À partida para o Mundial, a seleção portuguesa tinha como principal objetivo chegar aos quartos de final. Só que os “Heróis do Mar” quiseram mais e foram até ao último dia de prova, não estiveram na desejava final, mas lutaram pela medalha de bronze. Perderam frente à França, atual campeã europeia, pela diferença mínima (35-34), num jogo emocionante, decidido num pormenor; na última jogada o guarda-redes francês defendeu com a cabeça… um lance que podia dar o empate e levar o jogo para prolongamento. A seleção treinada por Paulo Pereira conseguiu algo que nunca tinha alcançado nas anteriores participações internacionais, vencendo seleções com mais tradição e experiência em fases finais. Saiu triste de Oslo porque é uma equipa ambiciosa e o quarto lugar soube a pouco.
A participação dos “Heróis do Mar” confirma o excelente trabalho que tem sido feito pelos clubes e federação portuguesa nos últimos cinco anos, com presenças constantes em Europeus e Mundiais e nos Jogos Olímpicos Tóquio 2021, mas que não tem a visibilidade que merece em Portugal.
Felizes com lágrimas No final da partida, o selecionador nacional estava triste com o resultado, mas extremamente feliz com os seus jogadores. “É duro. Mostrámos vontade de vencer e parece estranho ficar triste com o 4.º lugar num Campeonato do Mundo. É a vida, tenho tremendo orgulho nestes atletas. Já lhes disse que não sou quase nada sem eles e tento ajudá-los no que posso. Tem sido uma longa caminhada, chegámos aqui, até onde vamos não sei. Pelo que fizemos ao longo do Mundial, acho que poderia ser um bocadinho mais justo e merecíamos a medalha”, desabafou. Portugal esteve ao nível das grandes seleções do mundo, apesar de o investimento no desporto desde a base até ao topo ser completamente diferente, como referiu Paulo Pereira: “Estamos a lutar David contra Golias. Só um temperamento muito especial é que pode levar a este tipo de resultados e quando o temos, podemos mover montanhas, foi o que aconteceu neste Mundial. Acho, sinceramente, que chegámos ao Everest. Voltaremos lá, provavelmente de uma forma mais fácil”, frisou.
Portugal jogou sempre a um nível elevado, foi assim que venceu a Noruega, Espanha e Alemanha, e empatou com a Suécia. Depois do que se viu no Mundial, esta geração do andebol português tem muito para dar, até porque alguns dos melhores jogadores têm menos de 20 anos. A prova disso foi a eleição de Kiko Costa, de 19 anos, como o melhor jogador jovem do Mundial, “é bom, mas para mim era melhor a medalha de bronze. Queremos voltar a estar nestes patamares, sabemos que somos bons”, afirmou. O lateral direito foi também o melhor marcador de Portugal com 54 golos. Na All Star Team do Mundial aparecem mais dois portugueses, o defesa Martim Costa e o pivot Victor Iturriza.
Portugal fez um campeonato excecional até encontrar a tricampeã do mundo e campeã olímpica Dinamarca. A seleção nacional aguentou-se no primeiro tempo e foi para o intervalo a perder por quatro golos. As transições rapidíssimas dos dinamarqueses e o fantástico guarda-redes, Emil Nielsen, garantiram um triunfo folgado (40-27). Mas o caminho de Portugal não terminava aí. No domingo, tinha o jogo da atribuição da medalha de bronze com a França, que tinha sido surpreendida na meia-final pela Croácia. É o jogo que ninguém quer jogar, mas ainda assim Portugal foi brilhante na despedida do Mundial perante a atual campeã europeia, que já conquistou 12 medalhas em campeonatos do mundo, entre as quais seis de ouro. O histórico não era favorável, em oito jogos os franceses venceram cinco e os “Heróis do Mar” três.
Para a história No jogo mais importante da história do andebol português, a seleção nacional aguentou bem o embate com os franceses no primeiro tempo e foi para o intervalo a perder por dois golos. Não era um mau resultado, até porque não fez uma exibição brilhante. Na segunda parte, Portugal foi claramente melhor, melhorou nas transições e na eficácia do remate e passou para a frente do marcador, a motivação dos “Heróis do Mar” era evidente. Igualmente notável a forma como os portugueses lutaram, de igual para igual, com os franceses, que tiveram mais um dia de descanso antes deste jogo, o que numa competição tão intensa, com nove jogos de dois em dois, faz diferença.
Os últimos cinco minutos foram emocionantes com o jogo empatado por diversas vezes. A 30 segundo do fim, a França teve um livre de sete metros que concretizou, na resposta António Areia falhou o empate e os franceses festejaram como se tivessem sido campeões do mundo. “A derrota com a França não pode ser uma sensação de deceção, porque aquilo que fizemos foi brilhante. Para darmos o passo seguinte tínhamos que bater a campeã da Europa, mas era uma tarefa muito complicada”, afirmou o jogador, que esteve muito perto de empatar a partida no último segundo do jogo.
Martim Costa estava naturalmente desiludido com o resultado: “Estamos tristes, mas muito orgulhosos. Este resultado não apaga o que fizemos neste Mundial. O quarto lugar é surreal, se calhar o andebol não é sequer a terceira modalidade em Portugal”, fez questão de salientar. O internacional Salvador Salvador estava orgulhoso com o desempenho de seleção. “O mundo do desporto tem destas coisas. Pode dar coisas muito bonitas, mas também pode tirar muito. Tínhamos bola para empatar, criámos a situação, mas não foi possível. Este grupo merecia uma medalha”, afirmou o lateral português, que salientou: “Foi um grande jogo. Aquilo que programámos foi o que fizemos, mesmo com muitos jogadores, incluído eu, a dar as últimas. Fizemos das ‘tripas coração’, lutámos até ao fim e estou extremamente orgulhoso. Tenho a certeza que num futuro muito próximo vamos conseguir uma medalha”.
Sem surpresa, a Dinamarca venceu a Croácia (32-26) e conquistou o quarto título mundial consecutivo, feito único na história do andebol. A equipa nórdica leva 37 jogos consecutivos sem perder em Mundiais, empatou apenas dois, o que mostra bem a tarefa (quase) impossível que aguarda os seus adversários. Algum dia vão perder, não se sabe é quando… Os dinamarqueses colecionaram também vários títulos individuais; Mathias Gidsel foi eleito o melhor jogador e marcador do torneio com 74 golos – é a segunda vez consecutiva que consegue este feito – Emil Nielsen, o melhor guarda-redes, e Simon Pytlick, o melhor lateral-esquerdo.