Artista Manuela Marques prepara novas exposições em França e Portugal


A fotógrafa portuguesa Manuela Marques, vencedora do Prémio BESphoto em 2011, a principal distinção portuguesa de fotografia, vai ter carta branca para a programação do Museu de Lodève, no sul de França, durante os próximos dois anos. “Propuseram-me uma espécie de “encomenda-residência” a partir das coleções do museu”, que vai fechar para obras, explica a…


A fotógrafa portuguesa Manuela Marques, vencedora do Prémio BESphoto em 2011, a principal distinção portuguesa de fotografia, vai ter carta branca para a programação do Museu de Lodève, no sul de França, durante os próximos dois anos.

“Propuseram-me uma espécie de “encomenda-residência” a partir das coleções do museu”, que vai fechar para obras, explica a artista à Lusa, durante a visita à exposição “La taille de ce vent est un triangle dans l”eau” (“O tamanho do vento é um triângulo na água”), que tem patente na Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris.

Em Lodève, “haverá talvez uma exposição por ano e uma grande exposição quando da reabertura”. “Vou ter carta branca para fazer um trabalho sobre o museu ou sobre as obras que não verei. É uma coisa que me faz fantasiar”, explicou Manuela Marques.

A exposição da artista, na Gulbenkian, em Paris, encerra a 26 de julho, seguindo depois para o Centre Régional de la Photographie du Nord-Pas-de-Calais, em Douchy les Mines, no norte de França, onde ficará de 06 de dezembro a 15 de fevereiro de 2015, enquanto outras obras da artista podem ser vistas numa exposição coletiva no teatro “Le Granit”, em Belfort, no noroeste do país, de 21 de setembro a 17 de dezembro deste ano.

De 25 de maio a 16 de junho do próximo ano, será a vez de Portugal contar com uma exposição da fotógrafa, no Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, onde Manuela Marques deverá voltar a integrar espaço e fotografias, num conceito de obra de arte total, como fez na Gulbenkian de Paris.

“Neste espaço, há três portas, mas fechei duas para ter apenas uma porta de acesso à exposição. As pessoas são um pouco obrigadas a percorrer um circuito que foi decidido antes. Nas duas primeiras salas, há uma reflexão sobre o que pode ser uma “vanitas” contemporânea”, descreve a artista, especificando que, só depois de o público se aperceber que “o real é qualquer coisa que foge”, se passa a “um outro olhar sobre a realidade”.

Por isso, há fotografias de mãos que tentam agarrar coisas que se destroem quando agarradas, um bloco de madeira centenário coberto com grãos, ou um homem com uma bola de sabão que o submerge, “onde se lê paisagem invertida como uma perspetiva invertida do real”.

“Este jovem está a fazer uma enorme bola de sabão que o engole quase totalmente. É uma imagem do real, mas dialoga com três imagens que são mais abstratas, como que tiradas da bola do sabão. Ou seja, é como se estivéssemos dentro da bola de sabão, é como tirar do real a substância de outra coisa”, explica Manuela Marques, na visita à exposição comissariada pelo português Sérgio Mah.

Pensar a perceção do real é a base do trabalho da fotógrafa, o que explica o enigmático título da exposição parisiense “O tamanho deste vento é um triângulo na água”, um verso de Fiama Hasse Pais Brandão, que traduz “a tentativa de medir o que não se pode medir” e “como é que a fotografia pode representar o real, se o real é uma coisa totalmente fugidia”.

“Tal como a muitos artistas, a mim interessa-me não atribuir à máquina fotográfica o dever de representação. Para mim, a máquina fotográfica é um meio, um transporte para qualquer coisa, e não tem a finalidade de representar o mundo”, continua.

A exposição na delegação francesa da Fundação Calouste Gulbenkian – inaugurada a 30 de abril, com cerca de 30 obras de diferentes períodos – reflete também a importância da história da arte na obra da fotógrafa, com a escultura presente nas imagens de pedras e o conceito da instalação a dominar a fotografia de uma árvore que brota sacos de plástico azuis.

A exposição evoca, ainda, a vídeoarte, com um filme projetado no teto de uma sala, o cinema, com várias sequências fotográficas, a pintura, com a assumida influência do pintor maneirista El Greco, a própria fotografia, com o questionamento permanente do real (à imagem da fotógrafa francesa Claude Cahun), e a música, com a assumida inspiração do compositor de jazz experimental Sun Ra.

Manuela Marques nasceu em Portugal, em 1959, vive e trabalha na capital francesa, e é representada pelas galerias Caroline Pagès, em Lisboa, Anne Barrault, em Paris, e Vermelho, em São Paulo.

*Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico