Esquerda faz coligação inédita em Loures

Esquerda faz coligação inédita em Loures


A polémica candidatura de André Ventura ajudou a que o entendimento fosse possível 


O Bloco de Esquerda fez um acordo inédito com o Livre e o Movimento de Alternativa Socialista (MAS) para concorrer no concelho de Loures, nas eleições autárquicas marcadas para dia 1 de outubro. A iniciativa partiu do Bloco de Esquerda e surge depois de as autárquicas em Loures terem ganho uma dimensão nacional com as declarações de André Ventura sobre a comunidade cigana.

“A esquerda que se leva a sério percebe a necessidade de dar um sinal claro ao país, porque as eleições autárquicas em Loures ganharam uma dimensão nacional. Esse sinal passa por unir esforços para derrotar de forma taxativa uma candidatura autoritária e agressiva”, diz ao i Fabian Figueiredo, candidato do Bloco de Esquerda à câmara de Loures.

No boletim de voto vai aparecer a sigla do Bloco de Esquerda, mas as listas para a câmara municipal contarão com nomes do Livre e para a Assembleia Municipal com militantes do MAS. “Houve disponibilidade entre as partes para afastar eventuais divergências e concentramo-nos nas convergências”, afirma Fabian Figueiredo.

A necessidade de uma aliança à esquerda é uma das bandeiras do Livre desde o primeiro dia, mas esta é a primeira vez que o partido fundado por Rui Tavares – que entrou em ruptura com o BE e fundou o Livre – faz uma coligação pré-eleitoral juntamente com o BE. “É um concelho que trouxe ao de cima a xenofobia e o racismo. Quando o Bloco nos contactou, neste caso foi o Bloco que nos contactou, achamos que devíamos dar força à candidatura do BE, porque é uma candidatura que se distingue das outras”, justifica Pedro Mendonça.

O dirigente do Livre admite que o polémico candidato do PSD ajudou a que esta aliança fosse possível. “Pode ter facilitado o encontro dos partidos. Qualquer cidadão com princípios democráticos fica chocado com uma candidatura destas e fica chocado com o facto de o PSD apoiar um candidato que faz afirmações graves e perigosas para a sociedade que todos desejamos”.

Tiago Castelhano, do MAS, admite também que o aparecimento de um candidato com as características de André Ventura teve “um peso importante. Existe uma vontade de convergir na sequência das declarações de André Ventura. Um discurso próximo do Trump, um discurso racista e xenófobo”. O responsável do MAS destaca ainda o facto de o Bloco de Esquerda apresentar, em Loures, uma candidatura que “combate a direita e não tem acordos com o PS”.