Confesso que a primeira vez que ouvi falar da empresa de Luís Montenegro não lhe atribuí qualquer importância.
Parecia apenas um caso fabricado para atingir o primeiro-ministro, daqueles que abrem os telejornais durante um dia ou dois e se esvaziam rapidamente.
Fiquei com a sensação de que os valores envolvidos não eram por aí além. E – que diabo – não era por ser político que Montenegro e a sua família tinham de estar impedidos de ter atividade empresarial.
Mas aos poucos e poucos as coisas foram-se revelando mais complexas. O primeiro-ministro manteve o silêncio e as dúvidas começaram a adensar-se.
Por que teimava em não revelar a lista dos clientes? Teria alguma coisa a esconder? Alguma coisa que lhe causava desconforto ou embaraço?
Na passada sexta-feira o Expresso noticiou que a tal empresa recebia uma avença mensal de 4.500 euros dos Casinos Solverde – um valor que já não me pareceu tão negligenciável quanto isso.
E só aí o primeiro-ministro se viu obrigado a vir prestar esclarecimentos ao país.
Se o caso é tão límpido como Montenegro diz, por que não esclareceu tudo antes? Por que só o fez quando se viu forçado?
Segunda dúvida: se Montenegro não fosse Montenegro, a Solverde e os outros continuariam a ser clientes da empresa? Fica sempre a sensação de que, em troca desta avença, pretendiam obter algum tipo de vantagem.
E, por fim, há uma agravante: talvez seja preconceito meu, mas não vejo um casino, que lucra com a desgraça alheia, como um negócio especialmente honorável.
Os políticos não têm de ser santos – nesse caso, em vez de irem para a política, teriam ido para o seminário ou para um mosteiro.
E, reconheça-se, o país não teria qualquer vantagem na queda do Governo e em ir para eleições novamente. Bem pelo contrário.
Mas não há outra maneira de dizer isto: Luís Montenegro pode ser a pessoa mais séria do mundo, mas é inevitável que a confiança dos portugueses nele tenha ficado abalada com a revelação destes negócios. A conduta do primeiro-ministro deveria ser irrepreensível. E neste caso não foi.