Conseguirá Emmanuel Macron fazer isso? O seu programa liberal e a sua profissão de fé na Europa-como- -ela-está são dois enormes riscos para o engordar de madame Le Pen, que parte para as legislativas do mês que vem com o impressionante resultado de 11 milhões de votos. O novo partido que anunciou que vai criar parte de uma derrota-vitória que lhe deu uma percentagem enorme dos votos dos franceses.
O presidente eleito deu a entender, nos discursos de ontem, que percebeu perfeitamente a força de Le Pen. De uma maneira sóbria, procurou começar a conquistar o eleitorado que votou na opositora. Ao dizer que compreende a “cólera” dos “lepenistas” e ao comprometer-se a trabalhar para “reduzir as desigualdades”, Macron dá um sinal de ter compreendido o perigo iminente.
O problema é que, para diminuir as desigualdades, a receita Macron não é exatamente a mais correta: aplicar um programa liberal no país democrático mais estatizante do mundo pode ser uma receita para o desastre – leia-se, senhora Le Pen eleita em 2022. Os franceses estão profundamente zangados. Ontem, as eleições registaram 12% de votos brancos ou nulos, um recorde que nunca antes tinha acontecido. Na primeira volta, apenas 2,58% o fizeram e a média, em França, costuma ser de 5%.
Aliás, uma grande percentagem de votantes em Macron (43%) fizeram-no mais por ser “o mal menor” do que por genuína adesão ao programa do candidato. Não vale a pena encomendar os foguetes. É evidente que a vitória de Macron é um enorme suspiro de alívio face à possibilidade de uma vitória de Marine Le Pen. Mas se Macron apenas servir para abrir caminho a Le Pen em 2022, ter-se-á aprendido muito pouco com a implosão francesa.