É difícil imaginar o inferno dos incêndios


Por mais que as imagens ilustrem o que foram as tragédias dos incêndios de junho e de outubro é sempre muito difícil colocarmo-nos na pele daqueles que enfrentaram a fúria das chamas sem terem podido pedir auxílio.


Até porque não fazemos o exercício de abrir uma torneira e não vermos sair água, pegarmos no telemóvel e não ter rede, estarmos perto de temperaturas muito superiores a 40 graus e não conseguirmos fugir dali, etc.

Vem esta conversa a propósito de uma situação inofensiva por que passei este fim de semana e que me fez pensar no que teriam passado aqueles que estiveram perto do inferno. Com o mau tempo a castigar o território nacional, o local onde estava não fugiu à regra e as consequências foram imediatas.

Primeiro, os telemóveis ficaram sem rede; depois, a luz foi abaixo; e só não ficámos às escuras porque as chamas da lareira e umas lanternas nos permitiam distinguir o que estava no perímetro mais próximo. Estava numa cabana perto de Manteigas e o vento que soprava e a força da chuva faziam-nos temer o pior no que ao carro e à viagem de regresso dizia respeito. Em princípio, estávamos seguros no interior da casa, mas o barulho que se ouvia à volta não era muito animador. Estaríamos no meio da tempestade Ana e íamos passar um mau bocado? 

E qual não foi o nosso espanto quando ficámos também sem água. Sem eletricidade e sem água, sem podermos ir à rua, restou-nos esperar que tudo passasse. E foi aqui que pensei: estamos numa casa protegida, não conseguimos contactar com ninguém, apesar de estarmos no aconchego da lareira e de uma cabana superacolhedora, e ficámos receosos. O que terão pensado aquelas pessoas que passaram pelo verdadeiro inferno enquanto esperavam pela ajuda que não chegou, em muitos casos? Como se consegue arranjar forças para pegar em ramos verdes para combater o fogo que alastra à volta da casa? O mínimo que posso dizer é que foram verdadeiros heróis aqueles que desafiaram a sorte e lutaram pela vida. Infelizmente, muitos não o conseguiram.

Mas para os citadinos é quase impossível perceber o que sofreram as vítimas dos incêndios.