Erica Fontes. “Por mera brincadeira resolvi inscrever-me num filme porno”


Erica Fontes combina encontrar-se connosco na Costa da Caparica, em frente ao restaurante Barbas, perto do café onde estava quando viu um anúncio que procurava actores para filmes para adultos. Se não tivesse respondido, hoje provavelmente seria “esteticista” em vez de porn star, diz-nos. “Sempre gostei de estética e massagens.” Encontramo-nos em frente ao Barbas,…


Erica Fontes combina encontrar-se connosco na Costa da Caparica, em frente ao restaurante Barbas, perto do café onde estava quando viu um anúncio que procurava actores para filmes para adultos. Se não tivesse respondido, hoje provavelmente seria “esteticista” em vez de porn star, diz-nos. “Sempre gostei de estética e massagens.”

Encontramo-nos em frente ao Barbas, mas nem sequer chegamos a entrar no restaurante. Erica prefere sentar-se num banco com vista para o mar, ao lado do namorado, Ângelo Ferro, também actor porno e defesa esquerdo de um clube de futebol dos distritais de Setúbal.

“É um bulldogue não é?”, pergunta Ângelo, enquanto aponta para um cão que entretanto aparece. “Temos dois bulldogues”, explica – um deles chama-se Hulk, uma homenagem ao antigo jogador do Porto. E durante o resto da entrevista não diz mais nada.

Foi ali “muito perto” que, em Maio de 2009, o casal viu num jornal um anúncio da Hotgold, uma produtora que se estava a lançar na indústria de filmes para adultos e que procurava actores. “Vi que era a primeira produtora portuguesa e por mera brincadeira resolvemos inscrever-nos”, conta a actriz. “Foi uma brincadeira que depois se tornou uma coisa mais séria…”

O casal decidiu enviar algumas fotos de cara e corpo inteiro “para ver o que acontecia” e uma hora depois recebia uma chamada da produtora e um convite para gravar uma cena num consultório de dentista em Lisboa. Rápido.

LARRY FLINT PORTUGUÊS Erica foi a rapariga mais nova que se inscreveu na Hotgold. “Tinha feito 18 anos há uma ou duas semanas”, recorda. Na altura, o i entrevistou-a por telefone com as recomendações do realizador, que queria ser o “Larry Flint português”: “Não falar sobre namorados, dinheiro e família.”

Agora, com 22 anos, acaba de lançar um livro, “De Corpo e Alma”, onde fala de tudo o que se possa imaginar. Do trabalho “na indústria”, como lhe costuma chamar, de dinheiro – “as pessoas pensam que sim, mas não entrei na indústria por dinheiro, acabei por me apaixonar” -, da reacção da família quando descobriu a sua profissão – silêncio total – e de como conheceu Ângelo – no Hi5.

O livro serve de desculpa para evitar muitas perguntas às quais a actriz não quer responder. “Falo disso em exclusivo no livro” ou “as pessoas vão descobrir isso no livro” são frases comuns durante a nossa conversa. Não há problema, Erica nunca gostou muito de ser entrevistada.

ÓSCAR DA PORNOGRAFIA No início do ano, quando ganhou o prémio XBIZ de Melhor Actriz Internacional, uma espécie de Óscar da pornografia, chegou a cobrar por entrevistas. “Quando recebi a notícia tive o Facebook cheio de pedidos, mas preferi só dar duas entrevistas a falar do prémio”, diz. “Dei ao programa do Alvim e ao Cinco Para A Meia Noite…”

Estava em Portugal quando recebeu a notícia do prémio e por isso nem sequer chegou a ir recebê-lo aos Estados Unidos, “com muita pena”. “Era impossível ir porque estava a trabalhar na Europa e já tinha uma viagem marcada para os Estados Unidos dali a pouco tempo”, conta. “Fiquei muito contente e fiquei a saber que tinha sido a primeira actriz da Península Ibérica a ganhar.”

Na mesma categoria estavam nomeadas outras nova actrizes, “francesas, húngaras, checas, todas com mais anos de carreira”.

Se antes do prémio Erica raras vezes trabalhava em Portugal, agora menos ainda. “Esse sempre foi o meu objectivo, trabalhar fora”, explica. “Qualquer actor tem esse objectivo de chegar mais longe e mais longe na indústria é os Estados Unidos.”

100 PARCEIROS Na verdade, Erica Fontes e Ângelo Ferro não se chamam assim. “São nomes artísticos, mas agora quase toda a gente nos trata por Ângelo e Erica. No livro explico o porquê de me chamar assim.”

Ora bem, não é preciso procurar muito, a resposta está na página 6: “Sempre gostei de Erica, mas não sabia que apelido escolher. Mas ontem no centro, na Praça da Alegria, enquanto estacionava o carro, estávamos a falar sobre os nomes e eu olhei para o jardim e disse: Fontes!” Mistério resolvido.

No livro também acaba com alguns mitos da pornografia, uma indústria “muito competitiva”, onde existem actrizes que chegam ao set para gravar uma cena conjunta e “nem sequer dizem bom dia”. Outra questão é o número de parceiros sexuais. “As pessoas vêem que fiz 100 filmes e por isso pensam que tive 100 parceiros. Mas isso não é verdade.” Pelas suas contas, e até porque há muitas mais mulheres do que homens “na indústria”, foram 17.

Logo no início da carreira, depois de participar no Salão Erótico de Lisboa, em 2009, as pessoas começaram a reconhecê-la na rua. “Nunca tive nenhuma abordagem embaraçosa”, conta, apesar de no livro relatar um episódio em que uma mulher lhe pede para ter sexo com um homem numa cadeira de rodas. “Até há pessoas de idade que nos reconhecem e vêm ter connosco e dar os parabéns.”