Breve memória de “massacres químicos”


Não sei se ainda será permitido incendiar e massacrar com napalm, o “fogo líquido”, como fizeram as tropas dos EUA nas guerras da Coreia e do Vietname


Chega a ser obsceno invocar a proibição do uso de determinadas armas mortíferas numa guerra para assim admitir, por exclusão de partes, que existem outras armas com as quais é perfeitamente legítimo – e até “civilizado”, sabe-se lá! – trucidar e liquidar inimigos, lenta ou imediatamente, sejam eles militares ou civis considerados “vítimas colaterais”! 

Vem isto a propósito do “massacre químico” na Síria. Sem esperar por qualquer indagação e confirmação sobre quem o fez, a América imperial do “bondoso” Donald Trump resolveu retaliar, lançando 60 mísseis Tomahawk sobre território sírio, como quem diz: podiam ter massacrado com mais “limpeza”! Por exemplo, com bombas incendiárias ou com bombas de fragmentação, como aquelas com que as tropas dos EUA e de outros países da NATO gostam tanto de bombardear. Que diabo! Vejam lá se trucidam os vossos inimigos, sejam eles militares ou “civis colaterais”, com armas mais “civilizadas”, que não sejam proibidas por convenções internacionais. É que estas matam imenso sem escandalizar tanto!

Porque não fazer como a Royal Air Force e a USA Air Force durante a ii Guerra Mundial, ao despejarem toneladas de bombas incendiárias sobre as cidades alemãs (como Dresden) e sobre Tóquio, para que não sobrevivessem ao “churrasco” civis alemães e japoneses à volta dos alvos. Essas sim, eram bombas “autorizadas” a aterrorizar e a massacrar civis! 

Já não será tão aconselhável, todavia, o recurso às bombas atómicas, como as que foram lançadas pela USA Air Force sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki no final da ii Guerra Mundial. Essas terão matado, imediata ou lentamente, mais de 200 mil civis japoneses. Mas, na altura, foram consideradas armas muito “adequadas” porque, dizem, permitiram “antecipar” o fim da ii Guerra Mundial nas regiões da Ásia e do Pacífico.

Não sei se ainda será permitido incendiar e massacrar com napalm, o “fogo líquido”, como fizeram as tropas dos EUA nas guerras da Coreia e do Vietname, por serem bombas aptas a transformar a selva e as vítimas humanas em “churrasco”, o que parecia “aceitável”.

Mas convirá ter cuidado com o agente laranja, esse famoso cocktail de herbicidas utilizado como desfolhante pelas tropas dos EUA na guerra do Vietname. Trata-se de uma mistura dos herbicidas 2,4-D e 2,4,5-T que, “por negligência e pressa em utilizá-la” como arma, “foi produzida com inadequada purificação, apresentando elevados teores de um subproduto cancerígeno resultante da síntese do 2,4,5-T: a tetraclorodibenzodioxina”. A sua utilização como arma pelas “negligentes e apressadas” tropas yankees deixou sequelas terríveis nas populações do Vietname e, inclusive, nos próprios soldados norte-americanos! 

Segundo dados estatísticos oficiais, “entre 1961 e 1971, as tropas dos EUA aspergiram 80 milhões de litros de herbicidas, contendo mais de 400 quilos de dioxina, sobre o território vietnamita”. Esses desfolhantes “destruíram o habitat natural, deixaram 4,8 milhões de pessoas expostas ao agente laranja e provocaram enfermidades irreversíveis, sobretudo malformações congénitas, cancros e síndromes neurológicos, em homens, mulheres e crianças vietnamitas”. Mas os EUA nunca foram condenados por “crimes de guerra”.

Claro que será sempre mais civilizado o recurso às bombas de fragmentação, como as que foram lançadas pela USA Air Force nos bombardeamentos efetuados durante a invasão do Iraque, a partir de 2003, e depois nos bombardeamentos na Líbia e na Síria. E também há, claro, essa arma ainda mais civilizada que é o drone: mata que se farta com comando teleguiado. Perante tal forma de matar à distância, os presidentes dos EUA até poderão dizer, como Hamlet na peça de Shakespeare: “Quero que da minha boca saiam punhais, mas que eu não toque em nenhum deles.” O que é preciso é matar com “limpeza”!

 

Escreve à sexta-feira


Breve memória de “massacres químicos”


Não sei se ainda será permitido incendiar e massacrar com napalm, o “fogo líquido”, como fizeram as tropas dos EUA nas guerras da Coreia e do Vietname


Chega a ser obsceno invocar a proibição do uso de determinadas armas mortíferas numa guerra para assim admitir, por exclusão de partes, que existem outras armas com as quais é perfeitamente legítimo – e até “civilizado”, sabe-se lá! – trucidar e liquidar inimigos, lenta ou imediatamente, sejam eles militares ou civis considerados “vítimas colaterais”! 

Vem isto a propósito do “massacre químico” na Síria. Sem esperar por qualquer indagação e confirmação sobre quem o fez, a América imperial do “bondoso” Donald Trump resolveu retaliar, lançando 60 mísseis Tomahawk sobre território sírio, como quem diz: podiam ter massacrado com mais “limpeza”! Por exemplo, com bombas incendiárias ou com bombas de fragmentação, como aquelas com que as tropas dos EUA e de outros países da NATO gostam tanto de bombardear. Que diabo! Vejam lá se trucidam os vossos inimigos, sejam eles militares ou “civis colaterais”, com armas mais “civilizadas”, que não sejam proibidas por convenções internacionais. É que estas matam imenso sem escandalizar tanto!

Porque não fazer como a Royal Air Force e a USA Air Force durante a ii Guerra Mundial, ao despejarem toneladas de bombas incendiárias sobre as cidades alemãs (como Dresden) e sobre Tóquio, para que não sobrevivessem ao “churrasco” civis alemães e japoneses à volta dos alvos. Essas sim, eram bombas “autorizadas” a aterrorizar e a massacrar civis! 

Já não será tão aconselhável, todavia, o recurso às bombas atómicas, como as que foram lançadas pela USA Air Force sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki no final da ii Guerra Mundial. Essas terão matado, imediata ou lentamente, mais de 200 mil civis japoneses. Mas, na altura, foram consideradas armas muito “adequadas” porque, dizem, permitiram “antecipar” o fim da ii Guerra Mundial nas regiões da Ásia e do Pacífico.

Não sei se ainda será permitido incendiar e massacrar com napalm, o “fogo líquido”, como fizeram as tropas dos EUA nas guerras da Coreia e do Vietname, por serem bombas aptas a transformar a selva e as vítimas humanas em “churrasco”, o que parecia “aceitável”.

Mas convirá ter cuidado com o agente laranja, esse famoso cocktail de herbicidas utilizado como desfolhante pelas tropas dos EUA na guerra do Vietname. Trata-se de uma mistura dos herbicidas 2,4-D e 2,4,5-T que, “por negligência e pressa em utilizá-la” como arma, “foi produzida com inadequada purificação, apresentando elevados teores de um subproduto cancerígeno resultante da síntese do 2,4,5-T: a tetraclorodibenzodioxina”. A sua utilização como arma pelas “negligentes e apressadas” tropas yankees deixou sequelas terríveis nas populações do Vietname e, inclusive, nos próprios soldados norte-americanos! 

Segundo dados estatísticos oficiais, “entre 1961 e 1971, as tropas dos EUA aspergiram 80 milhões de litros de herbicidas, contendo mais de 400 quilos de dioxina, sobre o território vietnamita”. Esses desfolhantes “destruíram o habitat natural, deixaram 4,8 milhões de pessoas expostas ao agente laranja e provocaram enfermidades irreversíveis, sobretudo malformações congénitas, cancros e síndromes neurológicos, em homens, mulheres e crianças vietnamitas”. Mas os EUA nunca foram condenados por “crimes de guerra”.

Claro que será sempre mais civilizado o recurso às bombas de fragmentação, como as que foram lançadas pela USA Air Force nos bombardeamentos efetuados durante a invasão do Iraque, a partir de 2003, e depois nos bombardeamentos na Líbia e na Síria. E também há, claro, essa arma ainda mais civilizada que é o drone: mata que se farta com comando teleguiado. Perante tal forma de matar à distância, os presidentes dos EUA até poderão dizer, como Hamlet na peça de Shakespeare: “Quero que da minha boca saiam punhais, mas que eu não toque em nenhum deles.” O que é preciso é matar com “limpeza”!

 

Escreve à sexta-feira