Nenhum jornal tem prazer em anunciar mortos, onde quer que eles estejam. Quando se noticia uma tragédia, não deixamos de ser pessoas, e acrescentar mais mortes a uma lista não é, seguramente, o que se gosta de fazer. Desde a primeira reportagem, a 18 de junho, que havia relatos de que teriam morrido muitas mais pessoas. Falava-se em números que ultrapassam os três dígitos, mas não fomos por aí.
O que começou a tornar-se muito estranho foi o jogo do gato e do rato que as autoridades passaram a fazer. Desde quando é que o nome daqueles que morrem numa tragédia pode ser considerado segredo de justiça? Por essa ordem de ideias, ainda hoje não se saberia quantas pessoas perderam a vida nos atentados às Torres Gémeas de Nova Iorque. É óbvio que toda esta história está muito mal contada e o segredo só adensa o mistério. Então o bombeiro que morreu na sequência de o carro onde seguia ter tido um acidente é contabilizado na lista dos 64 mortos e outros que pereceram em situações idênticas já não o são?
E que sentido faz dizer que há 64 mortos e não divulgar essa lista? Vários advogados ouvidos pelo i confirmam que não faz sentido algum manter os nomes em segredo de justiça. Quando as seguradores querem começar a indemnizar as famílias e não podem por causa desse segredo, estamos perante o quê? O governo revela um desnorte considerável e uma tentação de impor a lei da rolha muito estranha… Ao não divulgar a lista dos que perderam a vida, impossibilita as populações de acrescentarem os nomes dos seus que ficaram debaixo das cinzas.
Se não tem nada a esconder – e esperemos bem que não e que as notícias estejam erradas – seria de muito bom tom revelar de uma vez por todas os nomes dos que morreram por causa dos incêndios. Ou será que estamos a voltar ao tempo da outra senhora?