Governo organizou focus group para saber impacto dos fogos na sua popularidade

Governo organizou focus group para saber impacto dos fogos na sua popularidade


Governo tem dados que permitem concluir que a tragédia de Pedrógão não afectou relação entre o primeiro-ministro e os portugueses


O governo suspirou de alívio, pelo menos para já. Depois da tragédia dos fogos, a popularidade de António Costa não foi beliscada. Pelo menos é esse o resultado das primeiras análises dos “focus group” encomendadas pelo governo na sequência dos incêndios.

António Costa temeu pelas consequências políticas para a imagem do seu executivo dos incêndios de Pedrógão Grande. Não era para menos. “A maior tragédia do Portugal democrático”, como disse ontem António Costa – esquecendo-se do desastre ferroviário de Alcafache com 49 mortos e 64 desaparecidos ou da queda do avião da TAP na Madeira em 1977 que provocou 131 mortos – poderia transfomar-se num “volte-face” para a popularidade do primeiro-ministo, que tem vindo a aumentar desde que formou governo com o apoio do PCP e do Bloco de Esquerda.

Mas a tragédia não teve repercussão na popularidade do governo. Segundo o i soube, os resultados dos primeiros “focus group” realizados revelam os portugueses estão a compreender a posição do primeiro-ministro e não o culpam pela falhas do Estado que redundaram em 64 mortos.

António Costa enfrentou ontem o parlamento num tom grave. Só Assunção Cristas, do CDS, atacou o primeiro-ministro de forma dura. Passos Coelho – eventualmente travado por lhe ter saído pela boca fora a falsa notícia dos suicídios – argumentou com o primeiro-ministro com enorme moderação.

À questão sobre o apuramento das responsabilidades sobre a tragédia, António Costa disse que vai esperar por todos os relatórios que pediu.

“Prefiro aguardar conclusões para eu próprio tirar conclusões” e “estarei cá para assumir todas as responsabilidades que forem necessárias serem assumidas” foram as expressões utilizadas pelo primeiro-ministro para vincar que não se eximirá de arcar com responsabilidades. Até onde irá esse “assumir das responsabilidades” afirmado por António Costa não se sabe.

Passos Coelho tinha tocado no ponto sensível: “Parece-me evidente que existe responsabilidade objetiva do Estado”, disse o líder do PSD, pedindo urgência já que a situação criada “dá aos cidadãos uma intranquilidade e insegurança que têm que ser ultrapassadas”.

Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, esteve na mesma linha, pedindo a assunção de responsabilidades e apontando diretamente ao SIRESP – “Há falhas já conhecidas e que precisam já de uma resposta”.

António Costa concordou que as divergências entre a versão da Proteção Civil e a versão do SIRESP “deixam de ser explicável”. “Essa divergência tem que ser esclarecida e assumida, primeiro por dever ético e segundo por dever legal”. O governo vai averiguar se houve incumprimento do contrato por parte do SIRESP. Costa está a aguardar o relatório do Instituto de Telecomunicações e admitiu desde já uma nova revisão do contrato com o SIRESP.

Quando chegou a ver de Assunção Cristas falar, António Costa já tinha ganho o debate, aquele que poderia ser o pior debate parlamentar da sua vida política.

Cristas foi dura: “A pergunta política que é preciso fazer é: como foi possível acontecer esta tragédia?”. Resposta de Costa: “Essa não é uma pergunta política. É a pergunta que qualquer pessoa faz”. E repetiu que só teria conclusões quando tivesse as respostas que colocou aos vários organismos antes de se “pôr a dar palpites”.

“Esperava mais deste debate”, confessou Cristas que se viu sozinha na posição de confronto aberto e total com o primeiro-ministro. “O primeiro-ministro tem que ter responsabilidade. Se tem versões contraditórias, tem que sentar todos à mesma mesa. Não há ninguém no governo que ponha ordem na casa? A confiança está destruída e continuará destruída. O que se assistiu é um espectáculo de falhanço da coordenação”.

Costa manteve a souplesse e repetiu pela enésima vez todos os seus passos – “Não estive em silêncio em matéria de apuramento de responsabilidades”; “Se há forma de dar confiança ao país é o governo saber que o governo não manda calar nem esconde aquilo que houve”, disse, aludindo ao facto do executivo estar a tornar públicos todos os relatórios que chegam – que são contraditórios entre si.

“Cada vez mais perplexa fico. O primeiro-ministro não tem ideia da sua função, do que significa ser primeiro-ministro, que é coordenar a administração pública”, insistiu Cristas, num debate em que foi a única a quebrar o ambiente ainda de luto.

Costa segue o seu rumo – “perguntar primeiro, tirar conclusões depois”. Exactamente o que fez ao povo, através do focus group, a quem perguntou se a imagem do governo saiu danificada dos fogos. Por enquanto, não saiu.