O terrorismo não devia ser usado como metáfora


Desta vez foi Barcelona, uma cidade mais próxima de nós, portugueses. Um lugar que muitos nossos universitários escolhem para fazer Erasmus. 


Uma terra “hermana”, a cidade mais bonita do mundo na literatura de Manuel Vásquez Montalbán, “A Cidade dos Prodígios” de Eduardo Mendonza, a cidade que também enerva o adorável barcelonês Enrique Vila-Matas por ter que tropeçar em obras de Gaudí em todo o lado. Mais uma vez, o terrorismo que ataca na Europa tem como alvo cidades felizes – Londres, Paris, Berlim, Nice. Cidades que têm como maior ativo o seu cosmopolitismo, a mistura de pessoas vindas do mundo inteiro, que são livres e bonitas.

O atentado de Barcelona foi o oitavo no espaço de um ano que recorreu ao atropelamento como forma de matar. Aparentemente, passou a ser a norma e, ao contrário do que se pode passar com as armas (que podem ser traficadas mas cuja propriedade ainda é regulada por leis) qualquer radical tem acesso fácil a uma carrinha. Como conseguir que as pessoas se sintam mais seguras nas suas cidades?

Evitar que “qualquer um” possa entrar no país não parece solução – a maior parte dos autores, ou presumíveis autores dos atentados terroristas, são europeus radicalizados. O turismo de Barcelona vai, naturalmente, agora sofrer as consequências do atentado terrorista. É inevitável. É uma trágica coincidência que isto aconteça quando muitos cidadãos em Barcelona declararam guerra aos turistas de uma forma algo xenófoba. As frases que foram escritas em paredes de Barcelona onde se lia “turistas iguais a terroristas” têm neste momento uma ressonância trágica.

Todos nós utilizamos de vez em quando a palavra “terrorista” como metáfora de qualquer coisa que não nos agrada. Mas de cada vez que acontece uma tragédia destas, percebe-se que fazê-lo é a coisa mais estúpida do mundo. Terrorismo é terrorismo. Não tem comparação possível com qualquer outra ação. Utilizá-lo como metáfora é banalizá-lo.