Lisboa e Porto permanecem como os casos mais bicudos na preparação das eleições autárquicas de setembro/outubro. A pouco e pouco os partidos vão fechando acordos de coligação e candidaturas autónomas às principais autarquias do país, mas as duas principais cidades permanecem com muitas questões em aberto, a poucos meses da ida às urnas.
Moedas em dificuldade para formar coligação
Confortável na posição de presidente da Câmara em exercício, Carlos Moedas tem repetido que não está preocupado em anunciar se é recandidato ao lugar, por estar concentrado em governar a cidade.
Numa eleição autárquica, o tempo joga a favor de quem está a governar e tem obra para mostrar, mas numa coligação que se quer manter e alargar, as grandes decisões não podem ser deixadas para a última hora e Moedas sabe disso.
Ao que sabe o Nascer do SOL, os últimos tempos não têm sido pacíficos no interior da coligação que governa Lisboa. Ao atraso no início de negociações que o CDS considera cruciais para decidir se fica fora ou dentro de um acordo como Moedas, veio juntar-se a acusação do processo Tutti Frutti, que retirou das conversas entre os dois partidos os principais protagonistas da estrutura local do PSD. «Na verdade, um dos problemas, é que ninguém sabe quem é o interlocutor do outro lado», diz-nos uma fonte centrista. Um dos problemas, ao que nos relatam, reside no facto de que o acordo vai muito para lá da lista de vereadores. «Há inúmeras escolhas que ultrapassam a lista de Moedas à Câmara. É preciso falar das listas às juntas de freguesia, são muitos candidatos que não passam pelas prioridades do candidato à Câmara».
Mas na base de um entendimento entre centristas e sociais-democratas vai estar a divisão de lugares elegíveis na lista de Carlos Moedas. Os centristas consideram que o anterior acordo, assinado por Francisco Rodrigues dos Santos, prejudicou o partido, já que a base de negociação deveria ter tido em conta os resultados das eleições de 2017. Nas últimas eleições antes da vitória de Moedas, Assunção Cristas candidatou-se à CML e conseguiu um resultado histórico: foi a segunda força mais votada, tendo elegido quatro vereadores. Em 2017, o PSD ficou atrás dos centristas e conseguiu eleger apenas dois vereadores.
São estes os argumentos que levam a nova direção de Nuno Melo a fazer finca pé na manutenção do acordo anterior, ou seja, na exigência de que o CDS deve manter, no mínimo, os mesmos três vereadores, em lugares elegíveis.
Uma fonte conhecedora do processo garantiu ao nosso jornal que em nenhuma circunstância o partido aceita diminuir a sua representação na coligação e, se Carlos Moedas o tentar impor, então o partido vai sozinho a eleições. «A vida do CDS_está muito mais facilitada, não temos nada a perder, por isso, se nos quiserem tirar um vereador vai haver guerra».
A questão de um ajustamento no peso do CDS_dentro da coligação que suporta o atual presidente da Câmara coloca-se, sobretudo, porque Carlos Moedas quer juntar a Iniciativa Liberal no apoio à sua candidatura. Nas últimas eleições, a IL acabou por ficar de fora, exatamente por não ter conseguido fazer vencer a sua pretensão de ter uma representação superior à dos centristas. O partido partiu para a negociação tendo como base o resultado das eleições legislativas anteriores que tinham deixado o CDS reduzido a quatro deputados. Em 2021, a pressão dos liberais não teve sucesso e o partido escolheu concorrer sozinho.
Lugares para a IL
Agora Carlos Moedas quererá um desfecho diferente, mas para isso tem que encontrar forma de oferecer à IL lugares na vereação. «Nada contra», diz o CDS, «mas a IL não entra à custa do CDS», garantem. «Esse é um problema que compete ao Dr. Moedas resolver», diz-nos a nossa fonte, que ao mesmo tempo avança que caso as coisas corram mal nesta negociação, o CDS já tem um plano B que passa por uma candidatura isolada para a qual já há nomes em mente.
Do outro lado, do lado da Iniciativa Liberal, a estratégia que se está a delinear, também parece não ser favorável aos planos de Carlos Moedas. Fonte do partido diz ao nosso jornal que a IL «está a trabalhar de forma avançada numa candidatura própria». Os liberais justificam a decisão com as consequências do processo Tutti Frutti, que deixou em maus lençóis os responsáveis pelas duas principais estruturas locais do PSD: Luís Newton, presidente da concelhia e Ângelo Pereira, presidente da distrital. Os liberais consideram que «o PSD tem um problema sério com as suas estruturas locais de Lisboa e, apesar de algumas tentativas, ainda não provou que consegue limpar a casa de vez». Por esta razão, diz-nos a mesma fonte, «a candidatura própria está a ser preparada a todo o vapor». Os liberais garantem que não houve conversas com Moedas até ao momento, e que «só para aceitar falar, o PSD tem mesmo de limpar a casa de vez».
Consciente de todas estas dificuldades, Moedas tem adiado a abertura de negociações com os possíveis parceiros de coligação. Decisões só mesmo em relação aos nomes que quererá colocar nas listas do lado PSD, onde, segundo noticiou o Observador esta semana, Gonçalo Reis, ex-presidente da RTP, terá um lugar de destaque, como número dois da lista de Moedas. Em suspenso está a posição que Filipe Anacoreta Correia irá ocupar e a que título, já que o CDS deixou claro que não indicará o nome do atual vice-presidente na quota dos centristas.
Direita a caminho de um entendimento no Porto
No Porto, à direita e à esquerda as coisas parecem cada vez mais encaminhadas. Manuel Pizarro é o candidato socialista já no terreno e à direita, depois de um primeiro momento em que parecia não haver entendimentos, agora, o caminho parece mais fácil para que AD e Liberais se entendam. Ao que apurou o Nascer do SOL, decorrem negociações entre a estrutura local da IL e do PSD, a fim de conseguir um acordo de coligação, que tem como principal objetivo «evitar a vitória de Manuel Pizarro».
Focado no objetivo de evitar entregar a câmara ao PS parece estar também o atual presidente da autarquia, que na passada semana deu um golpe fatal nas pretensões do seu número dois, Filipe Araújo. Rui Moreira deixou claro que uma eventual candidatura do seu vice, não poderia ser lançada debaixo do guarda chuva da Associação Porto o Nosso Movimento e essa circunstância deixa Filipe Araújo em dificuldade para encontrar suporte à sua candidatura.
É também por isto que Pedro Duarte e o PSD têm estado a adiar o anúncio formal do candidato à autarquia. A equipa de Luís Montenegro procura há meses um entendimento das principais forças à direita, procurando também incluir o apoio, nem que implícito do movimento de Rui Moreira, para tentar conquistar o Porto. Ao fim de meses de conversa, as coisas parecem agora estar a encaminhar-se.