Casas. Viver à grande e à francesa

Casas. Viver à grande e à francesa


O investimento francês no mercado imobiliário tem-se concentrado sobretudo em Lisboa, Porto e Algarve. Mas como a oferta escasseia nestas zonas, já começam a procurar alternativas em locais emergentes. Exemplo disso é a Ericeira, Bucelas ou Alcácer do Sal


A comunidade francesa em Portugal conta com cerca de 16 500 inscritos nos registos da secção consular, mas estima-se que o número de não inscritos seja cerca de 30 mil pessoas. São sobretudo profissionais altamente qualificados, reformados ou do ramo artístico. Os impostos mais baixos ajudam a captar os segmentos mais ricos. Segundo dados das Finanças, já houve oito mil pedidos de adesão ao regime de residente não habitual desde a sua criação, em 2009, e, nos últimos anos, cerca de metade dos pedidos têm sido de franceses, que aproveitaram a simplificação do processo.

Também o “passa-palavra” ganha aqui um papel importante. E são as viagens dos turistas que depois fazem com que aumente o interesse em ficar de forma mais definitiva em Portugal. “A maior parte dos turistas repetem e mais de 90% dizem que a sua vinda a Portugal superou as expetativas. Neste momento, o feedback é bastante positivo, e são estes que nos visitam que são os principais promotores de Portugal no estrangeiro, são eles que passam a palavra para outros nos virem visitar. Por exemplo, o mercado francês está a registar um grande crescimento e há muitos que estão à procura de uma segunda casa para viver, resultado do passa-palavra”, admitiu a secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho.

Mas as razões não ficam por aqui. A dinâmica cultural e o estilo de vida dos portugueses, a par do clima e da segurança, são algumas das características que estão a ajudar a pôr Portugal no mapa. Aliás, a nova vaga de “invasões francesas” não se explica apenas pela questão fiscal. Como alguns dos tradicionais destinos de férias e de residência secundária dos franceses são países árabes a braços com focos de instabilidade – Turquia ou Tunísia, por exemplo –, a procura por alternativas aumentou.

E os números falam por si. Só no ano passado foram transacionadas mais de 127 mil casas, um aumento de 18,5% face ao ano anterior e muito próximo do registado há sete anos, quando foram negociados quase 130 mil imóveis. O investimento estrangeiro representou em 2016 cerca de 23% das transações efetuadas, com Lisboa, Porto e a região do Algarve a disputarem a atenção dos investidores.

Segundo os dados da APEMIP, os franceses foram os estrangeiros que mais investiram em imóveis em Portugal (25%), seguindo-se os ingleses (19%), os brasileiros (10%), os suíços e os chineses, que caíram para quinto lugar.

Maior procura

Esta realidade também é reconhecida pelas mediadoras contactadas pelo i. E a opinião é unânime: a tendência de vir para Portugal atrai por ser moda, pela qualidade de vida e pelas vantagens económicas que possibilita.

No primeiro semestre de 2017, o segmento internacional teve um impacto nas vendas da rede Century 21 Portugal de cerca de 23% – ainda assim, refletindo um ligeiro decréscimo face aos 27% verificados em igual período do ano passado. Os mercados internacionais com posição mais relevante na aquisição de imóveis foram a França, Brasil, Reino Unido e Bélgica.

Segundo a mediadora, o segmento internacional apresenta uma procura por imóveis até 200 mil euros, maioritariamente tipologias T2 nas regiões de praia e zonas rurais. No centro de Lisboa, Porto e Linha de Cascais, este valor sobe até aos 500 mil euros. “Os clientes internacionais valorizam o lifestyle que o país oferece, a qualidade da construção, as modernas infraestruturas, o valor competitivo do imobiliário em Portugal, comparativamente com outros países, e o programa de residentes não habituais continua a ser um fator relevante de atratividade”, salienta.

Zonas históricas esgotadas

Também a ERA admite que a elevada procura de habitação por parte de estrangeiros tem vindo a aumentar. Lisboa, Porto e Algarve são as regiões onde os estrangeiros continuam a comprar casa. Mas garante que os franceses, em particular, procuram o centro das cidades, as zonas históricas, uma vez que “valorizam os imóveis com charme e com detalhes que remetem para as tradições portuguesas”.

No entanto, João Pedro Pereira, da ERA, lembra que “já se começa a verificar alguma procura em cidades de menor dimensão, onde os preços são mais atrativos e com bom potencial de valorização a prazo”.

A opinião é partilhada pela Remax. Segundo a mediadora, os franceses procuram essencialmente apartamentos nas zonas históricas, maioritariamente em Lisboa. A par dessas zonas também gostam de outras que estejam na moda, como o Chiado, Príncipe Real ou Santos.

“Tanto procuram casas antigas para reabilitar como imóveis já reabilitados. Por estes imóveis, nestas zonas, estão dispostos a pagar entre 4500 e seis mil euros o metro quadrado”, refere ao i Beatriz Rubio, CEO da Remax.

Mais uma vez, como a oferta escasseia na capital, a responsável admite que já se nota uma procura por alternativas em zonas emergentes como, por exemplo, a Ericeira, Bucelas ou Alcácer do Sal. “Nestas zonas procuram casas engraçadas, mais típicas, por reabilitar. Ainda não tem muita expressão, mas é um mercado emergente”, acrescenta.