Houve, em tempos, um homem que ficou célebre por uma frase dita sobre o meio em que circulava, o do futebol: “O que hoje é verdade amanhã pode ser mentira.” Se a memória não me trai, penso que o cérebro de tão brilhante afirmação foi Pimenta Machado, à época presidente do Vitória de Guimarães – já agora, nunca percebi a razão de os dois Vitórias não terem na designação oficial o nome da cidade – o outro é o de Setúbal.
Pois bem, se no mundo da bola essa frase continua atual, na política cada vez mais se fica com essa sensação. Vamos aos factos: poucos, muito poucos, acreditariam que a geringonça durasse mais de alguns meses. Os textos que se escreviam nessa época iam quase todos no mesmo sentido: Costa não conseguiria aguentar as reivindicações do BE e do PCP. Passado o primeiro ano e com o casamento pujante, o pensamento dominante mudou de direção e o primeiro-ministro passou a ser um génio que conseguia meter a geringonça no bolso. As ruas estavam livres de manifestações e tudo era um mar de rosas. Por isso, a geringonça pactuou com a péssima atuação do governo no caso dos incêndios, em que morreram mais de 100 pessoas, na trapalhada do furto em Tancos, além de outras atuações infelizes. Mas tudo mudou com a noite de 1 de outubro, quando foram conhecidos os resultados das eleições autárquicas, onde o PCP e o BE foram penalizados pelo abraço do urso – leia-se, aliança com o governo.
A partir desse momento, os dois partidos começaram a movimentar-se de outra forma e as ruas passaram a ficar cheias dos oficiais e praças da CGTP. Percebe-se que o casamento está por um fio e só não acaba porque Costa tem a capacidade de ouvir os maiores impropérios dos seus aliados e ficar calado. Mas o que se passou ontem dificilmente será ultrapassado: o governo não cumpriu a palavra e o BE disse de Costa e do PS o que o PSD ou o CDS não se atrevem a comentar em público. Será que, afinal, a geringonça não vai conseguir chegar ao fim da legislatura? Será que Costa irá continuar a “levar” forte e feio, mantendo-se calado? E o BE, sendo um partido tão fraturante, vai continuar casado com um governo de quem diz tão mal? Ou será que é um partido novo com os vícios dos velhos partidos?