Rédito a crédito


Inventados, organizados e mantidos por singulares ou empresas, superlativamente alavancados desde o advento do online, a estrutura destes esquemas não difere – uns pretendem enriquecer fraudulentamente, aproveitando-se dos outros, vulgarmente conhecidos como papalvos.


A existência do serviço ou do produto, ou a credibilidade da proposta, em que investem, é-lhes indiferente. Move-os a ganância ou a ingenuidade do lucro fácil e rápido. Emaranham-se em esquemas Ponzi, conhecidos como esquemas de vendas em pirâmide. Acabam, todos, por norma, mal: o que engoda e o engodado. Bolhas criadas pela TelexFREE, pela AFINSA, a Ezubo, rebentaram-lhes estrondosamente, nos bolsos.

Carlo Ponzi, italiano de nascimento, celebrizou-se nos anos 20, por engendrar uma máquina de fazer de dinheiro, que atraía os investidores através de promessas de lucros de 50% em 45 dias, num esquema relacionado com a compra de selos. Enriqueceu estratosfericamente, na mesma proporção em que os investidores empobreceram drasticamente. Acabou, porém, na indigência.

Inventados, organizados e mantidos por singulares ou empresas, superlativamente alavancados desde o advento do online, a estrutura destes esquemas não difere – uns pretendem enriquecer fraudulentamente, aproveitando-se dos outros, vulgarmente conhecidos como papalvos, que, porque acreditam no Pai Natal, julgam que agora-é-que-é-descobri-isto-que-só-eu-sei-e-vou-enriquecer.

O expoente máximo recente de fraude financeira, com recurso ao esquema Ponzi, foi descoberta em 2008 e protagonizada por Bernard Madoff. Cumpre a inexequível pena de prisão de 150 anos, ao que parece, totalmente inútil, quanto aos hipotéticos objetivos reabilitativos, pois Bernie, reincidiu na prática criminosa, desta feita a revender chocolates suíços aos companheiros de encarceramento. Diferente na magnitude, pouco original no estilo, mas fiel aos seus princípios.

Por cá, muitos ainda se recordam, por certo, da doce velhinha Dona Branca, a “Banqueira do Povo” que atribuía juros de 10%, a quem lhe confiasse as economias: 10 anos de prisão, onde não acabou, face à provecta idade que apresentava à data da reclusão. 

Seja qual for o contexto, o certo é que se continua a cair e recair,nestes buracos negros. Por vezes confundidas com vendas diretas, essas devidamente regulamentadas (quem nunca ouviu falar duma espécie de chás-de-panela da Tupperware) e que constituem o maior criador europeu de oportunidade de negócio independente, tão mais atrativo quanto maior o grau de recessão económica de um país, a pirâmide financeira pode à primeira vista não parecer uma burla, pois os rendimentos são efetivamente pagos aos (primeiros) participantes.Isco óbvio: se assim não fosse, inexistiria o fundamental passa-palavra, vital neste tipo de embuste.

Nada fez para a obtenção do rendimento? Aliciaram-no para recrutar novos membros? Não reduziram a escrito as promessas feitas? Sentiu-se desconfortável com frases batidas, de encorajamento psicológico? O pagamento é feito por sistemas eletrónicos tipo paypal? Nem sabe muito bem o que a empresa ou o indivíduo vende ou que serviço promove?
Reconhece o protagonista deste filme? Fuja. Consulte no site do Banco de Portugal, a lista de entidades autorizadas para o exercício da atividade de receção de depósitos ou de outros fundos reembolsáveis. Denuncie a situação à Comissão de Mercado de Valores Imobiliários, ao Banco de Portugal, à Polícia Judiciária ou ao Ministério Público.
E promova doravante – aí sim, afoitamente –  a sua educação financeira.