A ética, a política e a vida


“A política sem risco é uma chatice, mas sem ética é uma vergonha”Francisco Sá Carneiro


Não me quero aventurar por áreas do conhecimento de que sou apenas um curioso, um leitor disperso, como é o caso da filosofia.

Mas não resisto a discorrer hoje sobre o papel da ética na nossa vida.

Na prática, que me perdoem os filósofos, a ética é o grilinho falante de Pinóquio que nos fala interiormente antes de cada tomada de decisão com que somos confrontados.

A ética é o nosso caráter. Aliás, a palavra grega que lhe dá origem, ethos, significa isso mesmo.

Construída a partir de princípios morais, sem dúvida, ela leva-nos, no entanto, por outros caminhos, mais racionais. Aliás, é através dela, ou melhor, armados por ela que somos capazes de enfrentar o terrível e constante combate interior entre a paixão e a razão.

Não é por acaso que várias profissões estão munidas de códigos éticos que guiam o comportamento desses profissionais e constituem o seu modelo de vida.

Os filósofos da Antiguidade ligaram sempre as denominadas virtudes éticas, como a justiça, a coragem, a generosidade ou a temperança, à causa pública, isto é, à política na sua verdadeira essência: a procura do utópico bem comum.

Por isso, para eles, ética e política eram inseparáveis.

Depois, Maquiavel puxou-nos para a infeliz realidade: a política é a arte de conquistar, dominar e manter o poder político. E, para o conseguir, a violência é, quase sempre, uma fiel aliada.

Era assim que Maquiavel via também a possibilidade de garantir o bem comum que, por exemplo, para Norberto Bobbio, ainda mais realista, se define apenas por uma palavra: ordem.

Vale sempre a pena refletirmos um pouco sobre estes conceitos numa época em que, cada vez mais, somos confrontados com casos, mais ou menos graves, de violação de regras éticas básicas em áreas decisivas da sociedade como a política, a justiça ou o jornalismo.

Podemos continuar a pensar que tudo isto são meros exercícios filosóficos e que nada têm a ver com a vida real.

O problema é que, quando acordarmos, pode ser tarde demais.

 

Jornalista