Porque não sabemos onde gastam o nosso dinheiro?


Há coisas neste país que não se entendem. Os milhões de euros que desapareceram por artes mágicas dos bancos – dinheiro esse, nalguns casos, emprestado por outros bancos com a finalidade de comprar ações bancárias – que nem a troika foi capaz de obrigar o Estado português a revelar, pelo menos no que diz respeito…


 Mas por que carga de água é que os partidos não deixam que se saiba quem é que emprestou e a quem é que foi emprestado esse dinheiro? Faz algum sentido não sabermos como foi destruído o dinheiro da Caixa Geral de Depósitos, já para não falar dos outros bancos? Nenhum!

Em Portugal, muitas matérias passam a segredo de Estado com muita facilidade. Veja-se o caso dos mortos do incêndio de Pedrógão Grande. Não seria natural que as autoridades competentes dissessem, sem margem para dúvidas, quem morreu, onde e em que condições? Passado mais de um mês do trágico acontecimento, finalmente saiu uma lista, mas que não diz onde e como morreram essas pessoas. Mesmo quando se quer saber que acidentes rodoviários provocaram mortes nesses dias, a resposta não chega. Isto é sinal de um país democrático? Não é, embora as democracias não sejam perfeitas.

E o que dizer do que se passou esta semana, quando o primeiro-ministro diz com a maior cara-de-pau que os mortos só estiveram em segredo de justiça a partir do dia 14 de julho? Este governo, como outros no passado de outras cores políticas, não gosta de transparência. Se assim fosse, os contribuintes teriam direito a saber quanto dinheiro se gasta no combate aos incêndios e para onde vai cada tostão. É que a indústria dos incêndios envolve muitos milhões e a da prevenção envolve verbas que nada têm a ver com as do combate.

A sociedade civil tem de obrigar os governos a serem bem mais transparentes do que são. É uma questão cultural que só mudará com pressão da opinião pública. Se o Estado sabe todos os tostões que ganham os trabalhadores por conta de outrem, por que razão não haveremos de saber o mesmo em relação ao Estado?