Desde que a crise no Governo eclodiu, o telemóvel de Passos Coelho não pára de tocar e o ex-líder do PSD tem atendido. A resposta é: nunca avançará contra Montenegro. Fonte próxima de Passos também já garantiu que este «está completamente fora», o que significa que, pelo menos oficialmente, não há outra pessoa dentro do partido para ir a votos que não o atual primeiro-ministro.
Está afastada, para já, uma crise interna no seio do PSD. Se mais nenhuma suspeita ou polémica se levantar contra Montenegro, os sociais-democratas não vão deixar cair o líder. Na véspera do debate da moção de censura do PCP – que acabou rejeitada, com os votos contra do PSD, CDS-PP e IL – o secretário-geral do PSD, Hugo Soares, já tinha assegurado que o único candidato possível, na eventualidade de eleições antecipadas, será Luís Montenegro.
Quatro nomes para substituir Montenegro
Ao que o Nascer do SOL conseguiu apurar, várias personalidades do PSD tentaram convencer Marcelo a escolher um substituto para Montenegro, em vez de optar por convocar eleições antecipadas, mas o Presidente terá recusado.
Em cima da mesa estavam quatro nomes sonantes: o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, o ex-líder do PSD, Pedro Passos Coelho e o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar Branco.
A proposta não terá sido suficientemente aliciante para Marcelo, que já admitiu marcar eleições legislativas antecipadas para 11 ou 18 de maio, caso a moção de confiança contra o Governo seja chumbada.
Com a aprovação do texto da moção de confiança – confirmada por via eletrónica esta quinta-feira de manhã –, e a sua discussão na próxima terça-feira, a queda do Governo é praticamente certa. Além do Chega e do PS, que já tinham anunciado votar contra a moção, os outros partidos que votaram a favor da moção de censura – PCP, Bloco de Esquerda, Livre e PAN – também vão no mesmo sentido. É necessária apenas uma maioria simples para chumbar esta moção, o que significa que apenas com os votos dos principais partidos da oposição – PS_e Chega – o chumbo estava garantido.
Assim, tudo aponta para que o Parlamento seja dissolvido, pela terceira vez em quatro anos, e rápido. O chefe de Estado afirma que é importante que a incerteza política seja «reduzida ao mínimo» e que as eleições autárquicas e presidenciais decorram «em normalidade».
Acrescenta ainda que é fundamental que «a economia, a sociedade e a vida das pessoas continuem», num período que não será «mais longo do que dois meses».
Passos Coelho em cenário pós-eleitoral?
Algumas fontes do PSD_admitem um possível cenário pós-eleitoral, com Passos Coelho a entrar em cena.
Ganhando o PSD ou o PS nas urnas, há a grande possibilidade de haver uma maioria de direita e, nesse caso, algumas pessoas do PSD_admitem o afastamento de Montenegro, para dar a vez a Passos Coelho, o único capaz de fazer pontes mais à direita e com o Chega.
Esta hipótese tem sido falada dentro do partido, embora Passos Coelho já tenha recusado governar sem ter sido eleito nas urnas.
Governo insiste em pôr a culpa na oposição
Com Passos ou sem Passos, o que se sabe é que há muitos descontentes no partido, desagradados pela forma como Montenegro se deixou envolver na crise provocada pela sua empresa familiar. Do lado do Governo, o plano é insistir no discurso de que esta crise e consequente queda do Governo foi causada pela oposição. Mantém-se firme a narrativa de que o Governo não cai por culpa própria, apostando na teses de que o eleitorado castiga quem provoca crises. Excesso de confiança, dizem os mais críticos dentro do PSD, que não acreditam que a vida vá estar facilitada para a AD nos próximos tempos.
Ao que apurou o Nascer do SOL, entre alguns deputados sociais-democratas não ficaram agradados com o facto de a direção do grupo parlamentar não ter convocado uma reunião com a bancada nem antes, nem depois da moção de censura apresentada pelo PCP. Só na tarde desta quinta feira é que os deputados foram convocados para uma reunião à noite.
Montenegro fez curso que requer ‘inglês fluente’ sem cumprir esse requisito?
O nível de inglês do primeiro-ministro não tem sido falado pelos melhores motivos. Basta recordar o discurso de abertura de Luís Montenegro, feito em inglês, na cerimónia de abertura da Web Summit 2024. A sua despreparação gerou uma onda de comentários e críticas nas redes sociais. Alguns chegaram a recomendar umas «aulas de inglês» ao primeiro-ministro, dada a fraca prestação neste idioma.
Mas o tema ganha outros contornos se pararmos para analisar o currículo de Montenegro, onde consta ter concluído um programa avançado de gestão no Instituto Europeu de Administração de Empresas (INSEAD). Um dos requisitos para admissão nos programas do INSEAD é exatamente ter um ‘inglês fluente’, o que deixa algumas questões quanto ao preenchimento dos critérios de admissão pelo primeiro-ministro.
O assunto já tinha sido levantado na crónica de Eduardo Baptista Correia, publicado neste jornal no passado dia 21 de fevereiro. «Gostaria de ouvir da parte de Montenegro uma explicação para que este dilema e incongruência (relevante) ficasse claro para todos», remata o CEO do Taguspark e professor universitário.