O alargamento passaria pela via da compra, desejada para a Gronelândia (como a Luisiana, comprada, em 1803, a França, e o Alasca adquirido, em 1867, à Rússia), da associação voluntária, sugerida ao Canadá, o “futuro 51º Estado, com Trudeau como Governador” (só 13 Estados ratificaram inicialmente a Constituição de 1787, os 47 restantes foram admitidos na União, num percurso começado em 1790 pelo Vermont e concluído em 1959 pelo Hawai) e da ocupação militar, pré-anunciada para o Canal do Panamá (num revivalismo da guerra Hispano-Americana de 1898, com os EUA, vitoriosos, a assegurarem a soberania sobre Porto Rico, Guam, Filipinas e Cuba). O “fazer a América grande, outra vez” é, literalmente, o repetir de práticas históricas de consolidação territorial, com recurso à doutrina Monroe (as Américas para os americanos) o que representa um contraponto importante ao anunciado isolacionismo, por parte da Administração Trump II, em matéria de actividade diplomática multilateral.
A ligação directa entre os Oceanos Atlântico e Pacífico foi sonhada desde que o continente americano foi “descoberto” pelos europeus. Vários tratados foram celebrados tendo por objecto a construção de um canal, não só no istmo do Panamá, mas também na Nicarágua. A primeira tentativa séria de construção de um canal resultou da concessão, atribuída em 1878, pela Colômbia à Compagnie Universelle du Canal Interocéanique de Panama, dirigida por Ferdinand de Lesseps, o construtor do canal do Suez. A falência da concessionária permitiu aos EUA, em 1903, celebrarem com a Colômbia um tratado tendo por objecto a compra da concessão, a vigorar por 100 anos, renováveis por opção dos EUA, com ocupação e controlo de uma zona de 5 km de largura em cada uma das margens do Canal. No mesmo ano, a presença da armada dos EUA serviu de garante à proclamação da independência do Panamá. Novo tratado, ainda em 1903, agora entre o Panamá e os EUA, atribuiu a estes o direito a construir e explorar o Canal, a título perpétuo. Em 1977, face à contestação da presença dos EUA na zona do Canal, foram celebrados os tratados Carter-Torrijos, um relativo à operação do Canal e outro relativo à sua neutralidade permanente. O primeiro terminou em 31 de Dezembro de 1999, pelo que, desde então, o Canal integra o território do Panamá e sua gestão é feita por este Estado. Já o tratado relativo à neutralidade do Canal garante a passagem dos navios de todas as nações. Se o Panamá ou os EUA se tornarem beligerantes o trânsito de navios de nações inimigas poderá ser recusado. Os EUA acrescentaram a este Tratado uma condição, aceite pelo Panamá aquando da ratificação, autorizando o exercício da força em defesa da neutralidade do Canal. Esta condição foi invocada, sem fundamento, pelos EUA, em 1989, aquando da invasão do Panamá para garantir a deposição de Noriega. Monroe anunciou, em 1823, o combate, nas Américas, ao colonialismo europeu, Trump anuncia agora o combate ao expansionismo económico chinês. Aplicada ao Canal do Panamá a doutrina trumpiana faz pouco sentido, pois o Canal aproveita a todo o comércio, independentemente da origem. A ameaça de Trump, dirigida à soberania do Panamá, está a unir contra Washington os Estados sul-americanos e poderá dar força a projectos alternativos, esses sim com apoio político-económico chinês: um novo canal na Nicarágua ou a ligação por caminho de ferro entre portos de águas profundas nas costas do Atlântico e do Pacífico (El Salvador-Honduras, Guatemala).