De Colchester para Barrancos


Muitos políticos nacionais por essa Europa fora habituaram-se a ter na União Europeia um refúgio fácil para as suas falhas e outros um bode expiatório para ancorar ideias sem substância, ou uma linha programática desfasada das necessidades do mundo de hoje


Se hoje se fizesse um referendo à permanência de cada um dos 27 Estados – Membros da União Europeia, desconfio que sairiam um ou dois países quanto muito. O resultado do Brexit de sexta-feira trouxe quase de forma imediata alguma realidade escondida à superfície. E assim deverá continuar. Não significa isto que o projeto europeu esteja a correr propriamente de feição e não tenha havido falhas graves num passado recente. (Já muito dissecadas e cujo alargamento pouco cuidado e descurando uma maior afirmação política, foi a maior delas todas.) Mas concentrando-nos hoje na realidade pós-brexit verificamos que as falhas mais gritantes, pelo menos as que contam para estes referendos, não dizem necessariamente respeito à complexidade do funcionamento das instituições europeias, mas à defesa pública que é feita das mesmas. E isto também não é de hoje.

Para cada mentira pública do Boris e do Farage, faltou o contraditório de um líder europeu. Em cada debate televisivo, não esteve um veradeirocrata. Os pressupostos do Brexit não foram refutados a nível europeu de forma ativa, pragmática, e, especialmente, mediática. A comunicação social mundial já esclareceu muito melhor os cidadãos nos últimos dias do que em todo o período que antecedeu o Brexit. Uma falha de comunicação gigante. Mas não se pense que os enganos ficaram todos por aqui. Mesmo hoje – continuamos a ter jornais e políticos com responsabilidade (aqui não incluo Catarina, “a grande”) numa crítica quase maioritária a uma possível resposta “apressada” da União Europeia – sem que haja um contraditório a explicar cada passo dado, de modo a que não se verifique uma constante poluição da opinião pública.

Vejamos aqui em concreto: o silêncio ou a ausência de uma resposta contundente sobre o resultado, rapidamente dariam azo à conclusão de que a União que não havia previsto este cenário e que está desunida. A não convocação imediata de um conselho traduzir-se- ia na velha “inércia” da União Europeia para responder aos desafios. Seria expectável para alguns que se esperasse por uma reunião com os 27 Estados – Membros? Faria isso algum sentido? Ou seria mais um hino à burocracia e à mistificação da importância de existir um núcleo duro que actue pragmaticamente sobre questões como estas? Pois… E regressaríamos aos erros da resposta à crise financeira. A cabeça fria hoje tem que ser uma constante e todos os cenários deverão ser contemplados atempadamente, pois caso contrário estaríamos a falar de amadores. E o único amadorismo visível aqui, por parte da União Europeia, é não saber ou se preocupar em comunicar de forma eficaz os passos que dá.

Muitos políticos nacionais por essa Europa fora habituaram-se a ter na União Europeia um refúgio fácil para as suas falhas e outros um bode expiatório para ancorar ideias sem substância, ou uma linha programática desfasada das necessidades do mundo de hoje. O outcome do Brexit já o vinca (basta ter ouvido o Farage um dia depois) e os resultados de ontem em Espanha também serão em certa medida o reflexo disso. Obviamente que isto não invalida a necessidade de os líderes europeus perceberem tudo o que corre mal e a urgência de certas reformas nas instituições. Mas nada deve começar sem uma maior e melhor comunicação. Para que amanhã a senhora de Barrancos, contrariamente à de Colchester ontem, ligue a televisão e perceba a tempo que a Catarina não faz sentido.


De Colchester para Barrancos


Muitos políticos nacionais por essa Europa fora habituaram-se a ter na União Europeia um refúgio fácil para as suas falhas e outros um bode expiatório para ancorar ideias sem substância, ou uma linha programática desfasada das necessidades do mundo de hoje


Se hoje se fizesse um referendo à permanência de cada um dos 27 Estados – Membros da União Europeia, desconfio que sairiam um ou dois países quanto muito. O resultado do Brexit de sexta-feira trouxe quase de forma imediata alguma realidade escondida à superfície. E assim deverá continuar. Não significa isto que o projeto europeu esteja a correr propriamente de feição e não tenha havido falhas graves num passado recente. (Já muito dissecadas e cujo alargamento pouco cuidado e descurando uma maior afirmação política, foi a maior delas todas.) Mas concentrando-nos hoje na realidade pós-brexit verificamos que as falhas mais gritantes, pelo menos as que contam para estes referendos, não dizem necessariamente respeito à complexidade do funcionamento das instituições europeias, mas à defesa pública que é feita das mesmas. E isto também não é de hoje.

Para cada mentira pública do Boris e do Farage, faltou o contraditório de um líder europeu. Em cada debate televisivo, não esteve um veradeirocrata. Os pressupostos do Brexit não foram refutados a nível europeu de forma ativa, pragmática, e, especialmente, mediática. A comunicação social mundial já esclareceu muito melhor os cidadãos nos últimos dias do que em todo o período que antecedeu o Brexit. Uma falha de comunicação gigante. Mas não se pense que os enganos ficaram todos por aqui. Mesmo hoje – continuamos a ter jornais e políticos com responsabilidade (aqui não incluo Catarina, “a grande”) numa crítica quase maioritária a uma possível resposta “apressada” da União Europeia – sem que haja um contraditório a explicar cada passo dado, de modo a que não se verifique uma constante poluição da opinião pública.

Vejamos aqui em concreto: o silêncio ou a ausência de uma resposta contundente sobre o resultado, rapidamente dariam azo à conclusão de que a União que não havia previsto este cenário e que está desunida. A não convocação imediata de um conselho traduzir-se- ia na velha “inércia” da União Europeia para responder aos desafios. Seria expectável para alguns que se esperasse por uma reunião com os 27 Estados – Membros? Faria isso algum sentido? Ou seria mais um hino à burocracia e à mistificação da importância de existir um núcleo duro que actue pragmaticamente sobre questões como estas? Pois… E regressaríamos aos erros da resposta à crise financeira. A cabeça fria hoje tem que ser uma constante e todos os cenários deverão ser contemplados atempadamente, pois caso contrário estaríamos a falar de amadores. E o único amadorismo visível aqui, por parte da União Europeia, é não saber ou se preocupar em comunicar de forma eficaz os passos que dá.

Muitos políticos nacionais por essa Europa fora habituaram-se a ter na União Europeia um refúgio fácil para as suas falhas e outros um bode expiatório para ancorar ideias sem substância, ou uma linha programática desfasada das necessidades do mundo de hoje. O outcome do Brexit já o vinca (basta ter ouvido o Farage um dia depois) e os resultados de ontem em Espanha também serão em certa medida o reflexo disso. Obviamente que isto não invalida a necessidade de os líderes europeus perceberem tudo o que corre mal e a urgência de certas reformas nas instituições. Mas nada deve começar sem uma maior e melhor comunicação. Para que amanhã a senhora de Barrancos, contrariamente à de Colchester ontem, ligue a televisão e perceba a tempo que a Catarina não faz sentido.