Preparem os pezinhos: agora é mesmo para bater o pé à Europa!


Mário Centeno – o Ministro das Finanças de um Governo socialista, comunista e trotskista – é o melhor escudo político para proteger a política orçamental gizada pela Alemanha


1. Chegou a Portugal a “Centenomania”. Os pseudo-intelectuais de esquerda, bem como a comunicação social que os alimenta, são pródigos no lançamento de novas tendências de pensamento único, de modas ideo(não)lógicas e de “manias”: tivemos a “Obamania”, a “Blairmania”, até (pasme-se!) a “Hollandemania”. Agora é a vez de esquerda portuguesa ditar a “linha Outono-Inverno” 2017: o que está na moda é a paixão, a adulação, a obsessão por Centeno, Mário Centeno. O nosso Ministro das Finanças. O nosso Ministro que orgulhosamente partilhamos com a Europa. O nosso – de Lisboa, de Berlim, de Helsínquia, de Roma, de Atenas, de Madrid, de todos os europeus plenamente integrados na “União” – Presidente do Eurogrupo.

2. O coração lusitano voltou a palpitar – após dobrarmos o Cabo da Boa Esperança (outrora Cabo das Tormentas), após darmos novos mundos ao mundo, após uma vitória gloriosa de Portugal contra a selecção nacional francesa de futebol no Euro 2016 – eis que Mário Centeno, também conhecido por novo “Salvador da Pátria”, logrou obter um novo feito glorioso: tornou-se o mago das Finanças Públicas europeias. Agora sim, é oficial; Portugal é o pais dos três reis magos – António Costa, Mário Centeno e Francisco Louçã, vieram entregar o ouro, o incenso e tudo o que mais quiserem aos portugueses. Com estes três reis magos, é ouro ganho, ouro distribuído. Com estes três reis magos, o Pai Natal é uma possibilidade ontologicamente demonstrada. O Pai Natal existe; mais um feito da geringonça.

3. Muitos felicitaram Mário Centeno pelo seu feito. Por ser um português que alcança, mais uma vez, o reconhecimento internacional, atendendo aos seus méritos político-governativos. Inspirados inclusivamente por declarações do próprio ex-Ministro das Finanças, Wolfgang Schäuble, os jornalistas que muito estimam a “geringonça” e seus protagonistas cimeiros resolveram logo atribuir ao Ministro português o epíteto de Cristiano Ronaldo das Finanças.Deixemo-nos de hipocrisias: Mário Centeno chega à Presidência do Eurogrupo, em função de uma convergência objectiva de factores.

3.1. Em primeiro lugar, o contexto político na Alemanha, quer no período antecedente às eleições do passado mês de Setembro, quer no seu período consequente que se prolonga até aos dias de hoje. Porquê? Fácil. Desde logo, porque Angela Merkel compreendeu (e receou ) o descontentamento que se alastra a praticamente todos os países do Sul da Europa e a certas franjas da Europa de Leste face às premissas essenciais da política monetária e económica da União Europeia. Descontentamento, esse, que não se traduziu numa mera contestação inorgânica e difusa, antes se reflectindo no acréscimo de apoio eleitoral a partidos (ditos) populistas e que propugnam uma mudança efectiva de políticas (alguns identificando-se mesmo como partidos extremistas). Pela primeira vez, desde há muito, multiplicam-se as forças políticas, representadas nos órgãos institucionais dos Estados, que desafiam frontalmente o “Consenso de e em Bruxelas”.

3.1.1. Ora, neste quadro, a liderança política alemã da União Europeia, e o seu domínio absoluto no “Eurogrupo”, ficaram comprometidos: os desafios à sua liderança proveniente dos países do leste da Europa, motivados pela política de acolhimento de refugiados, bem como o crescimento da direita em França e de políticos franceses que se recusam a prestar vassalagem à Alemanha, somando-se à contestação interna à sua incapacidade de decisão ou decisões impulsivas, deixaram Angela Merkel sem alternativa. A habitual “fuga para a frente” não era viável, nem admissível. Restava-lhe estender a mão à esquerda europeia – a qual passou a endeusar a Chanceler alemã após a sua determinação na implementação da política de acolhimento de refugiados por todo o espaço da União Europeia. Como a política é volátil e muda do dia para a noite: há dois anos, Angela Merkel era o “diabo” da esquerda; hoje é a deusa, fonte de inspiração para a mesma esquerda…

3.1.2. Shäuble pretendeu, pois, ao identificar Centeno como o Cristiano Ronaldo do Eurogrupo, colar os socialistas à sua política monetária e económica: a política de austeridade por si propugnada e executada era “desideológica”, não assentava em pressupostos ideológicos, muito menos partidários. Identificava-se, antes, como uma política de salvação financeira da Europa, tornando-a mais competitiva. Assim, o governante alemão conseguiria provar que não há alternativa à política de rigor financeiro: se até um Governo socialista, com o apoio de comunistas e trotskistas, aceitou cumprir os dogmas centrais da política de rigor orçamental, então tal significa um reconhecimento tácito de que a realidade se acaba por impor aos discursos políticos. Em termos mais claros: o Governo português é a prova de que a oposição à chamada “política de austeridade” mais não é um conjunto de mentiras e ilusões que pretendem vender aos europeus.

3.1.3. Mário Centeno – o Ministro das Finanças de um Governo socialista, comunista e trotskista – é o melhor escudo político para proteger a política orçamental gizada pela Alemanha, neutralizando qualquer crítica provinda da esquerda e de partidos extremistas. Acresce, ainda, uma outra circunstância interna: elogiar Mário Centeno, e deixando correr que poderia tornar-se o próximo Presidente do Eurogrupo, foi uma forma de enfraquecer eleitoralmente o SPD (Partido Socialista Alemão), retirando-lhe o trunfo da crítica à política de austeridade. E, na verdade, esta revelou-se uma estratégia vencedora: Martin Schulz, deixou de ter discurso, mostrando ser um político competente, mas sem brilho. Sem dimensão para liderar os destinos da Alemanha. A erosão eleitoral de Angela Merkel foi provocado pelos extremos, quer à esquerda, quer à direita.

3.2. Em segundo lugar, Mário Centeno beneficiou do colapso da coligação “Jamaica”: acaso os Liberais formassem Governo com a CDU de Angela Merkel, jamais o Ministro português teria chegado à liderança do Eurogrupo. Com um Ministro das Finanças dos Liberais, a Alemanha continuaria a dominar a política orçamental europeia, imprimindo-lhe, no entanto, um pendor mais à direita: mais ortodoxa no controlo das contas públicas, mais rigorosa no tamanho do Estado, menos redistributiva. Foi o colapso da coligação Jamaica a causa imediata da ascensão de Mário Centeno à liderança do Eurogrupo. O resto não passa de contos de fados – líricos, bonitos de se ouvir e ler, todavia sem qualquer aderência à realidade…

3.3. Por último, Centeno beneficiou do facto de a liderança do Eurogrupo dever continuar a ser atribuída a um socialista (atendendo à lógica dos equilíbrios internos de poder na União Europeia) – e os partidos socialistas europeus viverem tempos muito complexos, tendo registado resultados eleitorais humilhantes em várias latitudes (mesmo em países em que os socialistas eram uma força política tradicionalmente fortíssima). Tendo António Costa negociado o poder com os comunistas e trotskistas, roubando a eleição às forças políticas mais votados, os socialistas europeus quiseram premiar António Costa pelo feito, até pelo simbolismo da prova de vida que fazem em Bruxelas.

4. Eis, pois, as verdadeiras razões que levaram Mário Centeno à Presidência do Eurogrupo – o resto é apenas propaganda. Um semanário português até teve a genial ideia de elevar Mário Centeno a figura do ano de 2017…Por nós, regozijamos com a eleição de Centeno: afinal de contas, finalmente, vamos concretizar a promessa dos socialistas portugueses. Agora sim, vamos bater o pé a Bruxelas! Acabaram-se as desculpas! Agora, é o PS que tem o poder em Bruxelas! Preparam lá esses pezinhos, cuidado Angela Merkel: agora é mesmo para bater o pé a Bruxelas! Nós, com os nossos pezinhos em riste, só esperamos que esta não seja mais uma mentira socialista…queremos bater os pés, então?!

Escreve à terça-feira