Foi de forma inesperada que a Jason Associates surgiu na vida de Maria Levy.
Licenciada em Economia, sempre trabalhou em auditoria ou na área financeira, mas acabaria por perceber que nos recursos humanos conseguiria cumprir a sua vocação: ajudar pessoas, crescer com elas e ver diariamente os frutos do seu trabalho. É isto que agora faz como manager da “The Talent City”, plataforma online de encontro entre empresas e talento jovem. Os desafios que os mais inexperientes enfrentam quando entram no mercado de trabalho são muitos. Esse foi aliás o principal motivo por que surgiu a “The Talent City”, da consultora de recursos humanos. E o grande papão hoje é a concorrência: “Todos competem ao mesmo nível: licenciados, mestres, desempregados…E isso cria insegurança.”
A maioria não se sente confiante para se atirar ao mercado de trabalho, não sabe como construir um currículo ou sequer o que fazer durante uma entrevista. “Mesmo que saiam preparados tecnicamente das universidades, esta nova etapa é um mundo quase desconhecido”, conta Maria Levy, reconhecendo no entanto que as instituições de ensino superior apostam cada vez mais na formação destas competências.
A dificuldade aqui é saber o que fazer para adquirir essas competências. Ter a melhor formação possível? Apostar na experiência profissional antes do mestrado? Ou fazer um gap year? Não existe um caminho único. Depende de pessoa para pessoa: “Para uns passa por continuar a estudar, para outros por estágios ao longo da licenciatura (muito valorizados, porque permitem construir laços e maturidade profissional). Outros preferem ainda envolver-se em associações que desenvolvem aptidões que não são trabalhadas pela universidade.”
ONDE ESTOU E PARA ONDE VOU Uma das grandes dificuldades é saber o que se quer fazer após a licenciatura. Ou que formação será mais útil no futuro profissional. Só que para isso é preciso auto-análise. Descobrir os talentos e profissões que melhor se adaptam ao perfil de cada um é o melhor caminho para não se andar perdido: “Muitas vezes querem todos ir para a mesma área, porque não avaliaram aquilo em que são melhores.”
Para fazerem uma escolha preparada, boa parte dos recém-licenciados opta por procurar uma ou mais experiências profissionais antes de começar o mestrado, o MBA ou a pós-graduação. Mas a gestora de clientes da RHmais Patrícia Pita está convencida de que esta decisão é arriscada. “Nem sempre dá bom resultado. Às vezes é difícil deixar o emprego e voltar ao mestrado, porque a carreira consome tempo e a independência financeira vai adiando esse projecto.”
A alternativa seria conciliar os dois, mas “muitas vezes não é fácil”, e por isso o ideal será os alunos aproveitarem “os estágios de Verão ou curriculares para irem percebendo do que gostam e por onde querem ir”. Essa ginástica já não é tão difícil nos dias que correm, uma vez que as empresas dão cada vez mais flexibilidade a quem quer conciliar estudos e emprego: “Muitas já cedem um dia por semana para os jovens fazerem a tese, deixam-nos sair mais cedo para ir às aulas ou têm academias internas que são verdadeiras universidades.” Seja logo depois do curso seja com uma interrupção pelo meio, uma coisa é certa: com as licenciaturas de Bolonha, de três anos, “há quase uma obrigatoriedade de fazer o grau a seguir – mestrado, MBA ou pós-graduação”, adverte a vice-presidente do departamento de Saídas Profissionais e Empreendedorismo da Associação Académica da Universidade do Minho.
Natália Silva reconhece que por vezes uma experiência vasta pode compensar essa lacuna. A maioria dos estudantes contudo opta por seguir logo para mestrado, como explica a Sonae Sierra a partir da análise das candidaturas que lhe chegam.
DO LADO A AO LADO B Se é certo que a formação é hoje valorizada, existem outras competências fundamentais que vão sendo conquistadas ao longo da vida mas não são mensuráveis pela média ou pelo currículo académico. É o que se chama soft skills. É isso mesmo que procuram por exemplo a Sonae Sierra ou a Repsol Portugal quando recrutam candidatos, com ou sem experiência profissional.
Para lá das competências técnicas e da experiência, olham para o lado B dos candidatos, para aquilo que os move: o associativismo, as viagens que fizeram, o voluntariado, etc. “Procuramos pessoas assertivas, com capacidade de arriscar, resilientes, que saibam cooperar, com vontade de aprender e espírito crítico”, diz Ana Cruz, coordenadora de recrutamento, selecção e gestão de talento da Sonae Sierra.
“Os que não tiveram esse tipo de experiências estão na estaca zero – e nesse caso é preciso perceber porque não as tiveram.” Também a Repsol Portugal dá destaque aos “comportamentos, valores e iniciativas”, segundo evidencia a directora de Pessoas e Organização, Manuela Pinto.
Uma experiência diferente porém não vale por si – tudo depende de quem a viveu e do que retira dela. É isto que leva Patrícia Pita a avisar que um gap year pode ser bom ou mau para o currículo.
“Depende das escolhas que forem feitas nesse ano. Se fizer um ano de pausa, mas este não for planeado e não houver aquisição de conhecimentos, não é valorizado. Mas se for um ano bem aproveitado, a adquirir novas competências, pode ter um enorme valor.”
Neste universo de escolhas e possibilidades, não existe certo ou errado. Tudo depende da forma como cada um aproveita as oportunidades que lhe vão surgindo. Em boa parte das vezes, o maior obstáculo neste caminho depois da licenciatura está nos próprios recém-licenciados, defende Natália Silva: “Muitos acomodam-se a uma realidade que, não sendo cor-de-rosa, a torna ainda mais cinzenta.”
É preciso, pois, outra atitude perante as coisas, sem medo de ir tentando percorrer o seu caminho – e com a consciência de que, quando não se vai no sentido certo, há sempre a possibilidade de “alterar o sentido da marcha”.