O grande dia chegou! Há longos meses que a sucessão de Fernando Gomes como presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) está a agitar os bastidores do futebol português. Hoje, entre as 13h00 e as 19h00, realizam-se as eleições para escolher o futuro presidente da FPF, na Cidade do Futebol, em Oeiras. Os delegados com direito a voto vão escolher entre o presidente da Liga Portugal, Pedro Proença (Lista 1), e o presidente da Associação de Futebol de Lisboa, Nuno Lobo (Lista 2). Como seria de esperar, os dois candidatos apresentaram nomes de peso do futebol português para os diferentes Órgãos Sociais que constituem a FPF. Os candidatos fizeram campanha junto das associações e clubes, onde discutiram propostas estruturantes do futebol português, tais como o modelo de apoio às infraestruturas, a orgânica das associações e a sustentabilidade financeira do futebol, entre outros temas.
Nas eleições da FPF votam um total de 84 delegados. Sendo 29 por inerência das funções que exercem, e que incluem os 22 presidentes das associações regionais e distritais, bem como os líderes da LPFP e das estruturas representativas de treinadores (ANTF), árbitros (APAF), futebolistas (SJF), dirigentes, enfermeiros e massagistas e médicos. Além destes, há mais 55 delegados: 20 representantes dos clubes das competições profissionais, oito das provas não profissionais, sete das distritais, cinco dos jogadores profissionais, cinco dos amadores, cinco dos técnicos e cinco dos árbitros. Quem obtiver uma maioria simples de 43 delegados é eleito presidente da FPF para o quadriénio 2024-2028, e toma posse dia 18 de fevereiro, na Cidade do Futebol, em Oeiras.
Instituição centenária
A Federação Portuguesa de Futebol tem 111 anos de existência e é constituída pelos Órgãos Sociais, a quem compete prosseguir o objeto da FPF, bem como promover a ética desportiva e o combate à violência, dopagem e corrupção no desporto. Fazem parte dos Órgãos Sociais, a Assembleia Geral, o Presidente da FPF, a Direção, o Conselho Fiscal, o Conselho de Justiça, o Conselho de Disciplina e o Conselho de Arbitragem. Os três mandatos de Fernando Gomes foram, porventura, o período de ouro desta instituição. Nos últimos 13 anos, o futebol português conseguiu excelentes resultados desde os escalões de formação até à seleção A, com destaque para o triunfo no Euro 2016 e na Liga das Nações 2019. No futsal, Portugal teve momentos brilhantes com o título mundial e europeu, o mesmo acontecendo com o futebol de praia. O futebol feminino registou uma evolução significativa nos últimos anos.
O futuro presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) vai encontrar um organismo consolidado em termos financeiros e com um evidente crescimento do número de praticantes. De salientar que a federação é responsável pela organização da Taça de Portugal e por representar o futebol em todas as competições internacionais de seleções. No capítulo financeiro, Fernando Gomes termina o seu terceiro mandato com o maior volume de rendimentos de sempre. A Direção da FPF prevê um resultado líquido final de cerca de 8,3 milhões de euros, provenientes de rendimentos de 130,1 milhões de euros e gastos de 121,8 milhões. A nível desportivo, a temporada 2023/24 fechou com 242.973 inscritos federados e de recreação e lazer, o que represente um crescimento de 18.472 praticantes relativamente à época anterior, sendo que 9% desse acréscimo foi de atletas federados. O futebol masculino tinha, no final da época passada, 179.275 praticantes, o que representa um aumento de 6% em relação a 2022/23. Os números do futebol e futsal feminino têm enorme expressão, registando um crescimento superior a 22% no caso do futebol e de mais de 13% no futsal. Há, neste momento, 18.160 raparigas e mulheres a jogarem, ou seja, o número de praticantes femininas aumentou 19,6%. Percentualmente, o maior impacto verificou-se no Walking Football, uma modalidade que está claramente com uma tendência de crescimento e que passou dos 357 praticantes para 1.439 o ano passado, o que representa um aumento brutal de 303%. De salientar que existem atualmente 2.151 clubes filiados e 13.464 equipas, o que representa aumento de 7%.
Nuno Lobo: “Acredito que tenho a maioria dos votos”
Nuno Lobo assume o compromisso de criar uma federação para todos, caso vença as eleições na FPF.
Porque se candidatou?
Candidatei-me porque penso que posso acrescentar valor ao futebol nacional na sua vertente organizacional e desportiva. Temos um projeto que valoriza a FPF nos seus diversos domínios. Quero uma federação para todos. Sou um homem de compromisso. O que prometo cumpro e não fujo a meio de mandatos. Ser presidente da FPF é o que realmente me preenche e é aqui que quero estar nos próximos quatro, oito ou 12 anos. Das conversas que tenho vindo a manter com os delegados, na sua maior parte, a resposta é sempre muito satisfatória, quer quanto ao meu programa quer quanto à excelência da equipa que me acompanha nos diversos órgãos a que concorremos.
Como decorreu a campanha?
Foi uma campanha que serviu essencialmente para que pudesse explicar o meu programa e as medidas que preconizamos para valorizar o futebol português. Sempre numa lógica de grande proximidade com os clubes, as diversas associações de classe bem como com as associações distritais e regionais. Infelizmente houve um aspeto muito negativo que tenho de salientar. A falta de debate público com o outro adversário. Desde a primeira hora que Pedro Proença foge a um confronto de ideias. Acho que todos tínhamos a ganhar com essa discussão. Não consigo explicar qual a razão dessa falta de respeito por todo o colégio eleitoral, mas o que importa realçar é que sempre estive disponível para debater e esclarecer todos os públicos.
Considera que tem os votos necessários para ganhar?
Apesar de todos os condicionalismos que, infelizmente, foram acontecendo nestes últimos dias acredito que tenho a maioria dos votos dos delegados. Sei que vou ganhar!
Se for eleito, qual a primeira ação?
A primeira medida será contactar com todos os profissionais e colaboradores que integram a estrutura da FPF, na Cidade do Futebol. Quero conhecer todos e dar-lhes a saber o que pretendemos fazer nos primeiros 100 dias de governação. Uma gestão de grande proximidade com todos os clubes, bem como com todos os sócios ordinários desta casa. Depois, começar a desenvolver trabalho para darmos início a uma verdadeira descentralização dos serviços a norte do país, com a criação da futura Cidade do Futebol, que irá nascer no eixo Porto-Braga.
Quais são os principais pontos do seu programa?
É sabido que o desporto português tem evoluído bastante nos últimos anos, com conquistas internacionais em diversas modalidades. No entanto, ainda há desafios a serem superados para elevar o nível competitivo e fortalecer a cultura desportiva no país e que vêm plasmados no meu programa. Priorizamos diversos domínios que a meu ver são estruturantes para o desporto nacional e em particular para o futebol. Temas como o Financiamento e Investimento – prestando um maior apoio financeiro ao futebol amador e de base; Profissionalização das associações e dos vários agentes do futebol; aposta crescente na formação e deteção de jovens talentos; ao nível das infraestruturas, aposta na renovação e construção de equipamentos desportivos modernos; continuar a fomentar a promoção do desporto feminino, aumentando o número de atletas e reduzindo as desigualdades salariais e de visibilidade entre desporto masculino e feminino; e, por fim, o combate à corrupção, introduzindo um novo modelo regulador que permita mais transparência na gestão dos clubes bem como no combate a esquemas de corrupção e gestão fraudulenta.
Que imagem quer dar da FPF no futuro?
Uma instituição cada vez mais credível, sustentável e transparente, sem amarras de ninguém nem de interesses económicos associados. Quero uma federação para todos, que seja capaz de valorizar os atletas e o futebol. Uma federação que nos possa deixar orgulhosos. Temos um desígnio nacional que é a organização do Mundial 2030, momento marcante que irá reforçar o orgulho dos portugueses.
Pedro Proença: “Profissionalização absoluta da arbitragem”
Pedro Proença não quis responder às questões do Nascer do SOL sobre as eleições onde é candidato… Ainda assim, fica o registo das principais ideias que o antigo árbitro defende para o futebol português.
Pedro Proença concretiza o desejo de se candidatar à presidência da FPF, nem que para isso tenha de renunciar ao cargo de presidente da Liga Portugal, para o qual tinha sido eleito até junho de 2027. Sob o lema “Unir o Futebol”, o programa eleitoral defende uma federação de todos e para todos e uma nova era de Governação, verdadeiramente inclusiva. O antigo árbitro coloca grande empenho na profissionalização da arbitragem. «O mandato a que me candidato não terminará sem uma profissionalização absoluta do setor da arbitragem», disse Proença, na apresentação da sua candidatura. O candidato da Lista 1 pediu também um pacto entre clubes, atletas, árbitros e Estado no setor da Disciplina, e frisou: «Uma federação forte não se faz com uma arbitragem fraca ou uma disciplina incompreensível. Queremos reformar a Disciplina e a Justiça, tornando-a mais célere e mais eficaz». Pedro Proença pondera também a realização de competições organizadas pela FPF no estrangeiro, nomeadamente a Supertaça. O candidato defende uma maior sustentabilidade e mais justa distribuição de recursos por todos os agentes da comunidade do futebol. E num discurso para o exterior, afirmou: «Assumimos o compromisso de que todas as seleções nacionais de todas as modalidades do futebol competirão sempre com o objetivo de vencer».