O crime das mulheres “destemidas”


Joana Ferrer não vive neste mundo – vive numa estratosfera de ignorância e desconhecimento da vida real. As justificações que dá para absolver Manuel Maria Carrilho do crime de violência doméstica durante o casamento – recorde-se que o antigo ministro da Cultura já foi condenado a quatro anos e seis meses de prisão pelo crime…


Primeiro, a juíza acha que o facto de Bárbara Guimarães ser “uma mulher destemida e dona da sua vontade” faz prova de que não existiu violência doméstica, caso contrário, a vítima teria ido a correr fazer queixa na Polícia ou ao Instituto de Medicina Legal. Dizer isto é não perceber um chavo da dinâmica do crime de violência doméstica, nem sequer da dinâmica de um casamento. E, mais grave, também não saber nada do ser humano, muito menos daquelas a quem chama “mulheres destemidas e donas da sua vontade”.

Mais grave: novamente revelando total e absoluto desconhecimento do crime sobre o qual está a julgar, afirma que a justificação de “vergonha”, que Bárbara Guimarães apresentou, não colhe, porque se tivesse “vergonha” não teria depois apresentado queixa, sabendo que o caso viria necessariamente a público. Além do crime de ser uma “mulher destemida e dona da sua vontade”, acrescenta-se o facto de a juíza achar que se Bárbara tivesse, de facto, “vergonha”, não apresentaria nunca queixa.

A juíza Ferrer pertence à mesma galeria dos juízes do Porto que acharam que o adultério minimizava o crime de violência doméstica.

Outra parte delirante da sentença é a juíza acreditar nos testemunhos feitos às revistas sociais. O facto de Bárbara Guimarães dizer que o seu casamento era feliz faz prova, para a juíza, de que o casamento era feliz. A juíza Ferrer chegou ao fim do julgamento igualzinha ao dia da primeira audiência que provocou o incidente de recusa, que a Relação não aceitou: Bárbara seria culpada.