procuramos a imparcialidade, a razoabilidade nas decisões.

Voltamos, frequentemente, a esconder as emoções.

E é por isso que gosto tanto do futebol.”

Passados estes quatro anos, quando a seleção de Portugal está bem melhor colocada, não retiro uma linha ao que escrevi, mas acrescento alguma coisa.

O jogo é, de facto, sublime. Mas uma parte substancial do que anda à volta desse jogo é execrável.

Basta olhar para o estado a que chegou o futebol em Portugal para não ser difícil chegar a esta conclusão.

Os artistas são uns bons artistas, como diria Herman José numa das suas rábulas mais felizes, mas os verdadeiros donos do jogo não prestam.

O problema é que a bola é redonda, jogam 11 para cada lado e, no fim, quem sai sempre a ganhar?

 

Jornalista