O holandês voador, bronco e racista


A morte política do ainda presidente do Eurogrupo já tinha sido decretada nas eleições holandesas. 


A morte política do ainda presidente do Eurogrupo já tinha sido decretada nas eleições holandesas. O seu trabalhinho à frente dos ministros das Finanças da zona euro – em que competia taco a taco, em xenofobia e extremismo, com o histórico Wolfgang Schäuble – valeu-lhe um resultado pasokiano nas eleições no seu país. Quando os “progressistas” (como de uma forma patética, ontem, o presidente do Eurogrupo se autonomeou) competem no radicalismo xenófobo com a direita, o povo prefere o material autêntico. Dijsselbloem é um símbolo do fim da Europa.

Ele está morto – as eleições mataram-no como o fizeram ao grego Papandreou –, mas a Europa também está morta. Os euro-otimistas criticam os europessimistas por estarem continuamente a encomendar o caixão para “os ideais europeístas”. Não vale a pena tapar os olhos: nas vésperas da comemoração dos 60 anos do Tratado de Roma, o que vemos é o suicídio assistido pela ascensão de uma cultura de direita, que deu lugar com bastante velocidade a uma cultura de extrema-direita, com todos os ingredientes de que esta se compõe: xenofobia, horror ao estrangeiro, extinção da solidariedade europeia e da social-democracia. Ver os socialistas portugueses aos saltos de alegria por cumprirem as reduções dos défices imbecis que lhes são impostos pelas instâncias europeias compostas por mortos-vivos também é um sinal do mundo ao contrário.

O problema com o presidente do Eurogrupo é que ele e os colegas europeus encarnam o fantasma do holandês voador – o navio que, segundo a lenda, atraiu a maldição de navegar eternamente e provocar naufrágios a quem o avistasse. A lenda do holandês voador é uma metáfora da Europa que comemora os 60 anos do Tratado de Roma. Jeroen Dijsselbloem é um bronco racista, como tantos outros na Europa, que abriram a caixa de Pandora que a social-democracia e os democratas cristãos conseguiram estancar durante 60 anos e que agora acabou – aquela onde, depois da ii Guerra Mundial, tinha sido trancada a extrema-direita.