O processo Tutti Frutti continua a marcar a agenda do PSD, numa altura em que a direção vai ultimando o processo de escolha dos candidatos autárquicos para centenas de autarquias por todo o país. O facto de Luís Newton, presidente da concelhia de Lisboa, e Ângelo Pereira, presidente da distrital, se terem mantido nos cargos, apesar de estarem acusados no âmbito do processo Tutti Frutti, levantou dúvidas sobre as escolhas dos candidatos autárquicos na capital. Para evitar polémicas, a comissão política do partido, tomou a decisão de «avocar o processo de escolhas de todos os candidatos autárquicos no concelho de Lisboa, sendo que esta decisão foi tomada de acordo com as respetivas estruturas».A decisão não é de fácil aplicação, já que os estatutos do partido impedem que a direção possa avocar o processo de escolha dos candidatos. Essa é a razão pela qual o comunicado refere que a decisão foi tomada de acordo com as estruturas. De facto serão as estruturas, ou seja, Luís Newton e Ângelo Pereira, que farão a proposta dos candidatos, tendo-se os dois comprometido a propor os candidatos escolhidos pela direção.
Newton explica porque não se demite
Num artigo de opinião publicado esta quinta-feira no Diário de Notícias, Luís Newton explica que não se demitiu de presidente da Junta de Freguesia da Estrela a pedido de fregueses e do executivo a que preside e que, no caso da concelhia, não se demite para evitar um processo eleitoral interno, numa altura em que as estruturas devem estar concentradas na campanha de Carlos Moedas. Segundo o autarca e dirigente local do PSD, em caso de demissão da concelhia, os estatutos do partido obrigam a novas eleições, não permitem a substituição por um presidente interino. Se se demitisse agora, a concelhia de Lisboa teria que organizar eleições nos próximos meses.
Por esta razão, explica Luís Newton no artigo que publicou, «não serei eu, em vésperas de eleições autárquicas, a mergulhar o PSD numa eleição interna que iria desviar a atenção do trabalho de Carlos Moedas, certamente útil à sua oposição. Assim, depois de alguma reflexão, a solução encontrada foi a Nacional avocar o processo».
Moedas preocupado com escolha de candidatos
Depois de oito anos à espera de conclusões, a acusação do Ministério Púbico do processo Tutti Frutti não poderia ter chegado em pior hora para o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas.
A poucos meses das eleições autárquicas, Moedas ainda não anunciou a sua recandidatura ao município, mas esse é o segredo mais mal guardado da agenda autárquica do PSD. Enquanto mantém o tabu, o autarca social-democrata já trabalha nos bastidores na sua recandidatura e, ao contrário do que aconteceu há quatro anos, desta vez Carlos Moedas quer ter uma palavra a dizer sobre todas as escolhas, mesmo as que dizem respeito aos candidatos às Juntas de Freguesia, que formalmente são uma escolha partidária e não do candidato à Câmara.
Se por um lado, a decisão da direção do PSD de avocar as escolhas do partido em Lisboa resolve um problema a Moedas, as negociações com a Iniciativa Liberal, por outro lado o autarca já se tinha entendido com as estruturas sobre alguns nomes de candidatos e agora teme que todo o processo volte à estaca zero.
No último fim de semana o líder da IL, Rui Rocha, tinha apertado o cerco nas negociações com Moedas, garantindo que o partido nunca negociaria se houvesse candidatos acusados na justiça, ou mesmo, se fossem essas pessoas a tomar decisões sobre candidatos autárquicos na capital. Nesse sentido, a decisão da direção de Luís Montenegro veio facilitar o processo negocial.
O problema para o presidente da Câmara de Lisboa é, neste momento, ver o seu trabalho de escolha pessoal cair por terra, caso os dirigentes nacionais do PSD_queiram impor outros nomes. À partida não se esperam grandes desentendimentos, mas, ao que nos disse uma fonte autárquica, não é a mesma coisa negociar com estruturas locais ou com a direção nacional.
Luís Montenegro e Carlos Moedas têm relações cordiais, mas quem conhece bem a relação diz que nem sempre os dois estão em sintonia. Desde que o Governo tomou posse já houve críticas do autarca à ação governativa, sobretudo em matéria de segurança, um dos cavalos de batalha de Moedas.
«Montenegro está muito interessado na reeleição de Moedas, assim fica arrumado na Câmara de Lisboa que é onde prefere que ele esteja»,comentou ao nosso jornal um social-democrata.