Eleições primárias no PS


A Constituição atribui aos partidos políticos o monopólio da apresentação de candidaturas a Deputados. Já a candidatura a Presidente da República beneficia de um regime constitucional de mercado aberto.


A prática das candidaturas presidenciais vencedoras tem variado entre o modelo gaullista (“la rencontre d’un homme et d’un peuple”, mantendo-se até hoje a misoginia do inquilinato de Belém), em chave apartidária, presente na eleição de Eanes para o primeiro mandato, e o modelo partidário, com o candidato, proveniente de e apoiado por um determinado partido, a ser eleito Presidente. A segunda modalidade tem, no caso do PS, matizes, com Soares a ser eleito com  oposição interna, que preferia Zenha, mas também com uma candidatura, a de Sampaio, de combate à liderança partidária coeva, aceite por esta à arreganha dentes. Na esfera do PSD algo de semelhante aconteceu com dois Presidentes: Cavaco identificou-se plenamente com o partido, já Marcelo quis ter uma candidatura não partidária, dispensando campanha e apoios, convertendo, cabalisticamente, a residência televisiva em votos.

Feitas as contas a cinco Presidentes, só dois quiseram afastar a candidatura sancionada pelo partido, tendo quatro deles um passado de activíssima praxis partidária. Criou-se assim, para os dois maiores partidos, um fetichismo da candidatura presidencial como candidatura independente, na forma, da vontade do partido. Em 2026 o fetichismo vai ser posto à prova pela existência de um candidato sem filiação partidária.

Face ao actual pudor do PSD e do PS na escolha de um candidato oficial, recorre-se ao método de Emídio Rangel para venda de sabonetes e políticos: exposição em montra televisiva e sondagens, mais ou menos amigas deste e daquele proto-candidato. A escolha dos nomes a incluir nas sondagens condiciona sobremaneira o resultado das mesmas (absens haeres non erit), como condiciona a memória dos “sondados”: se o proto-candidato não foi recentemente exposto na montra televisiva, os “sondados” não o irão escolher.

De acordo com as sondagens, a liderança dos proto-candidatos está atribuída, por larga margem, a alguém que, não obstante ignorarmos o respectivo pensamento político, é situado, pela communis opinio do comentariado, à direita. Esta localização diminui drasticamente o número dos candidatos a serem imolados para salvar a honra do convento do PSD, não passando à segunda volta das presidenciais.

No campo oposto, a esquerda, fiel à tradição, promove o milagre da multiplicação das candidaturas. O PS, dando mais uma vez prova de esquerdismo, anunciou, pela voz do Secretário Geral, vários candidatos. Percebe-se que o anterior SG do PS também tem vários candidatos, um preferido, que já tinha proposto para Primeiro Ministro substituto, e outro, detestado, que já derrotou, no passado, em eleições primárias para a escolha do SG. Se houver mais do que um candidato a disputar o eleitorado do PS, ambos correm o sério risco de não chegar à segunda volta. Admitindo que não haverá um neo-sampaista que salte a trincheira e se auto-proponha, sobraria a decisão administrativa do SG do PS. A decisão deveria ser informada pela capacidade de ganhar votos ao centro, confiando na sensatez da esquerda para votar, na segunda volta, no candidato que não é de direita.

Para aliviar o SG do PS do peso da decisão poderia ser retomada a salutar prática que fez eleger o seu predecessor: escolha a partir de vários candidatos, com o colégio eleitoral aberto aos militantes do PS e a todos os que declarem querer participar no processo de escolha. Nada na Constituição nem na lei obsta à realização de eleições primárias para a escolha de candidatos à Presidência da República.

Eleições primárias no PS


A Constituição atribui aos partidos políticos o monopólio da apresentação de candidaturas a Deputados. Já a candidatura a Presidente da República beneficia de um regime constitucional de mercado aberto.


A prática das candidaturas presidenciais vencedoras tem variado entre o modelo gaullista (“la rencontre d’un homme et d’un peuple”, mantendo-se até hoje a misoginia do inquilinato de Belém), em chave apartidária, presente na eleição de Eanes para o primeiro mandato, e o modelo partidário, com o candidato, proveniente de e apoiado por um determinado partido, a ser eleito Presidente. A segunda modalidade tem, no caso do PS, matizes, com Soares a ser eleito com  oposição interna, que preferia Zenha, mas também com uma candidatura, a de Sampaio, de combate à liderança partidária coeva, aceite por esta à arreganha dentes. Na esfera do PSD algo de semelhante aconteceu com dois Presidentes: Cavaco identificou-se plenamente com o partido, já Marcelo quis ter uma candidatura não partidária, dispensando campanha e apoios, convertendo, cabalisticamente, a residência televisiva em votos.

Feitas as contas a cinco Presidentes, só dois quiseram afastar a candidatura sancionada pelo partido, tendo quatro deles um passado de activíssima praxis partidária. Criou-se assim, para os dois maiores partidos, um fetichismo da candidatura presidencial como candidatura independente, na forma, da vontade do partido. Em 2026 o fetichismo vai ser posto à prova pela existência de um candidato sem filiação partidária.

Face ao actual pudor do PSD e do PS na escolha de um candidato oficial, recorre-se ao método de Emídio Rangel para venda de sabonetes e políticos: exposição em montra televisiva e sondagens, mais ou menos amigas deste e daquele proto-candidato. A escolha dos nomes a incluir nas sondagens condiciona sobremaneira o resultado das mesmas (absens haeres non erit), como condiciona a memória dos “sondados”: se o proto-candidato não foi recentemente exposto na montra televisiva, os “sondados” não o irão escolher.

De acordo com as sondagens, a liderança dos proto-candidatos está atribuída, por larga margem, a alguém que, não obstante ignorarmos o respectivo pensamento político, é situado, pela communis opinio do comentariado, à direita. Esta localização diminui drasticamente o número dos candidatos a serem imolados para salvar a honra do convento do PSD, não passando à segunda volta das presidenciais.

No campo oposto, a esquerda, fiel à tradição, promove o milagre da multiplicação das candidaturas. O PS, dando mais uma vez prova de esquerdismo, anunciou, pela voz do Secretário Geral, vários candidatos. Percebe-se que o anterior SG do PS também tem vários candidatos, um preferido, que já tinha proposto para Primeiro Ministro substituto, e outro, detestado, que já derrotou, no passado, em eleições primárias para a escolha do SG. Se houver mais do que um candidato a disputar o eleitorado do PS, ambos correm o sério risco de não chegar à segunda volta. Admitindo que não haverá um neo-sampaista que salte a trincheira e se auto-proponha, sobraria a decisão administrativa do SG do PS. A decisão deveria ser informada pela capacidade de ganhar votos ao centro, confiando na sensatez da esquerda para votar, na segunda volta, no candidato que não é de direita.

Para aliviar o SG do PS do peso da decisão poderia ser retomada a salutar prática que fez eleger o seu predecessor: escolha a partir de vários candidatos, com o colégio eleitoral aberto aos militantes do PS e a todos os que declarem querer participar no processo de escolha. Nada na Constituição nem na lei obsta à realização de eleições primárias para a escolha de candidatos à Presidência da República.