Caso Hernâni Dias preocupa Governo que quer cuidados redobrados

Caso Hernâni Dias preocupa Governo que quer cuidados redobrados


Por mais fiscalizações que se façam é impossível evitar todos os casos. É a opinião do Governo que mesmo assim reforçou o aviso para que tudo seja feito para que as demissões não se tornem regra no Executivo.


Foi a primeira baixa do Governo, mas serviu para deixar o Executivo apreensivo com o aparecimento de novos casos. A demissão de Hernâni Silva tornou-se inevitável, a partir do momento, em que na sexta-feira a RTP revelava que o secretário de Estado da Administração Local e do Ordenamento do Território tinha aberto duas empresas imobiliárias já depois de ter integrado o Governo e que uma tinha sido criada poucos dias antes da apresentação da nova lei dos solos no Parlamento. Uma semana antes, a televisão pública já tinha dado conta de uma investigação ao mesmo secretário de Estado pela Procuradoria Europeia referente aos tempos em que era presidente da Câmara de Bragança.

Fonte ligada ao Governo revelava no início da semana ao Nascer do SOL que o Executivo ainda estava a avaliar se o caso era suficiente para justificar uma demissão. O facto de haverem outros casos a agitar a opinião pública – o ‘malagate’ a envolver o deputado do Chega Miguel Arruda e o caso dos despedimentos no Bloco de Esquerda – deu uma primeira esperança ao Governo de que o caso pudesse passar despercebido. Mas foi sol de pouca dura, vinte e quatro horas depois a demissão era inevitável e veio a confirmar-se após poucas horas, através de um comunicado do gabinete do primeiro-ministro onde se lia: «O primeiro-ministro expressa reconhecimento ao Dr. Hernâni Dias pelo empenho na concretização do Programa do Governo em áreas de particular importância, e sublinha o desprendimento subjacente à decisão pessoal tomada».

Novos casos e casinhos são para evitar a todo o custo

«É impossível garantir que novos casos não vão acontecer», é o comentário realista de uma fonte do Governo, que afasta a hipótese de uma nova radiografia aos membros do Executivo. «Não é por aí que lá vamos», diz, mas, depois deste caso e do caso do diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Gandra d’Almeida, «o aviso está dado, o escrutínio é total». Os factos que vieram a público sobre Hernâni Dias, agitaram o fantasma do desgaste rápido a que foi sujeito o último Governo de António Costa. Assim que se soube do caso, várias vozes de dentro e de fora do partido lembraram as posições assumidas por Luís Montenegro quando ainda era líder da oposição. No próprio dia em que António Costa anunciou a demissão, na sequência da abertura na justiça do caso Influencer, o agora primeiro-ministro fez questão de lembrar que «este Governo ruiu por dentro», numa referência aos inúmeros casos que levaram 14 demissões no Governo, a última das quais tinha acabado de acontecer e que era a do próprio primeiro-ministro.

É deste pesadelo que o atual chefe do Governo quer fugir e isso passa por um cuidado redobrado nas escolhas que quer para membros do Governo  – o nome que vai substituir Hernâni Dias será anunciado em breve –, quer quanto à escolha de nomes para lugares de nomeação direta dos ministros.

A mensagem tem sido passada para baixo insistentemente e os cuidados, ao que nos dizem, redobraram. E com este novo grau de exigência avolumam-se os receios, «com os critérios exigidos, quem é que quer aceitar funções públicas?».

Hernâni Dias vai ter de responder aos deputados

Apesar de ter apresentado a demissão, o ainda secretário de Estado – só deixa oficialmente funções, a partir do momento em que for exonerado pelo Presidente da República – não escapa a ter de ir ao Parlamento para prestar esclarecimentos. O Bloco de Esquerda e o Chega já formalizaram o pedido de audição a Hernâni Dias. Assim que o caso veio a público, os dois partidos foram os primeiros a reagir. Este caso surgiu num timing ideal para afastar os holofotes de casos que têm gerado grande mal estar e desgaste à esquerda e à direita. André Ventura chegou mesmo a comparar a sua atuação no caso de Miguel Arruda, com a ausência de reação do Governo na polémica do secretário de Estado. Declarações que foram lidas com ironia do lado da maioria, «está a tentar limpar-se de um caso que é uma desgraça para o Chega».