Pedro Marques: o ministro que assinou a certidão de óbito da Linha de Cascais


Pedro Marques não tem culpa do estado a que chegou a linha. Mas tem culpa de não a ter salvo enquanto podia e estavam criadas as condições para o fazer


Que ninguém se engane: a Linha de Cascais é uma desgraça à espera de acontecer. E se ainda nada de muito grave foi registado, ficamos a devê-lo aos extraordinários profissionais da CP e da EMEF que, literalmente, têm feito das tripas coração para que a Linha se mantenha em funcionamento com padrões de segurança vagamente europeus.

A decadência da Linha de Cascais envergonha e preocupa. Mas quando a ela se soma a exaustão da A5, a mais movimentada autoestrada do país, percebemos o quadro de total estrangulamento em que o eixo Cascais-Oeiras-Lisboa está metido. Com a ferrovia debilitada e com a rodovia no ponto de saturação, o desenvolvimento potencial desta área está a ser fortemente constrangido pelas obstruções gritantes na rede vascular metropolitana. Quando o diagnóstico à mobilidade do maior eixo demográfico e económico do país é este, não são apenas as câmaras que têm um problema: é Portugal que tem um problema.    

Décadas de desinvestimento deram nisto. E se, no que diz respeito à Linha de Cascais, todos os governos, de todas as cores, são culpados pelo estado de degradação, nem todos são igualmente responsáveis na inação. O governo anterior, já em 2015, deixou preparada e orçamentada uma proposta de investimento na estrutura da CP que contemplava 259 milhões de euros de investimento – 135 milhões por via do Orçamento do Estado e 124 milhões de euros de investimento privado. Goste-se mais ou menos, depois de décadas de avanços e recuos esta era, pelo menos, uma solução estrutural da mobilidade entre Cascais e Lisboa. Era. Com este governo fui tudo pelo ar: o dinheiro que era para a Linha de Cascais já foi; e os modelos alternativos, certamente legítimos, ainda ninguém os viu. 

Em março deste ano, o ministro Pedro Marques comprometia o seu governo: “tudo fará para que haja recursos comunitários para a Linha de Cascais.” Em outubro, ainda com mais vigor: “(este governo) coloca finalmente no Portugal 2020 recursos financeiros que permitam intervir na Linha de Cascais.” Palavra dada, palavra honrada? Olhamos para as grandes Opções do Plano e encontramos a promessa de “modernização do sistema de sinalização e de eletrificação” a “melhoria das estações e acessibilidades” e “alteamento das plataformas”. O problema é quando começamos a procurar o cheque que paga trabalhos desta magnitude. Porque intervenções estruturais que resolvam, de uma vez por todas, os problemas da Linha de Cascais, podem oscilar entre os 250 e os 400 milhões de euros. Procurámos no Plano da Ferrovia 2020. Nada. Procuramos no Orçamento do Estado para 2018. Nada. Procuramos nos processos de candidatura a fundos comunitários. Nada. Lá também não mora a Linha de Cascais, porque, se morasse, os 25% da comparticipação nacional teriam de estar inscritos. 

Começam a surgir dúvidas sobre a palavra dada. Encontramos, finalmente, uma remitência para o Plano Juncker. Prevê-se um investimento de 126 milhões de euros e nunca antes de 2021. A leitura destes mapas é muito simples: por 126 milhões de euros, o ministro Pedro Marques não só está a patrocinar operações de cosmética para a Linha de Cascais – comprando carruagens em segunda mão a Espanha – como só promete que as fará, na melhor das hipóteses, daqui a três anos.

A infraestrutura, que perdeu 20 milhões de passageiros nos últimos vinte anos, continuará a perder procura. Até se tornar irremediavelmente irrelevante. Pedro Marques não tem culpa do estado a que chegou a linha. Mas tem culpa de não a ter salvo enquanto podia e estavam criadas as condições para o fazer.

Entretanto, e porque uma solução é desesperadamente necessária, Cascais e Lisboa estão a trabalhar na mobilidade metropolitana. Com Fernando Medida, e em breve também com Isaltino Morais, há uma equipa de autarcas prontos a encontrar alternativas à Linha de Cascais. 

Em cima da mesa está a criação de uma linha de transporte público rodoviário dedicado na A5, uma faixa de rodagem exclusiva, que pode até ter como modelo o BRT criado para os Jogos Olímpicos do Rio. 

Cascais, Oeiras e Lisboa são um dos principais eixos demográficos, económicos e turísticos do país. Não podem continuar asfixiadas com a falta de investimento na mobilidade. Isso está a custar dinheiro ao país, oportunidades às autarquias e qualidade de vida às pessoas. 

Como presidente da Câmara de Cascais, não me interessa se o problema da linha se resolva à esquerda ou à direita. Importa mesmo é que se resolva. Qualquer proposta que Pedro Marques apresente para salvar a linha será bem-vinda e terá o meu apoio incondicional.  

Pelo mesmo caminho é que não pode ser. Pedro Marques e a sua política para Linha de Cascais há muito tempo que descarrilaram. 

 

Escreve à quarta-feira


Pedro Marques: o ministro que assinou a certidão de óbito da Linha de Cascais


Pedro Marques não tem culpa do estado a que chegou a linha. Mas tem culpa de não a ter salvo enquanto podia e estavam criadas as condições para o fazer


Que ninguém se engane: a Linha de Cascais é uma desgraça à espera de acontecer. E se ainda nada de muito grave foi registado, ficamos a devê-lo aos extraordinários profissionais da CP e da EMEF que, literalmente, têm feito das tripas coração para que a Linha se mantenha em funcionamento com padrões de segurança vagamente europeus.

A decadência da Linha de Cascais envergonha e preocupa. Mas quando a ela se soma a exaustão da A5, a mais movimentada autoestrada do país, percebemos o quadro de total estrangulamento em que o eixo Cascais-Oeiras-Lisboa está metido. Com a ferrovia debilitada e com a rodovia no ponto de saturação, o desenvolvimento potencial desta área está a ser fortemente constrangido pelas obstruções gritantes na rede vascular metropolitana. Quando o diagnóstico à mobilidade do maior eixo demográfico e económico do país é este, não são apenas as câmaras que têm um problema: é Portugal que tem um problema.    

Décadas de desinvestimento deram nisto. E se, no que diz respeito à Linha de Cascais, todos os governos, de todas as cores, são culpados pelo estado de degradação, nem todos são igualmente responsáveis na inação. O governo anterior, já em 2015, deixou preparada e orçamentada uma proposta de investimento na estrutura da CP que contemplava 259 milhões de euros de investimento – 135 milhões por via do Orçamento do Estado e 124 milhões de euros de investimento privado. Goste-se mais ou menos, depois de décadas de avanços e recuos esta era, pelo menos, uma solução estrutural da mobilidade entre Cascais e Lisboa. Era. Com este governo fui tudo pelo ar: o dinheiro que era para a Linha de Cascais já foi; e os modelos alternativos, certamente legítimos, ainda ninguém os viu. 

Em março deste ano, o ministro Pedro Marques comprometia o seu governo: “tudo fará para que haja recursos comunitários para a Linha de Cascais.” Em outubro, ainda com mais vigor: “(este governo) coloca finalmente no Portugal 2020 recursos financeiros que permitam intervir na Linha de Cascais.” Palavra dada, palavra honrada? Olhamos para as grandes Opções do Plano e encontramos a promessa de “modernização do sistema de sinalização e de eletrificação” a “melhoria das estações e acessibilidades” e “alteamento das plataformas”. O problema é quando começamos a procurar o cheque que paga trabalhos desta magnitude. Porque intervenções estruturais que resolvam, de uma vez por todas, os problemas da Linha de Cascais, podem oscilar entre os 250 e os 400 milhões de euros. Procurámos no Plano da Ferrovia 2020. Nada. Procuramos no Orçamento do Estado para 2018. Nada. Procuramos nos processos de candidatura a fundos comunitários. Nada. Lá também não mora a Linha de Cascais, porque, se morasse, os 25% da comparticipação nacional teriam de estar inscritos. 

Começam a surgir dúvidas sobre a palavra dada. Encontramos, finalmente, uma remitência para o Plano Juncker. Prevê-se um investimento de 126 milhões de euros e nunca antes de 2021. A leitura destes mapas é muito simples: por 126 milhões de euros, o ministro Pedro Marques não só está a patrocinar operações de cosmética para a Linha de Cascais – comprando carruagens em segunda mão a Espanha – como só promete que as fará, na melhor das hipóteses, daqui a três anos.

A infraestrutura, que perdeu 20 milhões de passageiros nos últimos vinte anos, continuará a perder procura. Até se tornar irremediavelmente irrelevante. Pedro Marques não tem culpa do estado a que chegou a linha. Mas tem culpa de não a ter salvo enquanto podia e estavam criadas as condições para o fazer.

Entretanto, e porque uma solução é desesperadamente necessária, Cascais e Lisboa estão a trabalhar na mobilidade metropolitana. Com Fernando Medida, e em breve também com Isaltino Morais, há uma equipa de autarcas prontos a encontrar alternativas à Linha de Cascais. 

Em cima da mesa está a criação de uma linha de transporte público rodoviário dedicado na A5, uma faixa de rodagem exclusiva, que pode até ter como modelo o BRT criado para os Jogos Olímpicos do Rio. 

Cascais, Oeiras e Lisboa são um dos principais eixos demográficos, económicos e turísticos do país. Não podem continuar asfixiadas com a falta de investimento na mobilidade. Isso está a custar dinheiro ao país, oportunidades às autarquias e qualidade de vida às pessoas. 

Como presidente da Câmara de Cascais, não me interessa se o problema da linha se resolva à esquerda ou à direita. Importa mesmo é que se resolva. Qualquer proposta que Pedro Marques apresente para salvar a linha será bem-vinda e terá o meu apoio incondicional.  

Pelo mesmo caminho é que não pode ser. Pedro Marques e a sua política para Linha de Cascais há muito tempo que descarrilaram. 

 

Escreve à quarta-feira