Já muito foi escrito sobre este terramoto eleitoral na América, mas convém realçar algumas circunstâncias.
A nomeação tardia de Kamala Harris e o estranho esconder de Biden pela sua idade, forma física e mental tiveram influência nas eleições. Por outro lado, a reeleição de senadores democratas em quatro estados importantes confirma a fraqueza de Kamala Harris, perante a marca Donald Trump.
Os candidatos do Partido Democrata ao Senado triunfaram em Wisconsin, Michigan, Nevada e Arizona, apesar do fracasso de Kamala nesses estados.
Donald Trump mete medo, a democracia está em jogo nos EUA. Os americanos não vão ter um país. Pode haver, eventualmente, uma 3.ª Guerra Mundial. Não há dúvidas que vai haver uma ditadura Donald Trump, pois, conseguiu um triplete – os poderes executivo, legislativo e judiciário terão o mesmo sinal, um trio completo, pelo menos, nos próximos dois anos.
Trump afirmou, antes do encontro com Biden, o seguinte aos congressistas republicanos: “suspeito que não concorrerei novamente a menos que vocês digam: isso é tão bom que temos que pensar noutra saída”.
Aparentemente brincou sobre uma questão muito séria.
Os limites de mandatos para presidentes, que a 22.ª Emenda da Constituição estabelece no máximo dois mandatos, mesmo que não sejam consecutivos, como neste caso. Trump às vezes gosta de flirtar com a ideia de concorrer a outro mandato.
A brincar vai dizendo o que lhe vai na alma, porém, se tiver oportunidade fá-lo-á sem tateias.
Não sei como é possível estar a nomear governantes se Donald Trump, ainda não tomou posse e precisam de serem rectificados pelo Senado, muitos deles não recomendáveis como: Pete Hegseth, apresentador da Fox, para chefiar o Pentágono; Tulsi Gabbard, admirador de Vladimir Putin, para os serviços de inteligência; Matt Gaetz, investigado por acusações sexuais, uso de drogas e apropriação de fundos, como procurador-geral; Robert F. Kennedy Jr., o anti-vacinas como secretário do Departamento de Saúde.
Um paradoxo da grande democracia americana, o actual vencedor terá todos os poderes nas suas mãos e evitará qualquer escrutínio, com excepção da opinião pública, mas a última salvaguarda da democracia é constituída pelos democratas, que reconheceram a derrota e vão facilitar a transição a quem os derrotou.
Trump quer saltar o controlo do Senado para as suas polémicas nomeações. Como o vai fazer? Trump se a Congresso aprovar uma suspensão de mais de 10 dias para executar o seu plano, mesmo que o Senado o rejeitasse. Nunca aconteceu até agora que o Congresso se declarasse em suspensão como plano expresso para abrir caminho aos nomes de um presidente. No fundo há uma conspiração contra a Constituição e coloca o Congresso contra o Senado.
Não há muitos mecanismos de contra-poder e isso é preocupante. Trump vai entrar a todo o gás e ninguém o vai parar.