Filipe Godinho. “Novas oportunidades podem aparecer mas tenho os pés bem assentes no chão”

Filipe Godinho. “Novas oportunidades podem aparecer mas tenho os pés bem assentes no chão”


O Cova da Piedade ruma à segunda liga pela primeira vez na sua história, mas o “herói” que marcou o golo sabe bem o que é passar por más experiências no futebol


Filipe Godinho é neste momento um dos heróis do futebol na Margem Sul.Porquê? Marcou o golo que carimbou a passagem inédita do Cova da Piedade para a segunda liga portuguesa frente ao Agreense(2-1). Aos 26 anos, o extremo esquerdo chega ao segundo escalão mais importante do futebol ao lado de Silas, “um colega top”. Mas agora já só pensa na conquista do Campeonato Nacional de Seniores(CNS), depois de tantas outras experiências por cá e no estrangeiro que não correram assim tão bem como esta subida.

Com este golo memorável já deve sentir-se um herói almadense, não?

Sim, é verdade, foi um dia memorável para a cidade de Almada, mas não me considero o único herói, há muitos heróis, entre eles os meus colegas, a equipa técnica e a direção, que nunca deixou que nos faltasse nada. Esta subida representa bastante para esta cidade e esperemos que possa continuar a ajudar e a apoiar o clube neste novo capítulo da sua história.

E este feito inédito no clube, como se explica?

Foi uma época complicada em que procurámos e fomos sempre atrás das vitórias. Nunca ninguém nos deu nada, suámos muito durante a semana para podermos triunfar. Creio que a chave deste sucesso foi, sem qualquer dúvida, o espírito de grupo incutido em grande parte pelos mais velhos, e mais velhos não é acabados. A prova disso está à vista de todos, esqueçam as idades e foquem-se no desempenho.

E um desses mais velhos é o Silas, que com 39 anos ainda continua no ativo.

A carreira do Silas fala por si: um jogador com uma capacidade acima da média que acompanhei nos meus tempos no Belenenses e que admirava. E depois é um colega daqueles top que qualquer balneário deseja. Aos 39 anos continua com a mesma vontade de treinar que quando tinha 18 anos, e isso diz muito dele. Fala comigo, diz-me por vezes aquilo que posso fazer para melhorar o meu jogo. É sempre bom termos colegas que nos ajudam a crescer como jogadores e como pessoas.

Fez a formação no Belenenses. 

Sim, formei-me lá, e quando cheguei ao escalão sénior não me foi dada a oportunidade que desejava, mas a vida continuou. Continuo com a mesma ambição que quando tinha 18 anos, essa ninguém me tira, e enquanto acreditar vou estar aí.

Porque é que essa oportunidade nunca chegou?

Nunca ninguém me disse, mas sei que o mister Rui Jorge, que me treinou dois anos, me aconselhou aos responsáveis do clube. O Belenenses passou por uma restruturação, tanto com a saída do mister Jorge Jesus como a nível de presidência, e isso pode ter tido algum peso.

E depois foi passando por emblemas lisboetas, como o Sacavenense ou o 1.o de Dezembro.

Sim, passei pelo Sacavenense, clube de que guardo boas memórias. Passei pelo Odivelas, onde estive pouco tempo até regressar ao Sacavenense, por motivos escolares e incompatibilidade de horários com os treinos. Entretanto, ainda no Sacavenense surge a oportunidade de ir para o Moreirense, e o Belenenses, com as suas exigências de direitos de formação, cortou-me as pernas. Passei também pelo Real Massamá, onde não fui feliz, e regressei ao Sacavenense onde, no fundo, sempre me senti em casa. Depois fui para o 1.o de Dezembro, onde fiz a minha melhor época neste campeonato. E tem sido assim, umas vezes tenho tido azar, outras vezes não fui tão competente quanto deveria ou acabei por decidir mal, quer a nível de escolha de clube nos vários momentos, quer a nível de empresários. Mas o caminho é em frente, cresci e hoje estou feliz.

Mas também teve uma experiência lá fora, na Polónia, certo?

Se eu contar por onde já passei, entre más experiências pela Europa fora e até por um abandono de um agente português em Itália, não saímos daqui hoje. No momento certo falarei sobre isso. Em relação à experiência na Polónia, sim, não correu como esperado, mas foi importante para o meu crescimento. 

Porquê?

A pressão que fizeram sobre o meu rendimento, que para eles não foi o melhor no imediato. Depois criaram um clima de instabilidade em mim atrasando-se no pagamento, entre outras coisas.

E agora no Cova da Piedade está de pedra e cal, com mais dois jogos na fase de subida e a final do campeonato para disputar. E claro, quer ajudar esta região, que só tem uma equipa profissional, o Vitória de Setúbal.

Sim, um feito desta natureza, e mais concretamente o futebol, que move multidões, acaba sempre por dar algum prestígio à cidade e ajuda a promovê-la na área do desporto. Agora só penso em ser campeão nacional do CNS.Festa não faltará se vencermos. 

E com 26 anos, acha que ainda pode dar um salto maior?

Sim, sinto que a oportunidade vai aparecer novamente, mas tenho os pés bem assentes no chão. Sinto-me bem aqui, criámos um grupo fantástico, mas o futuro ninguém sabe.