Política e politiquice


Com uma “silly season” antecipada, há de tudo lá por fora e cá dentro


1) Impressiona a forma como Emmanuel Macron conquistou o poder em França, arrebatando primeiro o Eliseu e agora uma mais que provável maioria absoluta parlamentar. E ambas as coisas menos de um ano depois de ter rompido com o PS francês que desapareceu praticamente do mapa, o que permitiu a afirmação de um partido centrista ligado ao novo presidente.

Macron é o homem do momento e nem a circunstância de ter havido mais de 50% de abstenções na primeira volta das legislativas ofusca o seu brilho em França e no mundo.

Já tudo praticamente foi dito e escrito sobre o jovem presidente francês, mas há um alerta que se deve fazer desde já. Macron criou tanta expectativa que não tem margem de erro possível. Tendo à direita e à esquerda movimentos populistas e havendo em França um movimento sindical muito forte, tem de mostrar serviço rapidamente para não se confrontar com o que por aquelas bandas acontece frequentemente: os confrontos de rua nas áreas deprimidas e de pobreza, onde residem milhares de marginalizados revoltados, nomeadamente muçulmanos franceses originários das antigas colónias. Ver-se-á rapidamente se Macron tem mesmo substância, mas para já ele vê “La Vie en Rose”.

2) No Reino Unido assistiu-se à derrota da politiquice, quando Theresa May não conseguiu renovar a maioria absoluta herdada de Cameron, outro oportunista que um dia decidiu inopinadamente fazer um referendo sobre a permanência dois britânicos na EU, criando uma confusão planetária. Quanto a May está agora dependente de acordos com unionistas da Irlanda do Norte para governar. Porém, já ninguém aposta na sua permanência em Downing Street por muito tempo, sobretudo quando tem de enfrentar negociações com a União Europeia por causa do Brexit. Ao convocar eleições May mostrou ser uma vira-casacas que achava poder reforçar-se só porque as sondagens para isso apontavam. Enganou-se. A ganância política não passou, apesar de se tratar da especialidade da senhora que chegou a ser contra o Brexit que agora defende.

3) Foi comovente ver o sucesso da visita da dupla Marcelo-Costa ao Brasil para assinalar o 10 de Junho, que parece finalmente ser o dia de um povo e não de um país político. É a prova de que os portugueses não são onze milhões mas quase vinte, ao contrário do que lamentavelmente chegou a proclamar um mote da nossa selecção nacional de futebol campeã europeia em 2016 e que fundamentalmente contou com o apoio da nossa diáspora. O facto negativo da viagem da dupla do momento ao Brasil teve que ver com a demagogia debitada por Costa a respeito da defesa da língua portuguesa. Tudo tretas. Em Portugal não se faz rigorosamente nada para defender o idioma. Veja-se a morte lenta do essencial Ciberdúvidas que carece de apoios do Estado e das fundações privadas. Uma delas bem poderia ser a Francisco Manuel dos Santos que está farta de publicar algumas obras razoavelmente desinteressantes, além de mal escritas. Isto para não falar da circunstância da televisão pública andar constantemente a mudar o horário ou a suspender o programa “Cuidado Com a Língua!”. Mais-valia Costa ter posto a viola no saco quando se lançou em auto-elogios e logo no Brasil, onde efectivamente se cultiva a língua de Camões, embora à maneira deles. Mas isso é mérito de lá.

4) Ir buscar lã e sair tosquiado. Foi rigorosamente o que aconteceu a Passos Coelho quando se atirou à nomeação de Lacerda Machado para a TAP, omitindo a circunstância de ser não-executivo e de representar capital do Estado. Passos falou de pouca vergonha por Lacerda ter sido o negociador da reversão da desastrosa privatização. Errou. Devia era ter louvado a coerência. Se queria falar de nomeações escandalosas tinha à mão de semear a de Sérgio Monteiro, contratado quando ainda era secretário de Estado por 35 mil euros mês para vender o Novo Banco, tarefa que correu particularmente mal. É verdade que o caso de Sérgio Monteiro tem mais a ver com absoluta falta de vergonha do que com pouca vergonha. Num ponto Passos tem razão. Aos poucos o PS está a monopolizar tudo, consolidando, aliás, posições que lhe foram oferecidas no tempo do governo Passos/Portas. Além disso, a equipa indicada para a TAP pelo governo parece um grupo de infantes ao pé dos executivos.

5) Depois de ter sido saneada ao jeito do PREC, a oposição social-democrata de Lisboa decidiu não ir às urnas para combater Pedro Pinto, que fica sozinho na corrida. É a chamada retirada estratégica. Pedro Pinto vai ganhar a distrital, mas se não conquistar o município terá de prestar contas perante os seus ressuscitados adversários.

6) Foi um grande sucesso “o saco de compras em plástico resistente” que o Expresso forneceu esta semana com o logo da EDP a quem comprasse um exemplar do semanário. A boa notícia é que o saco e o jornal inerente esgotaram em muitos sítios. Quanto ao resto, é ler o “lead” da notícia sobre as rendas. “Honni soit qui mal y pense”.

Jornalista