Fungagá da bicharada


Meninos e meninas vestidos de preto aplaudiram até às lágrimas um discurso lamechas de Oprah, cheio de lugares-comuns, e elegeram-na logo ali candidata à Casa Branca. Em 2016 apoiaram uma branca e perderam, agora agarram-se desesperados a uma negra. Delírios de Hollywood


A cerimónia dos Globos de Ouro deste ano foi um espetáculo patético de meninos e meninas vestidos de preto contra um assédio sexual escondido há dezenas de anos. Mas, vá lá, qual cereja em cima do bolo, saltou para a rua uma putativa candidata presidencial para 2020. Imagine-se a emoção.

Depois do fracasso de uma branca, que seria a primeira mulher na Casa Branca, aparece no horizonte uma mulher negra que fez chorar muitos democratas, muitos liberais e muita gente de esquerda por esta querida Europa, ainda desesperada por aquela magnífica noite de 8 de novembro de 2016, com um discurso do género Miss Mundo ou Miss Universo, com muita paz, muito amor, muita lamechice e, claro, muito ódio aos poderosos, aos maus, aos que davam empregos e muitos milhões aos meninos e meninas vestidos de preto a troco de uns favores sexuais, reais ou inventados.

Oprah Gail Winfrey levantou a sala dos Globos de Ouro com um discurso cheio de lugares-comuns, ao sabor da corrente, para sacar aplausos vibrantes dos que descobriram ao fim de muitos anos que Hollywood, a tal Meca de gentinha que adora os democratas e os liberais norte-americanos, era afinal um covil de lobos maus e pobres ovelhinhas abusadas e ofendidas a troco de papéis em filmes e muitos milhões nas contas bancárias. Desta vez, Trump ficou de fora dos discursos inflamados, das indignações, das graçolas imbecis.

Mas, em troca, Oprah Winfrey saiu da cerimónia em ombros como uma pré-candidata democrata às eleições presidenciais de 2020. E como uma idiotice não vem sozinha, logo apareceu a espetacular Lady Gaga a dizer simplesmente “tem o meu voto”. E como os favores se pagam, os fãs da cantora aplaudiram a sua postura e foram logo bem mais longe: querem que concorra a vice-presidente dos EUA em 2020.

Logo a seguir à Gaga apareceu uma mulher branca que ajudou a afundar Hillary Clinton em 2016 e que se julga a si própria como o sumo da barbatana do cinema. Sim, a sra. Meryl Streep, que só devia falar nos filmes e sem autorização para mudar guiões, atirou logo nas redes sociais: “Esta noite, ela lançou um rocket. Quero que se candidate a presidente. Acho que não tinha intenção de o fazer, mas não tem escolha.”

A noite dos Globos foi claramente um êxito: teve sexo quanto baste e uma dose de imbecilidade que vai de certeza ser ampliada na noite dos Óscares. Depois de uma negra a presidente, espera-se que Hollywood dê ao mundo um negro gay para 2020 e, quem sabe, em qualquer outra cerimónia muito glamorosa pode aparecer um transexual do Haiti disposto a entrar na Casa Branca em janeiro de 2021.

O ramalhete ficava completo para grande emoção dos liberais, democratas e gente de esquerda desta Europa de gargalhada.

Mas como no melhor pano cai uma grande nódoa, eis que surgiu, no meio do histerismo feminista das meninas de preto assediadas no século passado pelos lobos maus, uma carta aberta de mais de 100 mulheres francesas, qual pedrada no charco de tanta hipocrisia e estupidez: “A violação é um crime. Mas o flirt insistente ou inconveniente não é um delito, nem o galanteio é uma agressão machista.” Com o título “Defendemos a Liberdade de Importunar, Indispensável à Liberdade Sexual”, esta carta foi assinada por 100 mulheres em França, entre atrizes como Catherine Deneuve, que desde o ano passado se insurge em entrevistas contra esta nova realidade de denúncia de abusos, ou a alemã Ingrid Caven, e escritoras como Catherine Millet, fundadora e editora da revista “Art Press” e autora de “A Vida”.

A carta, que fala de “uma onda de purificação puritana”, defende que “homens foram castigados e forçados a abandonar os seus empregos quando tudo o que fizeram foi tocar no joelho de alguém ou tentar roubar um beijo”. Viram os seus nomes manchados por “falarem sobre temas íntimos durante jantares profissionais ou por enviarem mensagens com conteúdos sexuais a mulheres” que não foram recíprocas nesses avanços. É um movimento que alimenta um regresso à “ideia vitoriana de que as mulheres eram meras crianças que tinham de ser protegidas”.

É evidente que estas mulheres, que escreveram o óbvio sobre as relações entre homens e mulheres, em Marte ou em Hollywood, não vão ser convidadas para fazerem um discurso inteligente às ovelhinhas vestidas de preto que vão marcar a noite dos Óscares.

Irá de certeza aparecer a dizer banalidades uma ou um Oprah qualquer que se arrisca a sair da sala pré-candidato à Casa Branca em 2020. Depois da Oprah de janeiro, o melhor é os liberais, os democratas e a gentinha de esquerda desta desgraçada Europa começarem a comprar desde já lenços ecológicos. A noite dos Óscares vai com certeza ficar marcada por muita lágrima dos muitos crocodilos por este mundo fora que ajudaram, por atos e omissões, a fabricar a fábula das pobres ovelhinhas vestidas de preto, assediadas e abusadas, que descobriram as maldades depois de verem muitos filmes. A cores e a preto e branco.