Ana Gomes afirma, nesta edição do i, que o ministro das Finanças, Mário Centeno, tem “hipóteses muito sérias” de se tornar o próximo presidente do Eurogrupo e que “isso seria bom para Portugal”. O que diz a eurodeputada revela o pensamento de muitos socialistas sobre a questão. Seria uma vitória para o governo eleger o seu ministro das Finanças para um cargo que, não existindo formalmente – o Eurogrupo é uma instituição informal –, tem um peso político importante no quadro europeu.
Mas há uma ala importante dentro do PS – e também do governo – que não acha assim tanta graça à possibilidade. É verdade que Centeno quer o cargo e tem até um projeto para a presidência do Eurogrupo. Mas, caso fosse eleito, dificilmente poderia fugir da linha do Eurogrupo que Dijsselbloem cumpriu. Ou seja, Centeno não seria certamente tão malcriado como Dijsselbloem com os países do Sul, mas seria o porta-voz da linha ortodoxa europeia, por muitas voltas que desse ao texto.
Isso seria mau para o equilíbrio interno do governo português, cuja existência depende de dois partidos que são contra a ortodoxia financeira europeia – e que admitem inclusivamente a saída do euro. Se a derrota do PCP nas autárquicas não fez muito pela pacificação dentro da geringonça – com os comunistas a admitirem expressamente que o sucesso do governo deu votos ao PS e não ao PCP –, a ida de Centeno para porta-
-voz dos falcões da União Europeia tornaria o ambiente mais pesado.
Provavelmente, o problema nem se vai colocar. Na sexta-feira, António Costa foi bastante recuado quanto à apresentação da candidatura portuguesa, que tem de acontecer até dia 30. O candidato eslovaco, Peter Kazimir, tem todas as condições para ter o apoio da Alemanha e da França – junte-se a isto a sub-representação do Leste nas instituições da União, já referida pelo próprio Jean-Claude Juncker, e a ideia de que um eslovaco poderia cativar mais países do Leste para o euro. É possível que o caso Centeno seja um não problema.