Crédito à habitação: maiores subidas das prestações ocorreram em julho de 2023

Crédito à habitação: maiores subidas das prestações ocorreram em julho de 2023


De acordo com as simulações feitas para o Nascer do SOL, as prestações de crédito à habitação foram mais penalizadas em julho de 2023. Analista diz que tendência é para continuar a descer em março, mas mantém algumas reservas


O grande aumento das prestações a pagar ao banco do crédito à habitação foi sentido em maio de 2024 para quem contratou a taxa Euribor a três e a 12 meses. Já para quem tinha Euribor a seis meses, essa subida refletiu-se mais cedo, em julho de 2023. As contas são da plataforma ComparaJá.pt para o Nascer do SOL tendo em conta um crédito à habitação indexado à Euribor a 12, seis e três meses para um empréstimo de 175 mil euros a 30 anos com spread de 1%.

Vamos aos números. Para quem tinha um contrato indexado a três pagava em julho de 2022 cerca de 565,85 euros por mês ao banco, altura, em que o Banco Central Europeu (BCE) começou a subir as taxas de juro, pela primeira vez, em 11 anos. Tratou-se de um aumento em 50 pontos base, mas que ficou acima das expectativas do mercado. No entanto, o mesmo empréstimo um ano depois passou a pagar 904,64 euros, ou seja, uma subida de 338,82 mensais. Mas é preciso esperar quase um ano para se assistir a uma subida de 353,69 euros por mês face a julho de 2002, momento em que a prestação mensal passou para os 919,54 euros. Valores que começaram a descer com a queda de juros por parte do BCE, uma vez que em janeiro deste ano passaram a pagar 805,89 euros. Ainda assim, um aumento de 240,04 euros quando comparado com julho de 2022, mas uma redução na ordem dos 114 euros face a maio de 2024. De acordo com as simulações disponibilizadas ao nosso jornal em fevereiro, o montante a pagar irá voltar a cair para 786,81 euros por mês.

Já para quem contratou um empréstimo à habitação indexado à Euribor a seis meses com os mesmos montantes, se em julho de 2022 pagava 601,11 euros passou a pagar 933,24 no ano seguinte, o que representou uma subida de 332,13 euros. Valor que recuou em maio 2024 para 916,79 euros mensais, mas que foi mais acentuada em janeiro deste ano com a prestação a rondar os 797 euros por mês. Ainda assim, representa uma subida de quase 196 euros mensais quando comparado com julho de 2022.

O cenário de aumentos repete-se para quem optou pela Euribor a 12 meses. Para o mesmo montante pagava 646,13 euros em julho de 2022, a prestação subiu no ano seguinte para 955,44 euros – um aumento de quase 310 euros no espaço de um ano – acabando por recuar para 905,51 euros em maio de 2024 até baixar para 788,27 euros. É certo que apesar de ser um valor mais reduzido ainda representa uma subida de 142,14 euros quando comparado com julho de 2022.

Estas subidas refletem-se também para empréstimos com valor mais elevado. Para um capital em dívida de 250 mil euros, num prazo de 30 anos e um spread de 1%, se em julho de 2022 a prestação a pagar fixava-se em 808,35 euros com Euribor a três meses subiu em julho de 2023 para 1.292,39 euros, voltou a aumentar em maio 2024 para 1.313,63 euros até descer para 1.151,27 no arranque deste ano.

Também para quem tem crédito indexado à Euribor a seis meses esta valorização também se sentiu. Em julho de 2022, o valor a pagar ao banco rondava os 858 euros mensais, até subir para 1.333,21 euros no espaço de um ano. O aumento voltou a verifica-se em maio de 2024 para 1.309,70 euros até descer para 1.138,58 em janeiro. Já para quem contraiu a Euribor a 12 meses assistimos a aumentos na ordem dos 400 euros (ver simulações ao lado).

A plataforma chama ainda a atenção para o facto de a procura para a aquisição de crédito habitação estar a registar o maior aumento desde setembro. «Em janeiro, aquisição de novo crédito habitação para comprar casa representou 47,8% da procura total, um aumento de 8,8 pontos percentuais comparativamente a dezembro», diz ao nosso jornal, referindo ainda que o tipo de taxa de juro mais escolhido continua a ser a taxa mista, representando 84,8% dos contratos. Já a Euribor a 12 meses foi a mais contratada no mês de janeiro. «A Euribor a 12 meses representou 60,9% e a 6 meses representou 37,2% da taxa contratada nos créditos habitação feitos pelo ComparaJá», salienta.

O que esperar
Em janeiro, o BCE cortou a taxa diretora em 25 pontos base em janeiro, fixando-a em 2,75%, mas os olhos estão agora postos para o próximo mês. Segundo a presidente do Banco Central, Christine Lagarde, a decisão de março dependerá, em parte, da leitura da inflação a 3 de março. «A última leitura do Índice Harmonizado de Preços do Consumidor (IHPC) veio em linha com o esperado, mas a inflação subjacente superou as projeções em 10 pontos base. Embora as estimativas do BCE apontem para uma inflação a aproximar-se da meta de 2% este ano, persistem riscos tanto para os preços como para o crescimento, que continua fraco O BCE deve definir a política monetária considerando estas duas variáveis», diz ao Nascer do SOL, Henrique Valente, representante de contas da ActivTrades.

No entanto, o responsável admite que a inflação na zona euro tem mostrado sinais de abrandamento, aproximando-se progressivamente da meta de 2% prevista pelo Banco Central Europeu, ainda assim, lembra que «a inflação subjacente, que exclui energia e alimentos, mantém-se acima das projeções, refletindo pressões inflacionárias persistentes». E face a este cenário, apesar de reconhecer que há margem para novos cortes nas taxas defende que o organismo «deverá agir com prudência, acompanhando de perto os indicadore s económicos para evitar qualquer passo em falso».

Quanto ao impacto do lado dos consumidores admite que os cortes nas taxas de juro tendem a refletir-se na Euribor, mas reconhece que em termos de redução ao nível das prestações tem sido modesto. «Além dos juros, a prestação média também depende do preço das casas, que em Portugal têm subido quase ininterruptamente na última década. Assim, apesar da descida das taxas, a valorização dos imóveis pode resultar num capital em dívida maior, atenuando o efeito dos cortes nas prestações», salienta.