Kequyen. O sonho português nos Jogos Olímpicos

Kequyen. O sonho português nos Jogos Olímpicos


Ao fim de duas décadas Kequyen Lam alcançou o sonho de participar nos JO. Com 38 anos, será um dos apenas dois representantes portugueses na Coreia do Sul.


Aviso: se por acaso o caro leitor ainda não se tinha apercebido que os Jogos Olímpicos de Inverno de PyeongChang 2018 estão prestes a arrancar prepare-se pois depois desta história é impossível ficar indiferente ao evento desportivo que irá decorrer entre os próximos dias 9 e 25 de fevereiro.

Ao fim de 20 anos, Kequyen Lam conseguiu alcançar o seu sonho de se qualificar para os JO e será um dos apenas dois representantes portugueses (o segundo é o lusodescendente Arthur Hanse em esqui alpino) em solo sul-coreano. “O sonho de participar nos JO surgiu em 1998 quando o Ross Rabagliati ganhou o ouro [nos JO de Nagano] para o Canadá”, conta Lam ao SOL, numa conversa que, depois do ‘olá’, segue em inglês por não dominar a língua de Camões. Todavia, Lam apressa-se em sublinhar a sua estadia numa universidade portuguesa. “Em 2007 passei um ano na universidade a aprender português e passei o verão aí a viajar e a melhorar a aprendizagem da língua. Nesse ano ainda estive em Peniche a fazer voluntariado numa farmácia durante alguns dias”.

Do Vietname ao Canadá com a bandeira portuguesa

Aos 38 anos, a vida de Lam é verdadeiramente digna de um filme. Daqueles com direito a tudo: ação, drama, suspense e sucesso. Além disso, é sobretudo um exemplo de superação. O primeiro capítulo da sua vida, diz-nos, começa ainda antes de ser nascido, no Vietname. “Os meus pais nasceram no Vietname, mas naquela época, o facto de terem nascido lá não lhes permitiu que se tornassem cidadãos. Tinham nacionalidade chinesa. Até que um dia tiveram de fugir do país porque depois da guerra não havia futuro para eles nem para a família”. Corriam os últimos anos da década de 70 e o facto de os pais de Lam não terem nacionalidade fez com que fossem de imediato expulsos pelo Governo do país asiático. “Isto ocorreu imediatamente antes da guerra sino-vietnamita. Os meus pai fugiram de barco até que chegaram a Macau”. Foi na incerteza e na angústia de um barco, sem quaisquer tipo de condições de segurança, que ao fim de um mês de viagem o casal de refugiados avistou Macau. E seria, à entrada dos anos 80, na então colónia portuguesa, que Lam nasceria tornando-se, desta forma, no porta-estandarte de Portugal nos desportos de inverno. Já com a nacionalidade portuguesa, a família decide mudar-se novamente. É com um bilhete só de ida que os Lam aterram na América do Norte, mais precisamente no Canadá.

Do snowboard ao esqui de fundo

Nas próximas semanas, Lam irá defender as cores da bandeira nacional no esqui de fundo, mas as suas representações por Portugal começaram há 10 anos e até numa outra modalidade. “Comecei a fazer snowboard quando tinha 15 anos. Em 2008 tornei-me profissional nas corridas de snowboard a representar Portugal. Tive boas prestações e qualifiquei-me para o Campeonato do Mundo entre 2011 e 2013”, lembra. Contudo, há cinco anos, Lam contraiu uma lesão no ombro que o impediu de continuar a praticar o skate da neve. Perante as adversidades, a inspiração de Lam manteve-se no ‘Whistler!’, dito da varanda por Rabagliati quando chegou a casa como campeão olímpico de snowboard. “Decidi desafiar-me, fazer algo aparentemente impossível e tentar outra modalidade. Foi nesse momento que surgiu o ski cross country [esqui de fundo]”. Começou então a praticar esqui alpino há dois anos por não exigir tanto movimento de ombros, mas nem o novo começo fez Lam desviar-se da sua meta: a qualificação para uns JO. “Aqui estou!”, afirma, denunciando o espírito de sacrifício e persistência. O segredo? “Se és apaixonado e trabalhares muito podes fazer qualquer coisa. Quando as coisas ficam difíceis trabalha o dobro”, remata.

‘Sinto-me muito honrado’

Para Lam é “um privilégio” representar Portugal. “É um privilégio e irei usar as nossas cores com muito orgulho. Ser um dos dois atletas significa que podemos chamar muita atenção para os desportos de inverno em Portugal e espero também que possa inspirar outras pessoas a seguirem os seus sonhos”. Lam vai “orgulhoso, honrado e humilde”.

Esquiar com boa técnica, bom ritmo, o mais rápido e melhor que consegue são os objetivos do atleta luso que garantiu estar “bem preparado, entusiasmado, ansioso para correr e nervoso, é claro!”. Antes de nos despedirmos de Lam, há ainda tempo para ficarmos a saber uma última curiosidade. “Recebo muitas mensagens do público em Portugal através das redes sociais bem como dos portugueses aqui no Canadá. Eles veem-me esquiar e param para me darem os parabéns. Estão muito entusiasmados!”, assegura ao SOL quando é confrontado com o seu sentimento em relação ao apoio do público. “Obrigada Kequyen, boa sorte!”, dizemos, num momento em que Lam aproveita para voltar a mostrar os conhecimentos que adquiriu na universidade. “Muito obrigado! Força Portugal!”.

Força!!!