Um dia para recordar o que não queremos de volta


Faz hoje precisamente 44 anos que o país virou uma das páginas mais importantes da sua história.


Faz hoje precisamente 44 anos que o país virou uma das páginas mais importantes da sua história. De uma nação pobre, bafienta, inculta e ditatorial passou para o fantástico mundo da liberdade. Tinha oito anos na altura mas recordo-me de como eram as aulas na primária, da pancada que levávamos, de como tínhamos que fugir à polícia por estarmos a jogar à bola e de como existia uma cultura do medo.

O país era dos mais atrasados da Europa e nas aldeias as carências eram mais do que muitas. Recordo-me também dos testemunhos que ouvi sobre a fome que se passava, mas também me lembro da solidariedade existente: sempre que passava algum “vagabundo” na rua, era assim que se chamava aos sem-abrigo, abria-se espaço na mesa e aparecia mais um prato para tal figura.

Outros ofereciam sempre um prato de sopa e uma sandes. O 25 de Abril pretendia pôr fim a esse estado de miséria, embora haja quem defenda que foi a Guerra Colonial que esteve na origem da revolução. Fartos de estar numa guerra que não tinha fim à vista, os militares decidiram, e bem, pôr fim ao regime do Estado Novo.

O que se seguiu é do conhecimento geral: o PCP tentou instaurar um regime soviético em Portugal, mas o 25 de Novembro colocou um ponto final nessa loucura. Em 44 anos, o país cresceu e desenvolveu-se brutalmente, apesar de manter muitas injustiças, fruto, talvez, de nunca se ter cultivado o mérito. Em vez de se louvar quem tem sucesso, que cria postos de trabalho e distribui riqueza, destaca-se a inveja.

E, claro, a nossa sociedade sofre de uma problema gravíssimo chamado corrupção: veja-se o que alguns governantes fizeram ao país, como o caso de José Sócrates e as suas ramificações na banca demonstram. Termino com a frase do jornalista da “Newsweek” da edição de 6 de maio de 1974: “Os portugueses sempre tiveram uma maneira muito sua de fazerem as coisas. Mesmo aquele sangrento espetáculo ibérico, a tourada, adquire em Portugal uma característica especial, cavalheiresca, pois o touro nunca é morto. Na semana passada, um grupo estreitamente coordenado de oficiais do exército aplicou essa tradição civilizada a um ato muitas vezes violento: um golpe militar”. Parabéns a esses militares.